“Quero ganhar esta prova!”
Foi o que disse no dia anterior à última Etapa do Campeonato
Baiano de Orientação (CAMBO). Como faltei na penúltima e não tive bons resultados nas outras, não havia possibilidade
de disputar posição no ranking final com as outras atletas da categoria. O
primeiro lugar estava garantido, o segundo, o terceiro, rs! Então, achava que
poderia levar vantagem por correr despretensiosamente. Gosto de correr
despretensiosamente! Mas, não é só isso que faz a gente ganhar prova.
Foi uma luta convencer o namorado a competir! Acionei Mauro
para que formassem uma dupla, já que estava comprometida com a Carcará a
correr em minha categoria. Mesmo assim, a criatura insistia em não ir. Queria
pedalar, não, correr! Pensei que curtiria se embrenhar pelos matos, embora não
tivesse mais argumentos para convencê-lo. Enfim, só no sábado à noite, no
fechar do zíper da mochila, recebi um “Sim, eu vou!”. Uhuuuuuu!
Chegamos à casa de Mauro e Gabi, em Feira de Santana, lá
pelas 22h. Enquanto rolava um vinho, Vítor era apresentado ao mapa e à bússola,
fazendo um treinamento intensivo de navegação, rs! No calor da conversa, recebemos
a notícia de que ele correria sozinho, e não em dupla com Mauro. Vixe Maria! Mauro
é doido!
Percebia seu olhar atento, interessado e um tanto
preocupado. Até lembrei da minha primeira vez na Orientação. Cobras, lagartos e
aranhas não me preocupavam. Meu medo era de ficar perdida por muito tempo... Será
mesmo que tinha medo? Rs! Acho que sim!
Bem cedinho, depois do café da manhã, organizamos tudo e
seguimos, pedalando até o local da prova, num Distrito de São Gonçalo,
cidadezinha perto de Feira de Santana. Num asfalto sem acostamento,
cheio de motoristas malucos.
Meu amigo Mauroba vive dizendo que não treina mas, nunca o
vejo pedalando mal. Vítor está melhor a cada dia! Todo mundo “cobra criada”!
Num instante chegamos ao destino!
Aproveitamos o atraso da largada para dar mais umas dicas
ao nosso novato todo paramentado de uniforme emprestado da Aventureiros do Agreste. Como
uma apaixonada por aventura, sempre acho que não há possibilidade de uma pessoa
não gostar de uma farra dessas. Mesmo assim, confesso preocupação! Planejamos um resgate cautelar pós prova, caso algo desse errado.
“Então tá! Aquilo ali é um prisma! Tenha cuidado para não
marcar o prisma errado ou na sequência errada! Vou partir!”
Larguei no minuto 2, primeiro que todas a minhas
coleguinhas, rs!, com o objetivo de fazer o melhor e dar trabalho às meninas. O
mapa estava ótimo, aventura garantida! Do prisma 1 ao 4, não tive muita
dificuldade, embora já percebesse minha resistência à concentração. Daria
trabalho a mim mesma, isso sim, rs!
O cinco era o primeiro de uma série de prismas dentro do
eucaliptal. E, só pra vocês terem uma ideia, dentro de um eucaliptal tudinho é
igual! Ao norte tem eucalipto, ao sul, ao leste... e ao oeste também, rsrsrs!
Minha concentração para contar passos estava uma coisa doida! Segui pela
estrada reta, tentando manter a contagem e atacar o ponto certo. Bati azimute,
entrei no eucaliptal... Nada! Encontrei Dudu, me amigo da Kaaporas, que estava
procurando o mesmo prisma que eu. Decidi voltar ao ponto de ataque, contar
passo outra vez, bater azimute... Nada de prisma! E por aí, fui errando pelos
matos afora!
As atletas que estavam competindo comigo logo me alcançaram
e foram embora nem sei quando. Mesmo sabendo que a corrida só termina quando
acaba, percebi que a competição seria interna mesmo. Precisei me concentrar
para sair de lá, pegar os outros prismas e fazer o melhor que pudesse dentro da
minha limitação momentânea (Assim espero, rs!!). Prisma 5, ok!
O 6 ficava perto de um lago. Do eucalipto para a mata,
encontrei algumas trilhas. Não... Muitas trilhas! Diante delas, bastou me
localizar para seguir na direção correta. Ainda bem que tinha água mineral por ali! A boca tava seca!
O prisma 7 também ficava dentro do eucaliptal, que nem foi
tão ruim de achar... O 8 ficava numa moita coberta de vegetação. Coisa de gente
doida, ficar procurando prisma em moita! O prisma 9 também estava bem
tranquilo. Já o 10 não era tão bonzinho assim... Aquela impiedosa plantação de eucaliptos! E ainda empurrei meu namorado na “barca furada”! Rs!!
Esperava que não se machucasse muito!
Por falar nele, quando saio do prisma 10, quem encontro, descendo todo
animado pela estrada??? Vítor! Se achando O NAVEGADOR... Passou por mim
gritando: “Corre Lu!”. E sumiu, correndo pela estrada, rs! Ai.. ai! Se mostrando...
(Diz ele que teve que voltar tudo, porque se empolgou com a corrida e passou
direto, rs!).
Ainda bem que estava bem!
E lá fui eu para o inferno de eucaliptos! Estava só na
metade do caminho dos 20 prismas! E nem podia correr. Sem saber para onde,
não corro de jeito nenhum, rs!
Quem souber o que significa aquela referência do pontinho
marrom, morre! Tinha cinco deles em meu mapa! Rs! Não conseguia lembrar de jeito
nenhum!
Lá estava Luluzinha se embrenhando pelos eucaliptos outra
vez! Pô véio! Que coisa! Sempre procurava umas duas vezes o mesmo prisma, até
encontrá-lo. Quando não demorava mais. E percebia que encontrava cada vez menos
atletas pelos matos. Ou seja, ou as pessoas estavam muito perdidas, ou a
perdida era eu. Estava sem relógio e nem sabia a quantas horas estava por ali.
“Cadê todo mundo??”.
De eucalipto em eucalipto, fui caminhando sem parar. Pelo
prisma 13 encontrei alguns atletas
aglomerados. Dava pra perceber que estavam perdidinhos "da Silva" e precisavam de
algum apoio. Acabamos nos aproximando rapidamente e nos ajudando na navegação.
Tinha um cara por ali que falava o tempo todo que cada um tinha que fazer a sua
prova e que não era permitido ajuda! Me desculpe cara muito chato que não sei
quem é, mas acima da competição deve haver solidariedade e bom senso. Além
disso, não é admissível entrar no paraíso com tanto mau humor. Como você
conseguiu, não sei! Faz mal à saúde!
Os prismas 13 e 14 estavam na moita, no eucaliptal, só pra
variar! Putz! E o 15 gente??! Na moita também! E demorei uma vida para encontrá-lo.
Mais de 30 minutos! Difícil controlar a falta de concentração! Parecia
filme de terror! Sozinha, tentando andar rápido, me batendo com teias de
aranhas enormes (as teias e as aranhas) no meio dos eucaliptos. Aranhas enormes
mesmo! E acabavam presas em mim, junto com as teias. Fazia de tudo para
não estragar a casinha delas e não bater com força no meu corpo, tentando não
machucá-las. Teve uma hora em que tive que tirar boné e óculos rapidamente para
me livrar das teias e das aranhas. Pra completar, encontrei aquele
rapaz de péssimo humor outra vez. Estava de cara fechada e resmungou quando
tentei algum contato, rs! Mudei de rumo, pensando que só faltava encontrar a
bruxa numa casa de chocolate e um caldeirão de água fervente... Rs!
Ali, ainda passei um bom tempo... Subi e desci umas 3 vezes.
E me bati com as aranhas mais 300 vezes. Voltava para uma referência, batia
azimute, contava passos e nem entendia como não encontrava. Então resolvi mudar
a estratégia. Segui por uma trilha para atacar o prisma por fora. No caminho,
encontrei Paulinho, que confirmou minha suspeita de que seria mais fácil dar a
volta. Enfim, o famigerado prisma 15! E tive que enfrentar as aranhas outra vez
para não dar a volta toda. Adoro isso!
Graças a Deus, apareceu um filho de Deus numa moto, oferecendo
água. Parecia um milagre! Estava saindo do prisma 16, passando a cerca, quando
o vi. O sol de São Gonçalo é bem forte. A quentura sai do chão, de baixo pra
cima! A boca estava seca demais... Agradeci e continuei.
Embora desconfiasse que poderia ter surpresas, os últimos
prismas (eram 20) não estavam difíceis de achar. Estava muito ressabiada com
tudo o que Sam, o organizador da prova, me fez passar. Que rapaz malvado!!
Parece tão gente boa! Ninguém diz que é capaz de fazer tantas maldades, rs!
Terminei a prova em 2:45h. Nem eu sei como demorei tanto!
Cheguei mais de uma hora depois da última atleta da minha categoria. Acho que
só consegui esse feito na minha primeira prova de orientação em 2005.
E corri para as melancias, pensando em como estaria o meu
namorado lindo. Fiquei ali a me hidratar, na adrenalina da minha aventura! Como
amo fazer tudo isso!! Estava tão feliz por concluir o desafio que me perdi nas
melancias. Detalhe: Não como melancia em nenhuma outra ocasião, rs! Não gosto
de melancia.
Quando acabei minha sessão hidratação, fui contemplada com a
imagem daquela figura feliz da vida, com um sorrisão de orelha a orelha, vindo
em minha direção, com o abraço pronto. Ufa! Ele ficou bem! Ficou muito bem! Tão
bem que ganhou a prova com quase 30 minutos à frente do segundo colocado!
Subiu no pódio, recebeu troféu, posou para fotos. Espero que tenha entendido
que tem muita aventura pela frente se se misturar com a gente, rs!
Mauro também ficou em primeiro na categoria dele. Nossa! Que
maravilha! Tomamos até um copinho de cerveja para comemorar!
Sempre agradeço por ter ido e me divirto muito! Agradeço por
encontrar tanta gente boa! Pelo acolhimento do Clube Carcará nesse
ano. Tenho certeza de que esse compromisso com o Clube (Na direção de Luiz
Agnaldo) me tornou mais assídua, trazendo, sem dúvida, mais benefícios para mim
do que para eles. Agradeço às amigas/atletas da minha categoria, pela
competitividade saudável, pelos nossos encontros no mato e fora deles.
Agradeço mais ainda, de joelhos se ela quiser, a minha amiga
Gabi, que achou a chave do meu carro e foi nos resgatar naquele "inferno" pra
gente não ter que voltar de bicicleta, com aquele sol queimando nossas
moleiras. Rs!!!!
Que bom que fui! Obrigada Sam, pela aventura feita para
de acordo com a minha necessidade.
GANHEI!
Até ano que vem!
Comentários