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Resenha da prova Mandacaru- Segunda Etapa do CICA


   Vitor levou o maior tombo de bike, durante um treino, há uns quinze dias atrás. Diagnóstico: Ruptura parcial do tendão de Aquiles. Treinos prejudicados, dor ao andar, fisioterapia... Recomendação médica: Nada de corridas! Mandacaru??? Também não!
   Como não doía ao pedalar... Hummmm... Bom... Combinamos de fazer a prova andando, rs!
   Modalidades:
   - 4 km de modalidade surpresa (que foi mais longo do que 4km, rs!)
   - 5 km de trekking
   - 25 km de bike
   Montamos os equipamentos debaixo de chuva naquela manhã de domingo (02/06), na localidade de São José, Distrito de Maria Quitéria, Feira de Santana... Soubemos qual era a modalidade surpresa poucos minutos antes da largada. Bike and Run: Um corre outro pedala. Melhor Vitor pedalar, sem dúvida. Pelo menos não largaríamos andando, literalmente, conforme previsto e combinado, rs! Que sorte!
 
   Mais de 100 atletas. Gente pra caramba na prova! O CICA tem tido uma aceitação enorme por parte da comunidade aventureira, contribuindo horrores pro crescimento do nosso esporte. Uma maravilha!
   Da largada até o PC1 por 2,2 km, Vitor pedalando, eu correndo. No começo, um pouco ofegante, depois de esquentar o sangue, ficou mais fácil respirar. Do PC1, mais 1,5 km até o PC2, onde deixamos a bike, no pé da serra. A serra que a gente ia subir de trekking e achar os PCs 3 e 4. É massa fazer trekking em serra!
   Por ali estava um monte de duplas, incluindo nossos amigos queridos e parceiros de equipe, Marcelo e Scavuzzi, de dupla. Iniciamos a subida entre os dois morros, fazendo umas curvas que suavizavam nosso sofrer. As pedras mais pareciam escadinhas. Chegando perto de uma pequena casa, a trilha virava para a direita. Passando por um lajedo, andando mais um pouco, encontramos uma bifurcação com outra casinha e seguimos para a esquerda. Certo! Mais uns 200m, para esquerda outra vez. Naquela área estavam vários atletas, indecisos sobre o caminho, numa outra casa que não estava no mapa. Seguimos para o PC3, onde havia uma casinha de taipa, conforme referenciado pela organização, no momento do briefing. O detalhe é que a placa com o número não estava lá e isso gerou dúvida por parte dos atletas.
   Fizemos uma volta inteira pela pequena casa, identificamos alguns elementos que comprovavam nossa passagem e seguimos adiante. Como eu estava acompanhando o percurso, rigorosamente, pelo mapa, sem dúvida era ela.
   Numa subida íngreme para o PC4, meu parceiro não reclamava do tendão, só mancava um pouco. Subimos por pedras, troncos, nos machucamos com a plantação de cansanção. O lugar era bem fechado, a chuva tanto fez crescer o mato, que escondeu as trilhas bem escondidinhas. Ou seja, o trecho entre o PC3 e o PC4 foi “Jungle Adventure”. Lembrou nossas corridas da Paletada, rs!!
   Ainda no caminho, encontramos mais referências, como uma plaquinha numa árvore com o número 26 e um tronco caído, conforme foto que a organização postara no facebook.
   Finalmente, o topo. Uhuuuu! Que vista! Uma perfeição da natureza! Dava pra ver o mundo inteiro e mais alguma coisa lá de cima. Mais uma corridinha, lá estava nosso amigo do PC, perto de uma torre. Confirmamos as referências do PC3, assinamos nossa passagem e descemos “desbandeirados” (Que significa descer sem freios, rs!!!). Quase levei um tombo nessa brincadeira... Vitor percebeu que soltar o freio (Leia-se: as pernas) causava menos dor e mandou ver. Corajoso!
   Enquanto descíamos, dava pra ver a casa onde estava o PC5. Foi só seguir na direção sem medo de ser feliz. Depois, do 5 para o 6, calibrar a bússola no azimute certo e correr pelo pasto.
   Vitor conseguia misturar corrida capenga com trekking manco, rs! O trecho foi punk mas, só faltavam 400m pra acabar o sofrimento. Dali em diante era pedal o tempo todo, pelo menos pra ele. Eu corria um pouco na frente, alegando aproveitar para navegar, empolgadíssima por estarmos em sexto lugar no geral e segundo na categoria, no meio de mais de 50 duplas.
   Nossa conta de água foi parecida com a da outra prova. Não funcionou nada bem pra essa, rsrs! Passamos uma sede danada!
   Chegando ao PC6 para pegar a bike de Vitor, dessa vez, prestei atenção se nosso nome estava na primeira ou na segunda folha da lista de equipes, rsrs! Estávamos bem na frente mesmo. Vitor subiu pedalando e eu correndo. Só que, logo na primeira pedalada, a gancheira foi pro espaço e... Lenhou com tudo! Ou seja, não adiantou prestar atenção na posição, rs!!
   Levamos a bicicleta para uma sombra e começamos a cirurgia. Com o cordão da minha bússola, amarramos o câmbio no quadro da bike, reduzimos o tamanho da corrente para usar apenas uma marcha. Sim, faríamos a prova numa marcha só! Deu um trabalho retado tirar aqueles gominhos da corrente e emendar outra vez! O procedimento demorou mais de 40 minutos, quebramos a chave de corrente de Eudes (Porque mesmo que pegamos se eu tinha? Rs! Acho que foi a agonia..). Metade das equipes que correu a prova nos ultrapassou, incluindo uma dupla mista (Lene e Fábio Sapo). Mas, esse não era nosso maior problema. O tornozelo também não. Perdemos um tempão e não deu certo! A corrente ficava pulando... O problema era continuar a prova sem bicicleta...
   Andamos os 2km que faltavam até a transição, ora empurrando a bicicleta, ora aproveitando as ladeiras para pegar um embalo. Como pareceram longos aqueles dois quilômetros! Eu andava, refletindo sobre como arrumaríamos uma bicicleta para terminarmos a prova. Faltavam os 25km de bike. Lembrei que vi uma bicicleta em cima de um carro antes de largar...
   Chegando na transição (PC7), lá estava a tal da bicicleta. Restava saber de quem era e se estaria disponível para empréstimo. Fui pedir a Manoela, que falou com Junior, que ligou pra Dal, que conferiu se podia, que... Enquanto isso, comemos sanduíche, bebemos água, conversamos com os amigos, mais equipes nos ultrapassaram, pensei em fazer os 25km correndo, etc, etc, etc... Conseguimos a bicicleta!
   Como já estávamos prontos, só precisamos encher os pneus, suspender o banco e seguir. Até odômetro tinha, a ordinária! Que sorte danada! Voltamos para a prova sem pensar no resultado, com o objetivo de completar. O tornozelo deixou mesmo de ser um problema diante de tantos outros que apareceram. E, por incrível que possa parecer, nada nos deixou chateados. A gente só queria terminar a prova... 
   Ali estava eu, navegando outra vez. Mapa na mão, bússola sem a cordinha (que ficou prendendo a gancheira), querendo cair o tempo todo. Saímos da pracinha para dar a volta da serra. Dois quilômetros e duzentos metros, o azimute mudaria para 310 graus. Deu 2km, encontramos nossos amigos Aventureiros, Eudes e Maurício. Tinha que aparecer uma bifurcação por ali. Não vi nada! A estrada estava tão boa que continuamos pedalando. Vitor ia na frente animado e eu olhando aquele azimute que não batia... Pedalava mais um pouco, nada de bater o azimute. Fomos mais um pouco para conferir e acabamos encontrando uma turma grande voltando e dizendo que não era por ali. Confirmamos o erro!
   Então voltamos para onde estavam nossos amigos Aventureiros e achamos a bicurcação escondidinha pela vegetação que cresceu com a chuva. Modéstia à parte, tenho um olho bom danado pra essas coisas. Chamei Vitor e entramos rapidinho na trilha, enquanto a maioria fazia o caminho de volta.
   Azimute conferido, botei o mapa entre os dentes, bússola no bolso e seguimos para nosso destino, que era a casinha no vale entre os morros. Fizemos esse trecho da prova, praticamente todo, junto com Manu e Ítalo, o que nos fez recordar bons tempos de Aventureiros do Agreste. Foi muito bacana!
   Que prova linda! Esse trecho, um sigletrack especialmente lindo! O PCV8 ficava bem no final do vale. Dali, continuamos em trilha estreita, saindo da parte de mata mais fechada para vegetação de pasto. As vaquinhas sempre aparecem por esses lugares e ficam com preguiça de sair da frente. Mas, saem, rs!
   As nuvens fizeram a gentileza de deixar o sol fora de cena. A chuva na madrugada e no início da manhã deixou a temperatura amena. Apesar da bicicleta bem pequena, com aro 26 e sem pedal clip, Vitor conseguia evoluir sem muita dificuldade. No PC9, falamos a senha do PCV8, daquele da casinha. Aproveitamos para beber uma coca-cola bem gelada e matar a sede que nos consumia. Que sofrimento fazer prova sem água! Minha garrafa resolveu cair na estrada logo no começo da bike. Que coisa!
   O PCV10 estava numa casa enorme, "mal assombrada", que deveria ser bem bonita quando "mocinha". Vitor foi lá, memorizou o número e voltou.
   Essa prova foi alternada entre PCs virtuais e PCs “gente”. É assim que falo: PC Gente! Mas, pode ser PC Pessoa também, rs!
   No caminho para o PC11 tinha outra “pegadinha” da natureza. Mais uma trilha apagada pelo mato crescido, que requeria atenção para distância e azimute. Com o mapa na palma da minha mão, não paramos muito tempo. Conferimos e seguimos para a direita.
   Quase terminando a volta da serra, encontramos o Sr. Caumo no PC11, que perguntou se era eu que estava perdida pelo mato. Bom... Não me sentia tão perdida não, muito pelo contrário, mas se puder pensar assim, melhor dizer que estava me encontrando pelos matos, rs!! Ultrapassamos mais uma equipe mista por ali. Espero ter ajudado a minha amiga Dejanir, ao emprestar a bomba para encher pneu. Fiquei preocupada, confesso! Tinha que trocar aquele troço de pito fino para pito grosso.
   Mais um pedalzinho entre morros e logo, logo, encontramos o PC12 embaixo daquela árvore bonitinha. E subimos uma ladeira atrás de uns cavaleiros simpáticos que resolveram nos dar passagem depois de muita luta, rs! Lá em cima, numa porteira, encontrei um menino bonito que perguntou se eu era Luciana Freitas.
   Diálogo...
   - Você é Luciana Freitas, tia de Júlia??- Disse ele, ansioso.
   - Júlia? – Não queria decepcioná-lo. Pensei que estava famosa, rsrsrs!- Ela é filha de quem?
   - Filha de Suzana Moreira!!!- Falou ele muitíssimo animado.
   - Aaaaah, sou sim! Júlia é minha sobrinha!
   O menino avisou que Júlia estava ali e saiu gritando que tinha me encontrado, se achando o caçador de recompensas. Júlia veio correndo ao meu encontro junto com mais um bolo de crianças. Tive que parar para abraçá-la, mesmo fedorenta (eu), e fui embora recebendo dicas de direção e muitos “eu te amo”.      
  Engraçado que, ao final da prova, vários atletas disseram que foram abordados pelas crianças, perguntando por mim. Que coincidência achar Júlia, filha de amigos queridos, numa fazenda, no meio da prova! E a gente ainda acha que já viu de tudo nessas corridas doidas, rsrsrs!
   Voltando à prova, tome-lhe singletrack pra dentro! Trilha, lama, subida, descida e a sede, "comendo no centro"! Morrendo de sede! Mas, faltava muito pouco e não era hora de morrer de jeito nenhum.
   Para nossa surpresa, ainda ultrapassamos Gaia e Marcela, quase na chegada. Não fomos só nós que tivemos problemas. Gaia tava com pneu furado e, segundo ele, já empurrava bike por uns 7km. O que foi de gente com pneu furado e corrente quebrada, não foi brincadeira, rs!
   Dali, foi só pegar o PC13 e chegar.
   Eu tinha certeza de que as duplas mistas estavam quase todas lá, já comendo feijoada, de banho tomado. Nem imaginava nossa posição, pensei num sétimo lugar em nossa categoria. Quase caí de costas quando Vitor disse que ficamos em terceiro. Tive que ir lá conferir, rs! É nóis na fita!!!! Uhuuuuuu! Corrida de Aventuras tem dessas coisas!
   Agradecemos a todos os amigos que nos deram golinhos de água. Marcelo, Scavuzzi, Ítalo e Manuvéio, valeu mesmo! Vamos repensar essa estória de morrer de sede...
   Foi bom pelo “azar” (entre aspas porque não dou ousadia ao azar) e pela sorte, porque a gente ri na cara do azar! Kkkkkk!
   Agradecemos aos amigos Eudes e Maurício que emprestaram a chave de corrente que a gente quebrou, e pela bicicleta emprestada do “cabra” de Juazeiro que a gente nem conhece mas, quer conhecer (vamos pagar a lavagem pra sua bike ficar zerada, rsrs).
   Ao nosso treinador, Tadeu, pela evolução nos treinos, valeu! Ih, rimou!
   A prova foi massa, linda, técnica, dura, mesmo sendo curta! Parabéns aos organizadores que foram muito felizes na escolha do cenário da nossa aventura. 
   Obrigada também pelas perebas de cansanção. Minhas pernas estão uma gracinha!
   Vitor, que bom que você nem sonha desanimar diante dos obstáculos! Pelo menos não parece, e isso já é muito bom! Você é o grande vencedor dessa “parada aê, meu irmão!!! O tendão foi o de menos, rsrsrs! Tô contigoooo! Nas Corridas de Aventura e nas Corridas da Vida.
   Beijos pra todo mundo e “tamos” aí!!! Uhuuuu! 
   Luciana Penélope do Agreste
   Retroceder Nunca, Render-se Jamais e Divertir-se Sempre


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