Sair de casa 3:20h da manhã pra passar o dia todo correndo
pelos matos é coisa de maluco mesmo! São escolhas feitas pra deixar a vida mais
fácil de viver. E, cá pra nós, embora nada disso seja muito fácil, desenrolar
as aventuras da corrida está mais fácil do que desenrolar as aventuras da vida.
Muito mais!
A Aventureiros montou um quarteto e uma dupla. Ficamos nas
duplas, principalmente, por conta das nossas demandas pessoais. Pena que
concorremos com as masculinas, por não ter categoria mista, mas também não sei o
que seria de nós se fosse de outro jeito.
Aquelas curvas de nível confirmavam que Mandacaru sem morro
não é a prova, é a planta. Navegação que parece tranquila pode desconfiar, meu
amigo! Prova no sertão é bagaceira garantida! Sol da zorra, água acaba rápido, quentura
dos infernos que parece vir de baixo pra cima, cansanção pra lapiar até a alma...
Além disso, embora o mapa seja feito pra gente acertar, a gente ainda se acha
no direito de errar! Ainda bem que foi pouco dessa vez, Rs!
Largar descendo ladeira é massa! Corremos 800m até a beira
da barragem e lá entramos pro refrescante trechinho de natação. Pensei que
seria ruim mas foi bom!
Transição no PC1, pedal até o 2. Passamos direto pela
entrada da trilha mas logo voltamos, pedalando por um bom trecho pela beira do
rio.
As trilhas de bike não estavam complicadas, não. Até o PC3
foi tranquilo e Vitor me deu uns empurrõezinhos providenciais nas subidas,
porque não tô nada boa de pedal. Agora que me assaltaram no calçadão de Vilas,
e agradeço do fundo do coração ao ladrão por não ter levado minha bicicleta, a
coragem de treinar sozinha diminuiu consideravelmente.
Bonitinha a mãe de Manoela no PC3, toda metida com a
prancheta na mão. Acho lindinho isso! Lembrei do pai de Fernando Severino que
aparecia em todas as provas da Paletada como apoio da Espírito Selvagem. Aliás,
essa prova me lembrou muita coisa boa! Foi massa ver um monte de gente das
antigas competindo. O povo tá voltando mesmo! Todo mundo com a faca entre os
dentes. Ainda tem a galera que está levando a filharada. Arnaldo com o filho,
Hugo, foi a sensação. Gal, coitada, que quase pariu outro filho mas tudo bem,
isso é só um detalhe, rs!
Vitor fez o bike and run
do PC3 ao PC5. Como sentiu uma dor inexplicável na lombar no primeiro
trecho de bike, preferiu correr pra aliviar.
Quando passamos no PC4, assinei na posição 25 do geral.
Achei longe pra caramba porque não parecia que estávamos tão mal. Prefiro não
saber da posição, mas a folha quase toda preenchida me chamou atenção. Não
compartilhei essa informação com Vitor pra não desanimar e pensei que logo
encontraríamos equipes pela frente. Afinal, somos resistentes até a morte e sabemos
que o povo vai cansando no meio do caminho. Hum!
Depois dali, tentei fazer com que Vitor pedalasse minha
bicicleta, como um revezamento, mas ele quase me engoliu quando insisti pra correr. Fui convencida a
pegar a minha porra da minha bicicleta do chão e sair pedalando com a maior cara de
jegue. Que se desfez no terceiro cruzamento, porque mulher tem que demonstrar
insatisfação por, no mínimo, dois cruzamentos pra não dar o braço a torcer
assim de bandeja. Afinal, ele falou assim:
-NÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOO QUEROOOOOOOO!
-NÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOO QUEROOOOOOOO!
Quando olhei pra trás vi algo parecido com o Sullivan, de Monstros
SA, assustando a Buh em câmara lenta. A língua balançava na boca e os dentes
pulavam pra fora, enquanto pronunciava a frase acima... Parece legal mas diz “não quero” bem alto, a ponto de
causar revoada de pássaros, carreira de boiada, cabras e de criancinhas
inocentes. Kkkkk!
Minha bicicleta ficou no PC5, quando começamos o trekking
pra subir no primeiro morro, o do cruzeiro. Dava pra ver a quantidade de gente
que desbravava aquelas curvas de nível. Subida da zorra! Como meu marido parava
(pra apreciar a vista, rs!) e eu me distanciava um pouco (bem pouco, rs!),
resolvemos caminhar no meio termo. Acabamos subindo melhor, sem parar.
Maravilha! E a figura, enquanto ultrapassávamos algumas pessoas, incluindo nosso
quarteto Agreste, foi orientando o pessoal a treinar mais pra subir rápido como
nós, e também explicava que ele estava me empurrando, ao contrário que podiam
pensar, rsrs!
Já perto do destino, vozes vinham das pedras. Não era o PC,
eram os BBs, Plínio e Omar, que apareciam do desconhecido. Encontramos o
PC6 juntos e seguimos pra o 7, que também foi tranquilo, Graças a Deus!
Treva foi o percurso pro 8! Descendo pela ravina, ouvimos
gritos desesperados de socorro. Parecia sacanagem mas logo deu pra perceber que
ninguém gritaria daquele jeito numa corrida sem um bom motivo. Eram abelhas...
Os atletas se comunicavam gritando e pedindo socorro. Um garoto, o filho de
Marcinha, foi picado e tinha alergia. Fiquei muito preocupada, pensei logo em meu filho! Wlad e Capu
subiram pra ajudar, enquanto nós fomos tentar um caminho que desviasse das
abelhas pra avisar à organização a situação lá no morro.
Descemos em silêncio, passando por algumas colmeias. Sofremos um primeiro ataque sem picadas. As abelhas se aproximaram, foram
encostando mas conseguimos afastá-las com todo carinho.. sem sacanagem!! Kkkk!
Eu falava “sai abelhinha” bem baixinho, rs! No segundo ataque a porra pegou pro
nosso lado! Sorte que a mata abriu um pouco e deu pra correr. Providência
Divina! Tomei ferroadas na bochecha e na mão, por cima da luva mesmo. Vitor ficou
encurralado mas não foi picado. Só depois de muito caminharmos demos falta do
boné e dos óculos dele. Quem volta pra procurar?
Encontramos então o amigo de Bruno... Tadinho! Na verdade, ele quem teve o azar de nos encontrar, rs! Demoramos uma hora pra chegar até a fazenda depois
daquela confusão. Sabe quando a casa está ali, naquele azimute, e você não
segue? Fizemos uma volta da zorra, rasgamos mato, pulamos cerca, encontramos a
estrada... Ôxe, que coisa!
No PC8 percebemos que ninguém cansou, muito menos se
intimidou com as abelhas. Manoela tirou uns ferrões da minha cara. Dali, eu
corria e Vitor pedalava até o PC9. Pegamos a trilha por trás da casa. Aquela
pela qual deveríamos ter chegado na vinda do 7. Nem acreditei que chegamos até
quase no fundo da casa e demos aquela volta toda. Que chato! Então pulamos a
cerca, fizemos um azimute pra catar a trilha certa até encontrar o
PC. Ali estávamos mais uma vez com nosso quarteto preferido. O sol, àquela
altura, ia alto e quente, lascando o cano! Chegando ao PC 10, ainda rolava água
e Guaramix bem gelados, pra nossa alegria!
Fiz a transição e seguimos pedalando até o PC11, onde
teríamos que fazer outro trekking subindo morro. Que subida miserável e que
vista linda lá de cima! Um cara da Giramundo do nosso lado se perguntava em voz
alta o que foi fazer ali. Provavelmente vamos nos encontrar em outras provas
porque, pela cara dele na chegada, descobriu e gostou.
Lá em cima, no PC12, andamos um pouco pra ver se dava pra
rasgar aqueles 500m de mato num azimute básico mas, na boa véi!, tava muito fechado.
Depois das abelhas, pensamos no custo/benefício, decidimos descer pela trilha
mesmo.
Poxa, Vitor conta passo e conversa ao mesmo tempo sem se
atrapalhar! Dá tão certo a conta que fico a pensar que, se fosse eu, seria a maior
confusão. Teria que ficar muda.
Encontramos o PC 13 no curral. E, juntos outra vez com os
meninos da BB Adventure, encontramos no PC14 uma pista escrita no chão com
pedaços de madeira e fizemos um corte de caminho pro 15. Daqueles que,
provavelmente, todo mundo fez. Aliás, queria saber onde esse povo achou perna
pra correr tanto naquele sol quente. Ninguém cansou, gente! Estava me achando
tão rápida, rs! Mas, meu-Deus-do-Céu!, levei o maior susto quando vi a planilha
de tempo. A distância entre nós e a primeira equipe de todas foi de quase 4
horas no final da prova. Que coisa chata!
Sei que cheguei no PC15 com muito calor e calafrios. Vitor parecia um camarão, já que perdeu boné e óculos pras abelhas.
Nossa água fervia no squeeze da bicicleta e na mochila não tinha mais nada.
Pedi ao morador da casinha água pra beber e pra jogar na cabeça. Também tive
que tomar um remédio, caso contrário, acho que terminaria a prova rastejando. Dizem
que picada de abelha dá fraqueza. Desculpa boa, eu tinha, rs! E depois vou ter
que tomar um remédio de verme porque o que tinha de cabeça de prego naquela
água não estava no gibi!
Ali, assinamos o PC na posição 15 do geral. Recompostos, saímos
para o trecho final da prova, pedalando. Com poucos minutos o Tandrilax fez
efeito e já me sentia bem melhor. Além disso, o vento do sertão fica
mais fresco pela tarde e a brisa leve já ajudava bastante. O medo era de
anoitecer porque sem luz o negócio ficaria feio pro nosso lado. Eram PCs
distantes mas com percursos mais fluidos, de estradão, exceto por umas
pegadinhas rápidas.
Vitor recitava dois palavrões por cada porteira e três por cada mata-burro
longitudinal... Parece legal mas fala cada palavrão pior do que o outro, rs!
Um bom exemplo de pegadinha foi um corte de caminho bem
pertinho do PC17. Vitor estava na frente e desceu na maior velô por aquele singletrack que parecia delicioso de
percorrer! Uma estrada aberta, lisa, sombreada, a coisa mais fofa do mundo! Não
deu 50 metros pra ficar impraticável de tanta pedra. Sacanagem retada!
Ainda bem que do 17 pro 18 era só estradão! E pra chegada
também. O medo de escurecer nos fez pedalar com mais ânimo. Os empurrões de
Vitor também. Sei que depois de pouco mais de 10 horas de prova, nós chegamos
comemorando por terminar mais essa prova, e ainda pontuar no RBCA (Ranking Brasileiro
de Corrida de Aventura). Ficamos em décimo primeiro entre as duplas.
Esse negócio de RBCA é bem bacana! Esperamos ficar entre
os dez por algum tempo, já que sabemos que a coisa é bem dinâmica e temos que
participar sempre de umas provinhas pra colher pontos por aí afora.
Foi uma prova massa! Que dia! Como valeu a pena acordar 2h
da manhã! Curtimos tanto, que esquecemos da vida completamente. Voltamos
pra casa resenhando horrores! Podres de sujos, arrumamos um posto de gasolina
na estrada pra comer alguma coisa e, como duas crianças que brincaram o dia
inteiro, dormimos exaustos depois de um bom banho.
As unhas?? Ah, tive que ir no salão pra tirar o resto do
barro que não saiu de jeito nenhum.
Esperamos participar da próxima etapa do CICA, minha gente.
Pena que não dá pra correr tudo. Estaremos viajando na Casco de Peba mas o
Desafio dos Sertões nos levará até nossos amigos de Juazeiro, com certeza.
Mucugê nos espera, com fé em Deus! E vamos em frente que a vida passa e o tempo
urge. Não tem terapia mais bacana do que Corrida de Aventura! A vitória já
começa na linha de largada.
Vida longa pra nossa Corrida de Aventura e aos organizadores
dessas provas que têm um trabalhão pra fazer nossa terapia ficar mais intensa!
Até breve!
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