Finalmente, o Campeonato Baiano de Corrida de Aventura
começou! Finalmente... nos dias 4 e 5 de agosto.
Formamos uma equipe de destreinados, porém, com o espírito
Aventureiros do Agreste mais forte do que nunca. Eu, Marcelo, Mauro e Gabi...
Cheios de vontade de passar a noite no mato para relembrar os velhos
tempos. Eu, particularmente, estava necessitada, desesperada! Precisando sumir do mundo sem avisar... Aliás, avisando. Pelo menos, avisando!
E, para a felicidade de todos e o bem geral da nação
aventureira, a prova era noturna! Massa! Viva a Carrasco!
No grande dia, logo de manhã, Mauro ligou avisando que
acabara de demitir a babá e teríamos que arrumar um atleta para correr no lugar
de Gabi. Eu, cá com meus botões, refletia sobre as nossas provas e lembrava
que sempre fora assim. Vixe Maria! Nossa Corrida de Aventura é a doidisse da nossa vida! São as
mil atividades, o stress do dia-a-dia, as crianças pra cuidar, a funcionária
que foi embora ou não apareceu, a escola pra pagar, as contas... todas as
contas, a manutenção do carro... E quem vai ficar com as crianças?? Bom! Depois de
mil ligações, viajamos para Feira sem um substituto para Gabi. Daríamos um
jeito!
As minhas crianças e o cachorro foram para a casa da minha
irmã, em Feira. Larguei todo mundo lá e fui pro mato me esconder e esquecer a
vida. Corrigindo, fui me encontrar no mato. Onde gosto de ir uma vez ao mês (ou mais).
A arrumação dos equipamentos aconteceu no meio das crianças
de Gabi e Mauro pra lá e pra cá. Felipe queria porque queria meu mucilon,
alegando que estava com fome. Depois achou meu Nescau. Ai.. ai! Será que esqueceram de dar comida pra Felipe ou ele sentiu fome porque viu as comidas??
Fomos para a largada para adiantar as coisas! Marcelo
brincava que estava cansado quando pedalávamos até o local, enquanto Mauro e
Gabi ficaram para resolver as pendências finais e levar as crianças para um lugar
seguro, RS!
O mapa estava ótimo! Percorreríamos o leste, o norte, o
oeste e o sul da cidade, numa volta em torno do anel rodoviário de Feira, por
trilhas. Uma largada dentro da cidade, em plena Avenida Getúlio Vargas, às 18:20h, em direção ao Povoado de São Roque.
Já preparados para uma prova light, contrariando o slogan da
prova (Carrasco Fast “Adrenalizado”), pedalamos num ritmo confortável,
respeitando quem estivesse mais lento. Só pra vocês terem uma ideia, Gabi não
pedalava havia um mês e ninguém estava preocupado com isso.
No caminho para São Roque (PC1) pegamos uma trilha para
cortar caminho que não adiantou absolutamente nada e nos colocou exatamente em última
posição logo no começo da prova.
Uma estradinha de terra nos levava até o PC2. Além de termos
caprichado na iluminação, a lua e uma fresquinha boa nos acompanharam por toda a noite. Já valeu todo o esforço que fizemos para chegar até
ali.
Não sei o que Mauro conseguiu fazer com a bicicleta! Tínhamos até ultrapassado algumas equipes quando paramos por causa do câmbio empenado. Tava tudo enganchado! Ninguém sabia onde terminava o câmbio e começava a
corrente. As roldanas também se misturaram. A gancheira nem se fala! Sorte que parou assim que travou tudo!
A bicicleta quebrada
foi razão para várias resenhas e risadas. Uma verdadeira cirurgia até darmos um
paliativo e retomarmos a prova. Ao som de uma reza alta pra Zé (meu anjo da guarda)
nos ajudar, Mauro desempenava a gancheira. As motos da organização
passaram, perguntando se precisávamos de ajuda... Não precisamos! Nós não
pararíamos, mesmo que estivesse tudo quebrado! Só imaginei que terminaríamos os
mais de 50km de Mountain Bike, empurrando bicicleta. Desculpem, mas passa longe
da minha cabeça a palavra desistir.
Estava amando aquilo ali! Até a bicicleta de rodas pra cima estava me
divertindo.
Mauroba que me perdoe, mas a bicicleta dele está um caos!
Tudo empenado, gente! Precisa se aposentar por tempo de serviço! Só que ele diz que está muito
satisfeito com o que tem e não vai trocar nada. Pior! Nem faz revisão
antes de correr.
Graças a Deus, deu tudo certo! Subimos uma ladeira bem
gostosa para chegar ao PC2. E, lá de cima, dava pra ver a cidade toda iluminada
para compensar o esforço. Depois descemos por um leve downhill entre eucaliptos
até o 3, onde deixamos as bicicletas e seguimos para a pista de orientação.
(Só pra vocês terem ideia da lerdeza, a gente atrasou tanto
que, quando chegamos ao PC2, a Makaíra estava passando por lá de trekking, já
voltando pro 5. E quando a gente chegou ao 5, eles já estavam no 12.)
Uma pista de orientação deliciosa nos esperava, dentro de um eucaliptal
com um cheirinho de desentupir nariz. Não tem rinite alérgica que resista aquele cheiro! (Adoro cheiro de eucalipto!) Mauro me entregou
o mapa, dizendo que eu fazia orientação melhor do que ele. Marcelo ficou
responsável por contar a distância e Gabi, por semear discórdia, RS! Foi muito
engraçado! Depois que encontramos o prisma F, começou a “briga”. Mauro mudou de ideia! Puxou
rudemente o mapa da minha mão, dizendo que estava muito lenta. Gabi disse que
era um absurdo eu o deixar fazer aquilo. Então tomei coragem pra tomar o mapa
da mão dele outra vez e saí rápido, navegando, RS! E a estória continuou até
encontrarmos os cinco prismas e voltarmos ao PC5 para pegar as bicicletas.
Que delícia de prova! Nunca curti tanto pegar as bicicletas
de volta. E olha que fazer trekking é comigo! Um percurso de mountain bike
fluido, tranquilo de pedalar, sem precisar descer da bike toda hora. Talvez
tenha subido alguma ladeira casca grossa, só que estava tão divertido que nem
percebia. A lua continuava ali, linda, clareando nossa noite esplêndida! E a
brisa no rosto!! Ah! Que coisa boa é fazer Corrida de Aventura! Não tem preço
passar a noite no mato, curtindo com os amigos!
Do PC5 até o PC10 foram mais de 30km por trilha. Gabi sentia
um pouco e nos revezamos em ajudá-la, carregando sua mochila e empurrando-a
sempre que dava. Além disso, estávamos sempre pertinho dela para não
desanimar. Marcelo estava virado na “zorra”! Pedalando na frente,
navegando por todo o trecho de bike. Aquele treino de duas semanas foram
importantíssimos na vida dele, RS!
Do PC10 até o 12, tivemos que passar pelo anel rodoviário.
Eu e Marcelo estávamos conferindo a distância para confirmar a entrada da trilha,
enquanto Mauro empurrava Gabi. Quando levantamos a cabeça, os dois já estavam
descendo o ladeirão para a BR116 no maior embalo. Não ouviram nossos gritos...
Ficamos os dois, ali, parados, com cara de “tacho”. Esperamos um tempão até
vermos os faroizinhos, voltando em nossa direção.
Que merda, heim?!! A entrada era aquela, estava à nossa frente!!
Deixamos as bikes no PC12 e descemos para o rio de trekking.
Ao invés de fazermos o tradicional "feijão com arroz" do mapa, tive a brilhante
ideia de pegar um atalho, me achando a esperteza em pessoa. Sim! Eu mesma!!! A
navegação seria perfeita se a gente tivesse de colete salva vidas para
atravessar o rio nadando. Chegamos exatamente onde queríamos! Só que era água
ou vegetação. A noite nos dava a desvantagem de enxergar poucos metros à frente.
Decidimos então voltar e consertar a porcaria que fizemos. Voltamos para a
trilha que todas as equipes fizeram, só que bem atrasadinhos, RS! Tanto que a
pessoa que estava no PC15 foi embora. Não tinha mais PC! E o sol já clareava o
dia!
Pegamos a trilha para o PC16 ao lado de um pescador que
informou, com cara de ironia, que as vacas passavam de um lado para o outro do
rio pelo junco e não afundavam. Pois é! Estávamos de frente para o PC, do outro
lado do rio e não atravessamos. Putz! Melhor não ficar perguntando
demais! Perdemos um tempão voltando
tudo!
Não entendi, logo de cara, porque os caiaques estavam na beira do rio, com
uma tábua ao lado. Depois de enterrar o pé na lama até os joelhos, entendi. O
barco ficou em cima da tábua e eu fiquei atolada, com um pé na tábua e outro
preso na lama. Uma verdadeira vaca atolada! E o maior problema quando essas coisas
acontecem é que ninguém resolve nada escorregando e rindo ao mesmo tempo. É
preciso concentração para tirar o pé da lama na Corrida de Aventura (e na vida!),
meus amigos! É preciso foco! Mas, uma câmera fotográfica seria muito bom
também!
Então entramos no barco e remamos até o outro lado do
rio para pegar comidinhas para uns 20km no rio e o equipamento de rappel pro
meio do caminho. Demorou uma vida pra esse povo pegar essas coisas... Não sei
como o pessoal da organização não perde a paciência com a gente! É muita calma
nessa hora!
Os aventureiros de
Feira são muito bem servidos no esporte! Além das trilhas iradas, o rio
Paraguaçu passa no quintal deles. Que lugar bacana para remar! Pegamos o PC17 e
estava tudo certo pra eu fazer a ascensão no PC18, até avistarmos aquela pedra
enorme. Enorme mesmo! Uma subida super técnica, aonde a pessoa ia ascendendo e
se esfregando nas pedras, se ralando nos cactos e se esbagaçando toda. Um
trabalho para Super Mauroba do Agreste! O “cara” em técnicas verticais! Euuuu!? Só
iria se não tivesse jeito!
Enquanto Mauro se acabava todo pra subir, prendemos os
caiaques a um tronco para um delicioso piquenique e um soninho gostoso. Só deu
certo o piquenique...
De volta aos barcos, concluímos nossa prova às 11 da manhã,
felizes, contentes, serelepes e com um despretensioso terceiro lugar.
Despretensioso mesmo! E muito legal! Depois de tudo de bom que vivemos naquela noite, subimos no pódium!
Desejo é que a Corrida de Aventura volte aos
velhos tempos e as pessoas não achem que precisam ser “super” para correr
uma prova. Já tivemos provas com mais de dez quartetos, além das duplas. Agora,
ao invés de crescer, estamos encolhendo. Quero acreditar que é uma pausa e vamos
crescer. Teremos provas para iniciantes para atrair a turma nova e a galera das
antigas que está meio sumida. Que venham todos os atletas e todas as provas!
Parabéns à Caatinga Trekkers, pela prova linda! Que bom que
não teve um tornozelo torcido para atrapalhar nosso encontro esse ano!
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