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NOITE DO PERRENGUE- A RESENHA- 40km



 “Artista tem que ter seu tempo pra criar.” Assim diz a minha filha, Tila.


   Ave Maria, correria retada! Quase não consigo escrever uma resenha de corrida. Só agora terminei... Então, vou contar pra vocês como foi nosso Perrengue.
   Minha Noite do Perrengue seria antecipada com uma participação especial, como validadora de prova. Faria o percurso uma semana antes pra confirmar com Arnaldo e Gaia que estava tudo em riba. Que bom e que ruim! Seria meu consolo porque estaria numa viagem a trabalho, não fosse pela mudança de data.
   Que sorte! Perder o Perrengue seria como perder a festa do pijama da melhor amiga. Tipo: Todo mundo ia, menos eu. Buaaaaaá! Fiquei toda importante porque ia validar a prova. E queria ir sozinha... Mas, preferia correr a validar prova. Queria o Perrengue certo no dia certo!

   Dupla Mista: Luluzinha do Agreste e Vitor Hugo. Ops! Deveria ter colocado esse nome, rs!
   Concentração naquele Condomínio bonitão, o Quintas Pivate, da Odebrecht. Cheio de sofá pra gente se espojar! Novos atletas, outros nem tanto. Velha guarda reunida...

   Chegamos bem cedinho para evitar aquela afobação de cima da hora. Deu pra jantar, se jogar nos sofás, trocar de roupa, arrumar o que faltava, namorar o mapa, conversar com os amigos.

   Confesso minha tensão. Naquela cobrança interna por ser responsável pela navegação, por ter viajado, ficado sem treinar... Só comendo fondue e postando fotos no Facebook. Pensei que ia voltar rolando da viagem, de tanto que comi. Sem contar com o resfriado chato que não me deixava respirar bem. Inclusive, antes do briefing, estive febril. Mas, a gente sabe que esse negócio de ficar dando desculpa antes da hora é coisa que quem não sabe perder. Portanto, controlei a vontade de me desculpar e encarei o trampo. Já tava lá mesmo... E nem queria estar em outro lugar. Queria a Noite do Perrengue.
   
   No briefing, Gaia foi logo dizendo que alguns PCs seriam facultativos para facilitar a vida de quem estava começando. Nos prismas B e A, até ele se perdeu na hora de fazer a marcação. E deu várias outras dicas e alertas pra nós. Nem me senti no direito de pensar em não ir a algum lugar. Essas “ziguiziras” até rolam mas, meu anjo da guarda me enche de bolacha pra eu deixar de ser mole. Então, me recomponho e deixo esses pensamentos pra lá. Vá entender! A pessoa é convidada pra validar a prova e ainda se acha com direito de pensar que... Não, não pensei nada!
   Pontualmente, à meia noite, estava todo mundo saindo debaixo do pórtico, correndo pra pegar os primeiros cinco prismas em ordem aleatória. Programamos de passar pelas sequências de C, E, B, A e D.
   Vitor tá ficando retado nesse negócio de contar passos. Não demoramos muito pra pegar o E e o C. Dali, fomos pra o B. Só que a jegulina aqui implicou em pegar logo o D porque achava que poderia ter algum corte de caminho na volta dos PCs perto do mar. Impliquei mesmo, saindo do planejamento inicial de deixá-lo por último. Sem comentários! Depois digo o que aconteceu.
   Fizemos o trecho de trekking todo correndo. O pé de Vitor está uma belezura! Minha respiração que não tava boa, não. Mas, modéstia à parte, tenho tanta facilidade de correr que não foi tão sofrido. A bike que foi.
   Lá embaixo, na bifurcação pegamos a direita, corremos 550m e nos deparamos  com o prisma B. Saímos um pouco da trilha, voltamos, entramos no mangue pra seguir pro A. Sim, pelo mangue! E, com a maré cheia, a água chegava até o quadril pelo caminho entre aquelas árvores típicas de manguezal. Depois, o mangue virou apicum. 
   Gostei daquele momento de prova! Meus super faróis ficaram ótimos! Dava pra ver bem a vegetação e as árvores, o descampado. 
   E aquele mangue até que foi gentil com a gente. Já fiz umas provas de afundar até os joelhos, de ter que apertar bem os tênis para não perdê-los. Desta vez, pegamos a parte de chão duro. É bom que Vitor vai se acostumando aos poucos com as adversidades da Corrida de Aventura. Se ficasse procurando o tênis no buraco do caranguejo logo nas primeiras provas, ia assustar o rapaz.
   Na volta do prisma A, só tinha aquele caminho mesmo. Tivemos então que passar pelo D outra vez. Foi isso que aconteceu. Putz, que teimosia a minha! E essas coisas fazem a gente perder tempo.
   Ao passarmos no D, a trilha que beirava a cerca terminava. Seguimos no azimute, só que o ziguezague entre as árvores deixou Tico e Teco tontos, rsrs! Quando percebi, já estávamos andando em sentido contrário. Nos embrenhamos pelos matos naquele “breu” danado. Manu e Ítalo estavam com a gente, coitados, rs! Encontramos Lucy Penélope e logo nos dispersamos. Ela foi embora a viagem dela, rs! Nós ficamos a dar voltas. Possivelmente, perdemos meia hora naquele vai e vem. O que faz muita diferença numa prova curta assim.
   Vitor começou a ficar agoniado, perguntando se eu sabia onde estávamos. Rsrs! Bommm... Onde estaaaávamos, exatamente... Não! Não sabia, rs! Mas, o bom navegador sabe orientar seu mapa. E, cá pra nós, posso garantir que saio de qualquer buraco com um mapa e uma bússola na mão. Sou “rodada”. Perdi a conta de quantas provas de mais de 100km já fiz. Perdi a contas de quantas noites passei no mato. Já fiz 3 provas de cinco dias. Dormi no chão trocentas vezes. Já fiz prova com nosso quarteto feminino, incluindo um CNA em Alagoas. Naveguei em, pelo menos, metade de um Ecomotion. Perdi as contas do tanto que já me perdi. E sei que o máximo que pode acontecer é a gente ter que rasgar mato pra sair do perrengue. Eu adoro Perrengue!
   Finalmente, achamos o estradão com destino ao PC1.
   Só dessa parte da estória já dá pra perceber quanto tempo perdemos...
   Notando que muita gente já tinha ido embora, pegamos as bicicletas e partimos para nosso pedal noturno. Um pouco de asfalto pra começar... Estradão, ponte, PC2 numa trilhinha curta e discreta... Ui! A Ladeira do Perrengue! Íngreme, cheia de valas, pedras soltas. Esse pessoal gosta mesmo de botar dificuldade nas coisas, rs! Mas, se você tem medo ou não tem perna ou não tem técnica ou todas as alternativas anteriores, desce da bike e empurra. Desço, sempre que acho necessário, sem vergonha nenhuma. Ou então, se a coragem estiver comigo, me jogo. À noite o buraco é mais embaixo, literalmente. E pode ser bem fundo também! Mas, a super-mega-power iluminação instalada pelo meu super-mega-power namorado estava uma “beleza de creuza”!


   Isso serve de dica pra galera que tá começando. O capricho na iluminação ajuda muito nas provas noturnas. Diminui o índice de acidentes, aumenta a autoconfiança e melhora desempenho.
   Lá na frente, chegou a passagem esquisita pelo portão. Atravessamos a pista, entramos na Vila, chegamos ao PC 3, onde meu amigo Paulinho estava. Acho que só eu o chamo de Paulinho. Depois daquela prova lá no Recôncavo que fizemos juntos em 2006 (eu acho), peguei intimidade. Nunca mais deixo de ter chamego com a pessoa, rs!
   Fizemos a opção de pegar os PCs na ordem contrária. Fomos ao PC7... Preferimos atacar a Trilha do Perrengue de trás pra frente, no sentido de quem vem, rsrs! Entenderam?
   Por falar em Trilha do Perrengue, o bestão do Gaia nos deu um susto. Ouviu minha voz, ficou escondido, depois pulou à nossa frente com aquela cara de bocó. É outra figura que gosto como irmão. Depois daquele Ecomotion que fizemos juntos, acabei ficando meio “aMakaírada”. Mas, bem pouquinho, rs!
   Vitor desceu a Trilha do Perrengue desbandeirado. Pensei que nem esperaria por mim. O tanto que gritei pra ele esperar, ninguém nem sabe, nem ouviu. A pessoa nem tem mapa na mão e sai doido na frente. Quem tem habilidade, tem. Batemos e voltamos pelo mesmo caminho. Não sei se a gente pegou a Trilha do Perrengue do lado melhor, mas achei bem tranquilo.
   Cá pra nós, pedalei mal pra caramba nessa prova. Tinha tanta desculpa que dava pra fazer uma lista. Dor de cabeça, dor nas pernas, garganta inflamada, falta de ar... 

   Então pedalamos pela estrada afora, encontrando um monte de amigos fazendo o percurso contrário... Alan e Diana, Lucy e Vande, a Comitiva BB, Maurão, Lene e meio mundo de gente.  
   Ficamos imaginando aquela estrada de dia, se já era bonita à noite. Pegamos o PC6 na bifurcação do estradão, passamos por um eucaliptal, pegamos a trilha da cachoeirinha... Dava até para ouvir o barulho da água. Subimos aquela ladeira “de ver Deus” que passava na torre. Pegamos o PC4, até que terminamos a volta e encontramos Paulinho outra vez.   
   A lua estava muito linda! Pela Vila, saímos até o asfalto, atravessamos para o estradão. Que era reto e, se não fosse ruim de pedalar, até ganharíamos um tempinho. Rsrsrs! Raiai... Não tinha uma marca de bicicleta naquele areal horroroso. Na verdade, eu naveguei certinho, encontrei a estrada, mas foi uma questão de azar, não de sorte. Arnaldinho e Gaia (que deveria estar com aquela máscara horrorosa) mandaram jogar caminhões de areia na estrada. Um empurra-bike miserável. E ainda teve uma dupla masculina que deu o azar de nos acompanhar quando encontramos a estrada. Hahaha! Provavelmente, ninguém nem soube que teve um trecho de areia na corrida. Que coisa viu!? Só nós.
   Pronto! Passou a areia, a estrada melhorou, chegou o PC9. Volta rapidinho, entra à esquerda, segue paralelo à praia... Transição para o remo. Lá, tivemos que esperar um pouco, enquanto os barcos chegavam. Saímos com o raiar do dia. Depois de uma lua linda vem um dia lindo!


   O vento contra fazia meus braços, completamente destreinados, arderem. Mas, fiquei tão concentrada que não dei um pio. Maurão e Lene remavam bem à nossa frente. Não dava pra perder o ritmo com amiguinhos por perto, rs! Dois quilômetros depois, terra firme, PCs (Carol e Tiago) animadíssimos, tomando uma cervejinha, dando boas vindas na maior musicalidade.
   Navegação objetiva, trekking curto, PCs encontrados rapidamente, voltamos para o barco e braço pra dentro. Faltava pouco! Dessa vez o vento deu uma ajudinha massa. Entregamos os barcos, deixamos as mochilas nas bicicletas, corremos até o fim da estrada, para azimutar e atacar o ponto de nadar.
   Duas pedras com colete salva-vidas, rs! O que foi aquilo, meu Deus? O píer parecia se afastar a cada vez que olhava. Não chegava nunca! E nem tinha correnteza! Lene e Maurão tinham ficado pra trás lá no final do trekking da lagoa e já estavam praticamente do nosso lado, rs! Vitor sumiu do meu lado e não ouvia mais sua respiração ofegante. Levei o maior susto, pensei que tinha morrido.
   Olhei para o píer que se aproximava e notei sua imponência, rsrs! Pressenti que meus braços exaustos não resistiriam àquela subida. Segurei na borda e dei impulso. Quem disse que consegui subir? Que nada! Fui segurando pela lateral, dando impulso, até dar pé. Vitor, tadinho, saiu verde da água, tonto, não conseguia nem ficar de pé, imaginem dar um Sprint final entre as duplas. Nem cogitamos. Apenas seguimos, nos recompondo até o pórtico de chegada, lá pelas 6 da manhã.

   Quinto lugar entre as duplas mistas, grama pra se jogar, banheiro pra tirar o bodum. Uma chiquêza da zorra! Até o cabelo eu lavei. Saí toda ariada do banheiro e fui tomar o super café da manhã que a Odebrecht ofereceu pra gente.

   Arnaldo e Gaia, a prova foi impecável! Tudo escolhido a dedo, staff de primeira, lugar lindo! Imagino que o mapa deve ter sido conferido umas vinte vezes, porque as distâncias batiam certinho com o mapa. Obrigada pelo convite pra validar a prova mas, preferia correr mesmo. Melhor é sentir na pele o que todo mundo sente, e ao mesmo tempo, rs!! Que bom que não perdi a festa!
   Quero mais Noite do Perrengue. Quero Dia e Noite do Perrengue.

OBS: As fotos estão na página do evento.
Visitem: https://www.facebook.com/events/400025753443604/?fref=ts
Corrida de Aventura é bom demais!

Comentários

Lucy disse…
Lulu!!!!!!! Que Perrengue bom da zorra, arr maria!!! bjs

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