Mucugê é uma cidade linda, um dia vou morar lá. Vou ser Dentista
ou Fiscal de Vigilância Sanitária ou Cozinheira ou Garçonete ou Ajudante de
Pedreiro. Topo qualquer parada pra voltar pra lá para sempre. Sei costurar
também! Um dia eu vou embora e só volto aqui pra ver o mar.
Foi a primeira vez que apareci na Corrida do CT
de Mucugê. Na cabeça do meu treinador eu
sou “boca de zero nove”, como dizia o meu pai. E isso aí é coisa boa, tá? Ele dizia que eu tirava leite em cabra correndo! Gente que bota os bofes pra fora e sangra o nariz, mas
não para de correr.
Eu não sabia se conseguiria, mas aceitei o convite de Tadeu. Não sou
se recusar essas coisas, não. Principalmente se tudo estiver favorável. Tipo:
Todo mundo vai pra lá, eu posso ser Mega Power e meus meninos vão ficar bem sem
mim.
A proposta era fazer Corrida de Aventura no primeiro dia, Corrida em Trilha no segundo dia e, se entrássemos no percurso Mega Power numa das duas, fazer o Desafio do Cruzeirão. SIM, se minhas unhas
permitissem. Fiz um monte de provas esse ano. As unhas estavam uma tragédia. Já
tinha perdido cinco.
Eu preciso falar dos meus amigos. Só um pouquinho... Esse
pessoal é gente boa, tem boas maneiras, sorriso no rosto e bom humor. O que tem
menos riso no rosto é o que mais faz a gente rir. Scavuzzi é uma figura impar!
Perto dele, a gente fica com as bochechas doloridas de rir. Somos todos irmãos!
Essa frase eu digo desde o começo e, embora nossas vidas dêem muitas
voltas, o ponto de encontro é o mesmo. E a gente sempre dá risada das piores
histórias, faz piada das nossas vitórias e derrotas. Aliás, nunca fomos
derrotados! Nunca seremos!
Primeiro Dia- Corrida de Aventura
Eu queria brincar tudo porque pagamos pra brincar tudo, mas
Corrida de Aventura é um jogo de estratégia, força, coragem e determinação. Como
todo jogo precisa de regras pra não virar “cachorrada” , aceitamos as regras e
fomos pra largada.
Eu e Vitor na dupla mista, Mauro, Gabi, Scavuzzi e Tadeu no
quarteto misto.
O primeiro Desafio da prova era fazer o trecho de orientação
em menos de duas horas pra não ficar na Categoria Light. Definitivamente, nosso
objetivo de prova não era esse. Falando por mim, sou sempre disposta a assumir
a situação que vier, mas ser Light eu não queria não.
Largamos em sexteto e nos separamos no primeiro
desentendimento. Muita gente navegando é uma merda! Péssima idéia, que
foi resolvida na primeira bifurcação. Mauro pegou o bando dele e foi pra um lado, eu peguei minha
“banda” e levei pro outro.
Minha banda começou a espernear quando dei a referência
do PC em dose homeopática. Aproveitei para “soltar os cachorros” e xingar os
melhores palavrões de um vocabulário que só pode ser pronunciado assim, sem ninguém
por perto. Tão inusitado que tivemos uma crise de riso. Impus respeito
porque navegador não merece ficar ouvindo desaforos, não, minha gente! Que é
isso!?
Então!? ... Primeiro pegamos os PCs mais difíceis, no meio
das pedras, dentro das valas, depois saímos “desbandeirados” pela cidade, achando PCs nos becos
de Mucugê. Até no esgoto tinha PC. Ainda teve a parte de bike com orientação.
Enfim, conseguimos pegar os PCs num tempo menor do que o programado.
Ufa, somos Power!
Fomos pedalar em outro mapa, com outra escala! Depois de um
bom trecho de asfalto, chegamos por terra. A fazenda de café tinha pivôs de
irrigação com diâmetro do mesmo tamanho da área urbana de Mucugê. Uma imensidão. O PC2 era
virtual, o 3 era gente. De lá, um pouco de trilha pra dar uma
balanceada. E seguimos para o PC4, que estava escondidinho naquela outra trilha do lado
esquerdo do estradão. A estrada empoeirada parecia não ter fim, as subidas
pareciam planos. O caminho nos levava para um singletrack até o rio, que batia direto num paredão
enorme. Pronto! Bastava pedalar, sentir o ventinho no rosto e chegar até o PC5.
Junto com nosso quarteto outra vez. Inúmeras vezes nos encontramos. E acabamos chegando no PC6
quase na mesma hora.
O mapa do trekking até o PC7 já era com outra escala. Vitor
desceu no rapel e eu na tiroleza, pela primeira vez na vida. Pegamos uma
fila, que deve ter durado mais de meia hora. O que sei é que estava com medo de
bater minha bunda naqueles galhos mas precisava descer logo pra fazer um xixi. Então
pedi pra o Bombeiro me descer bem devagar, porque tenho certeza de que faria
xixi nas calças antes de bater na água. O povo já faz piada com minhas
maluquices, imaginem a cena?
Descemos por dentro do rio pra achar o PC8. Estivesse chovendo mais um pouco, o PC seria dentro de uma cachoeira. Dali,
entramos na primeira trilha que apareceu para sairmos das pedras em direção ao PC9.
Uma pena que não conseguimos passar para o percurso Mega
Power! Embora estivéssemos no tempo, já tinha passado uma porrada de gente, excedendo
o limite de gente pra se perder na serra. Teve gente que não curtiu, mas eu me
contentei em ser Power numa boa! Estava amarradona, curtindo horrores!
Descemos o ladeirão de asfalto e seguimos para a trilha do
museu do garimpo. Merda de trilha com tanta pedra! Sou péssima pra pedalar em
pedra! Paciência! Pegamos o PC14 e seguimos para a chegada.
Segundo Dia- Corrida em Trilha
A parada agora era comigo e Tadeu.
Mesmo esquema: Categorias Light, Power e Mega Power. A gente
tinha que correr pra ver o que ia rolar. Eu estava bem direitinha pra quem
tinha corrido quase 60km no dia anterior. As cinco unhas que me incomodaram não
estavam nos meus pés desde a Odisséia de Pernambuco. Assim, sem outras unhas pra
incomodar, ficou bem tranqüilo. Das pernas e do fôlego, só saberíamos
após a largada.
Tadeu, animado e confiante, queria resolver seus problemas
com as trilhas de Mucugê, reduzir seu tempo de prova em relação ao ano passado.
No mínimo, ser Mega Power. Eu acredito muito nas minhas canelas secas, mas
nunca se sabe o que pode acontecer. Ser Mega Power é massa! Fechou!! Objetivos
bem alinhados! Queremos o Mega Power!
Largamos!
Os primeiros cinco km foram ofegantes pra mim, como sempre.
A adrenalina do começo dá um pouco de cansaço mas estávamos muito tranquilos. A
natureza ajuda quando você sabe quando e como aproveitar.
Corremos pela cidade, pegamos a trilha pra o Ecoville
Mucugê, entramos no rio, molhamos os pés, corremos pelo lajedo e nos tornamos
uma dupla Power.
Dali, começamos uma subida de lascar o cano, arrepiar os
cabelos do corpo e doer o quadríceps magoado do dia anterior. Ah, mas passou
rapidinho... O corpo começou a acostumar, ficamos de couro quente. Sem contar
que entramos numa trilha toda plana com a vegetação de arbustos que chegavam
até a altura do suvaco. E que coisa boa que é correr com aquelas fitinhas. Abri
meus braços de felicidade! Corrida balizada é massa pra relaxar! Recomendo para
Corredores de Aventura! Não tem coisa melhor do que passar um dia na adrenalina
do mapa, da bússola, dos equipamentos, estratégias, dos downhills, de todos os
apetrechos de uma Corrida de Aventura... E depois fazer uma corrida toda
balizada. Pensei que se a turma toda tivesse ido pra soltar as pernas seria
muito legal.
Tadeu estava tão bem que só respeitava os 20m de distância.
Chegamos ao km 11 animados e viramos Mega Power! Que bom que viramos Mega Power, 21km!
O percurso é ainda mais gratificante. As cachoeiras são gratificantes! Os rios,
as pedras, os barrancos, as flores são gratificantes! Os gritos dos amigos são
gratificantes! Todo e qualquer desconforto ficou pra trás, bem lá atrás.
Depois de 15km fiquei animadíssima. Aproveitei a presença de
possíveis alunos da Escola de Aventura para explicar tudo que aquelas pessoas
precisavam fazer para começar uma nova vida. Falei tudo! Dos cinco encontros,
do primeiro dia de aula teórica, do rapel com Josemar, do treino noturno, do
treino de mountain bike e da corrida de Formatura. Tadeu não se meteu muito na
conversa não... Não sei porquê... Rs!
Então, depois de pular muita pedra e correr pelos matos de
Mucugê, entramos na cidade, passamos por trás da igrejinha e seguimos para a
chegada com as três pulseiras nos braço. Duas horas e quarenta de oito minutos de
fitinhas coloridas! Adorei!
Terceiro Dia- Desafio Uphill do Cruzeiro
Preguiça infeliz! Má vontade de viver, imagine de subir o
Cruzeirão. Uma chuva fininha, um friozinho gostoso pra colocar um agasalho e
tomar um café da tarde. Mas a pessoa, ao invés de tomar um café com os amigos,
vai pro Cemitério Bizantino pra subir o Cruzeirão. Tadeu? Ah, ele estava
animado, queria muito se acabar naqueles 700m com 48 graus de inclinação. Onde
mesmo que tinha essa informação?
Antes de subir, pegamos nosso número de peito e ficamos na
maior resenha. As gargalhadas que eu dei já valeram o sacrifício.
Cada atleta saia num tempo, a cada 2 minutos. Os homens
primeiro, depois as meninas. Do lugar de onde a gente ficava esperando a vez,
dava pra ver a galera escalaminhando o morro em alguns pontos. Para os meninos,
o tempo precisava ser abaixo de 12 minutos para ganhar a camisa. Já as meninas
precisavam subir em menos de 14 minutos.
Sim!!! Resolvi subir o mais rápido que pudesse. Tinha horas
em que era paredão, que só dava pra subir com as mãos no chão, de quatro. Em outros
momentos, dava pra andar muito rápido. Correr, nem pensar! Minha garganta
ardia, o ar parecia rarefeito. Um pouco antes de chegar lá em cima, passei a
mão no nariz pra ver se estava sangrando. Foi só sensação... Subi em 13minutos
e alguns poucos segundos. Acabada!! Devo ter demorado mais de 14 minutos pra me
recuperar, RS!!!
A camisa foi pra o meu treinador como sinal de gratidão! Ele
quem inventou essa história de fazer três competições num mesmo fim de semana.
Pra mim, foi muito divertido, muito mesmo!
..............
Pra finalizar, desejo VIDA LONGA à Corrida de Aventura, à nossa
equipe, à nossa Escola de Aventura, aos amigos queridos. VIDA LONGA à Corrida do
CT Gantuá. Tivesse que descrever com uma palavra, diria: IMPECÁVEL!
Foi um ótimo fim de semana!!!
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