Depois da segunda etapa do CICA, a Mandacaru, a coisa foi
ficando feia. Sem melhora na lesão do tornozelo, entre ultrassonografias,
ressonâncias e treinos frustrados, o médico proibiu Vitor de fazer qualquer
atividade física, incluindo fisioterapia, e indicou cirurgia imediatamente.
Disse que cortaria aqui e acolá, emendaria isso naquilo e o cabra passaria,
pelo menos, 6 meses sem treinar. Bom... Até uma segunda opinião médica, diante
de todo alarde, melhor não arriscar. Fui atrás de Marcelo para compor a dupla
mista. E, para não perder a festa, lá estava Vitor, no “apoio”!
Na pontuação obtida pelos resultados das duas últimas
provas, estávamos tecnicamente empatados com outra dupla mista (Paulinho e
Marcinha, da Caatinga Trekkers). Então, as duas primeiras posições do ranking
final eram possíveis, a não ser que não fizéssemos a prova.
Chegamos em Tanquinho, pequena cidade a 40km de Feira de
Santana, bem cedinho. Com neblina pra não acabar mais! E, sabe aquele morro que tem do lado esquerdo da
estrada?? Quem já passou por lá sabe. Foi nosso primeiro PC!
Largamos todos no trote, atravessamos a pista e começamos a
subir. Logo no começo tinha meio mundo de gente botando os bofes pra fora,
incluindo a mim. Mas, finjo que tô ótima, como se nada
estivesse acontecendo, rs! Marcelo vinha logo atrás, contando a distância pra
gente entrar à direita quando desse 700m de subida. Encontramos a trilha
exatamente em 720m. Vimos a entrada à direita, achamos muito perto e
continuamos subindo. Não basta ser bocó, tem que comprovar!!
O visual lá de cima era mesmo de tirar o fôlego! Olhamos em
volta, procuramos alguma trilha, verificamos o mapa e voltamos os duzentos metros
que subimos errado. Pela trilha certa, chegamos ao lajedo de Nossa Senhora do Terço Pendurado. Alguém até comentou, brincando, que era o PC, rs! Parecia
mesmo que a trilha acabava na Santa. Olhamos por ali, por acolá... Tinha um
monte de equipes procurando. Fiz um azimute, olhei para a direita e
chamei Marcelo. Estamos ficando bons farejadores... A continuação da trilha estava ali! No
caminho, encontramos uma turma, voltando, alegando terem ido longe, sem
nada encontrar. Mesmo assim, seguimos adiante, confiando no azimute. Tínhamos que descer um pouco e
subir, pois o PC estava no pico ao lado. E foi assim, em meio a mato, urtiga, aranhas,
cansanção, lama, tronco e os cambau, que encontramos o PC1. Nós e uma galera
que veio logo atrás... E outra que passou muito na frente, rs!!
PC2 era só voltar pra pegar as bikes na largada. Ribanceira
abaixo, literalmente, desci tagarelando horrores, enquanto Marcelo reclamava,
dizendo que eu não parava de falar um minuto, rsrs! Nem sei porquê ainda
reclama, se já me conhece tanto. A gente corre junto há mais de 8 anos e nunca
parei de falar... Estava esquecido do pesadelo, rsrs!
Vitor esperava pacientemente no PC. Muitas equipes já tinham
passado mas, ali era só o começo da prova. Depois dos PCs 3 e 4, nos
encontraríamos novamente no 5.
Dali até o PC3 quase não teve navegação... Nem pro 4, nem pro 5. Aquela região de
Tanquinho tem uma área rural bem vistosa. A chuva arrumou tudo, deixou o verde
bem verde, as vacas gordinhas, os bezerros ariscos, as estradas enlameadas. Os muitos morros dão o maior charme ao visual, além de incrementar
o trekking.
Mesmo com a pouca
navegação, era preciso dar uma olhada no mapa. Assim, num instante pedalamos até o PC5, transição para trekking, que ficava
numa Fazenda bem bonita, com um curral cheio de bosta de vaca. Lá, a turma estava
vendendo Coca-Cola gelada e Guaramix. Coisa boa danada! Nem sabia que o tal do
Guaramix era tão gostoso. Nunca tinha experimentado, rsrs!
Depois de uma breve transição, seguimos de trekking até o PC
6, entrando pelo curral cheio de bosta, rs! Vacas cagonas!
Tenho uma queixa sobre o mapa: Vegetação igual é dose pra
leão de circo! Tudo bem, o mapa pode ter sido feito com dados antigos... Nosso amigo Mauroba sempre diz que um bom navegador tem que pensar com a cabeça do
organizador para saber o que ele imaginou numa hora dessas. Descobri o que ele
pensou: “Vai todo mundo se lenhar* naqueles morros!”. Resultado: Trekking difícil, bike água com açúcar... Vamos equilibrar esse negócio!
O planejamento inicial era seguirmos pela trilha à esquerda que dava a volta por trás da serra, para virar à direita e subir entre
os dois morros. Só que, do PC5, dava pra traçar o azimute, subir direto e
entrar na ravina para a esquerda. Deu pra entender? Não?! Tinha um morro atrás do que dava pra visualizar. Rs!... Percebendo que era
mais perto e a vegetação parecia baixa, mudamos de planos. Subimos direto mesmo! À medida que subíamos, a vegetação se transformava. O mato
cresceu de uma hora pra outra, as pedras apareciam pela frente, os troncos de
dendê caídos atrapalhavam o progresso. A trilha aparecia e sumia... Mas, embora
não tenha sido a beleza que esperávamos, deu para progredir até o alto.
Depois que subimos que a coisa piorou. Começamos a rasgar mato, abrindo caminho onde não tinha, seguindo para a ravina.
Andava com os braços pra cima e abria o mato nos peitos. Nisso, encontramos
uma cerca, atravessamos, seguimos por ela, e lá estava o PC6.
Pela trilha de mato alto, que chegava até o meu
sovaco, fomos catar o PC7. Olhando bem, a trilha estava lá! Bastava olhar beeem!! Morro abaixo, morro acima, morro abaixo. O PC deveria
aparecer... Ou não! Ali encontramos Mauro e Gabi, fazendo uma bela
prova, diga-se de passagem! Só que decidimos subir novamente para ver se havia
outra trilha, já que o PC não aparecia. Como não achamos em cima,
descemos outra vez, até encontrar o dito-cujo. Perdemos tempo... Lá
estava o PC, bem no meio da floresta, exatamente como no mapa sem floresta, mas com relevo fidedigno (chique essa palavra, ui!)! Era só descer mais um
pouco mesmo e confiar na navegação, no mapa, na distância, no organizador,
rsrsrs! Aiai! Os PCs ficavam escondidos! Tinha um camuflado... Quem guenta??
Para achar o PC 8, bastava descer alguns metros, pular
cerca, enroscar-se nas trocentas teias de setecentas aranhas, machucar o corpo
todo com cansanção, virar à direita, subir outra vez entre dois morros, tropeçar em quinhentas
pedras, cair em trinta buracos, perder a trilha vinte e sete vezes, descer
outra vez... Lá no açude, eis o PC8!
E sebo nas canelas pra alcançar o PC9 e o 10 antes das 13h!
Hora do corte, meu bem!! Quem quisesse fazer a prova inteira, tinha que chegar
até 13h. Caso contrário, corte e redução de percurso.
Trotamos por todo o caminho até o PC9, alcançamos algumas
equipes, incluindo nossos amigos e companheiros, Gabi e Mauroba, outra vez. Juntaram-se
à nós no trote até o PC10 numa conversa animada. Conseguimos! Uhuuu!
Fizemos a transição para a bike, bebemos o super Guaramix.
À propósito, Guaramix é muito gostoso por causa da sede?? Ou será que é mesmo
gostoso?? Tenho que beber outra vez.
O caminho de bike para o PC 11 era um singletrack peculiar
com o mato acima do guidão da bicicleta. Até tive medo de ficar presa por lá,
rs! No caminho, encontramos Alan e Diana e Paulinho e Marcinha. Estávamos muito
próximos! Voltavam do PC. Também tinha Dida e Wlad, Sapo e Lene bem atrás.
Ou seja, as equipes estavam emboladas e nada muito definido.
PC 12! A prova surpresa era uma pista de
motocross, onde um atleta teria de dar duas voltas. Como tenho menos
habilidade, pedi para Marcelo fazer porque sempre acho que homem é melhor
nessas coisas. Negociamos pelos PCs afora até ele aceitar. O argumento é que ele acha que sou mais macho pra fazer essas coisas. Eu posso com uma coisa dessas?? Concluído o babado, a próxima parada era a chegada... Estávamos em terceiro. No caminho,
fomos ultrapassados pelas duas duplas que estavam logo atrás e perdemos posições na prova.
Resultado: Quinto lugar na Peleja!
E segundo o ranking final
do CICA. Uau!
Posso agradecer?? Posso?!
O Campeonato todo foi massa!
Adorei correr as duas etapas com meu namorado querido! Um amor
de criatura de coração iluminado, tranquilo e sereno. Uma das melhores
descobertas de pessoa que fiz nos últimos tempos! Que bom esse encontro nessa vida,
nessa caminhada! Pra ficar melhor, adora largar tudo e sair por aí pedalando.
Amei correr a última etapa com meu amigão Marcelo. Parceiro
melhor não poderia escolher, tenho certeza! Somos irmãos, eu sei! Nosso treino
não estava em dia mas, a sintonia sim, como sempre! Fizemos o melhor, dentro
da nossa proposta. Obrigada dez mil vezes!
Amei muito ver essa galera boa, participando de todas as
provas, tomando gosto, comparecendo e prestigiando nosso esporte, que cresce e
nos faz crescer. Ótimo encontrar gente das antigas, como Bukaliu, Clóvis,
Waltinho, Daniel e outros que estavam meio sumidos dos matos e eu não vou conseguir
escrever nome de tanta gente, rs! Outra maravilha é ver que tem um monte de
gente que não parou, mesmo com toda dificuldade, mesmo com a coisa morna, mesmo
quando a gente pensou que, talvez... As provas acabassem na Bahia!
Aqui estamos nós, animados com o CICA, com outras
provas, outros organizadores, outros atletas, mais amigos, mais Corrida de
Aventura.
Parabéns pra todo mundo, especialmente para os Campeões das Etapas e do Geral!
Por falar em MAIS, preciso fazer outra prova com MAIS de
100km nesse ano. Tô com síndrome de abstinência.
Beijos e até outras!
... Pena que estarei em viagem à trabalho na Noite do Perrengue.
* Seria um palavrão.
Comentários
Um beijo e parabéns!