A última corrida em quarteto Penélopes do Agreste aconteceu em 2010, numa prova de 160km em Alagoas. Depois
disso, os planos pra outras provas foram adiados por conta de outras prioridades. Não vai dar pra
contar tudo que rolou antes de chegarmos em Natal porque é história pra mais
de 20 páginas, por isso vou ter que jogar a prosa mais pra frente.
O projeto se arrasta faz tempo. As meninas viviam me cobrando o retorno. No início desse ano conseguimos
escolher a prova e fechar o quarteto: Eu (Luciana), Thays, Gabi e Lucy (que corre em dupla levando o nome da equipe faz um bom tempo).
Na Bahia a gente não corre em
quarteto pra não desfalcar o Campeonato. A prova foi escolhida a dedo. A Odisseia é a prova mais antiga do Brasil, ainda em execução,
realizada por Sérgio Bandeira, um dos precursores da Corrida de Aventura no
país, tanto como atleta, quanto como organizador. Quem gosta de perrengue vai
pra Odisseia! E foi isso que fizemos.
Já inscritas, nossa Thays
informou que a família cresceria e estaria de fora da prova... Lucy mudou para
o Pará... Em algum momento ficamos eu e Gabi decididas a correr em dupla, caso
não fechássemos o quarteto. Daí, Bárbara e Cíntia aceitaram o convite, ambas
ex-alunas da Escola de Aventura do Agreste... Cíntia teve um problema sério de
saúde (está bem agora).
Depois de muito vai e vem, pra nossa sorte, Lucy conseguiu
liberação do trabalho e ficou tudo certo.
Quarteto final: eu,
Gabi, Lucy e Bárbara.
Quase não treinamos juntas.
Lucy teve que pedalar pela floresta amazônica, Bárbara conciliava treino,
faculdade e trabalho e Gabi era com quem eu mais encontrava, e ainda assim era
pouco.
Eu, Gabi e Bárbara viajamos
juntas da Bahia, na companhia de Gladimir e Vitor, representantes da
Aventureiros do Agreste. Arrumamos uma bicicleta para Lucy daqui porque a
baldeação de Juruti até Natal seria complicadíssima. Só pra se ter uma ideia,
ela saiu de Juruti um dia antes de nós. Como a decisão de levar essa bicicleta
foi de última hora, sequer houve tempo para uma revisão básica.
A van de Brutos (só depois que
voltei pra Bahia ele contou seu verdadeiro nome: Washigton. Morri!) chegou toda
trabalhada na pontualidade. Colocamos as bicicletas na carretinha e seguimos
por quase duas horas até Barra do Cunhau, local da prova.
Bom de Sérgio é que ele já
pensa em tudo! Dá dica de transfer, pousada e o que precisar. Não tem aperto
antes da prova, só no dia que tem muito.
Depois do jantar, quando
desembalamos as bikes, as surpresas começaram... Os dois pneus de Gabi estavam
vazios, com o líquido do notubes escoado na caixa.
A bichinha ficou agoniada!
Vitor entrou na parada pra ajudar. Teve o maior trabalho remover tudo, limpar
a sujeira toda e arrancar pito pra colocar câmaras normais.
...
Pausa para o briefing...
Quando chegamos ao terraço da
pousada, o check-in rolava. O mapa lindo, todo quadriculado de canavial, foi explicadinho PC a PC, exceto os que seriam plotados a partir do segundo
trecho de trekking.
Com a proibição do Garmin, os
anjos Pezão e Malena, vulgo: casalzinho, fizeram a gentileza de emprestar um
dos seus relógios pra gente ter noção de tempo. Aliás, foi uma prova em que
vários anjos apareceram em momentos cruciais.
...
Vitor terminou de arrumar os
pneus da bike de Gabi depois do briefing. Com isso, perdemos duas câmaras
reserva.
Depois das arrumações, o mapa. As meninas participaram de todo o planejamento da navegação.
Gabi não dispensou um mapa reserva e nos debruçamos por algumas horas,
com Babi também fazendo suas observações.
Amanhecemos com o pneu da bike
de Lucy vazio, faltando minutos pra entregar na carreta. Que tensão da zorra
pra essa prova acontecer! E a gente tinha tudo pra desanimar... Peguei mais uma câmara reserva pra trocar. Pezão passou por ali, deixou kit remendo e espátulas. E trocamos nos poucos minutos que tivemos. Ufaaa!
Na hora de botar as bikes na
carretinha, contei a Glad que só tínhamos uma câmara reserva de pito grosso.
Ele subiu correndo, pegou uma 29 de pito fino e me entregou. Foi o tempo de
enfiar na bolsinha da bike e encaixar na carreta.
Nossa! Eu ficava pensando no
que mais poderia acontecer, ao mesmo tempo percebia que as soluções apareciam
na hora.
Foto: Odisseia. Largada com natação até a outra margem. |
A largada rolou pontualmente às
6:40h para aproveitar a maré enchendo. No meio do bolo, corremos para mais
perto do mar, na parte mais estreita da travessia.
Natação de 300m na boca da
barra, vários curiosos observando. Ouvi um dizer que ninguém fazia aquilo de
atravessar assim pra o outro lado, mas ignorei solenemente pra não me dar ao
direito de sentir medo. Pulei na água como de costume: tênis, mochila e tudo
mais. Nadei como uma louca, olhando pra trás de vez em quando para não perder
as meninas, mas acabei chegando antes. Acho que nunca nadei tão rápido na minha
vida e nem sei onde arrumei tanta força nos braços. Gabi grudou em Lucy e Babi
veio logo atrás. Foi uma travessia muito punk! Engoli uns 3 litros de água
salgada, mas era isso que a gente queria, né!? Só fiquei preocupada com nossa
mascotinha Babi, que só fez 2 provas na vida, além da Corrida de Formatura da
Escola de Aventura. Imaginem 130km? Entretanto, ela já começou nos
surpreendendo. Apesar do cansaço, manteve a calma, nadou devagar e sempre até o
fim.
Com a maré enchendo, teríamos
que voltar por lá novamente... Nem queria pensar muito no tema. Recompostas dos
litros de água que bebemos, seguimos pro trekking de 12km. Gabi, nossa
capitã, já veio logo me falar pra aliviar com as meninas, não puxar muito no
ritmo, blá, blá, blá... Oxe! Eu juro que não fiz nada! Lucy tem o trekking mais
forte de todas e só precisava se lembrar de suas habilidades. Fizemos um
trekking incrível pela beira do mar, curtindo aquela manhã linda de sábado com
o mar mais azul do universo! Algumas equipes optaram pelo caminho por trilha,
nós pela areia da praia, tagarelando horrores e resenhando o terror que foi a
natação. E 5km depois de muita tricotagem, o primeiro PC na cruz abriu os braços
pra nós lá em cima da duna, descortinando uma vista ainda mais linda!
Babi ficou responsável por
levar nossa câmera fotográfica, para registrar os melhores momentos
Penelopísticos, e pelo racebook. Tirou várias fotos lindas no começo da prova,
depois ficou com preguiça. Lucy ficou com a contagem de tempo no trekking, a
calculista. Gabi, nossa capitã e co-navegadora, marcava tempo e distâncias.
O trekking pela praia foi tão
massa que mudamos de estratégia sobre o PC “Y”. Já tinha localizado a “boca” da
trilha no caminho pra cruz. Ficou mais prático. Quando a trilha acabou,
azimutamos e seguimos. Muitas equipes já procuravam o PC por ali. Os
marimbondos encontraram algumas equipes, antes deles encontrarem o PC. Nós só
encontramos o PC, ainda bem.
Foi a primeira vez que
encontramos Vitor e Glad na prova. Eles seguiram num trekking forte logo à
nossa frente. Por 3,5km caminhamos por um canal de “pesque e pague” até beirar
o mangue e chegar à praia novamente.
Com a maré mais cheia, a
distância entre os pontos deu uma dobrada básica. A “boca nervosa” da barra já
não era o lugar mais seguro para atravessar. Pra cair no lugar certo, fomos o
mais próximo possível, na parte menos nervosa, e nos jogamos. Mas, não antes de
fazer os combinados e colocar umas mochilas no sacão de 100litros. Grudadinhas,
Gabi e Lucy, eu e Babi, caímos pra dentro. Chegava ao pólo sul, mas não chegava
do outro lado. As meninas começaram a gritar com câimbras. O salva-vidas
aproximou-se de caiaque para monitorar nossa travessia, enquanto Gabi berrava
palavrões indizíveis! Deve ter ficado horrorizado! Lucy também xingou tudo o
que pôde. Só Bárbara teve câimbra com educação. Tinha horas em que não sabia se
estavam rindo ou chorando. Ri tanto que dobrei a quantidade de água engolida.
A correnteza fez o favor de nos
deixar um ponto depois, como se fosse um ônibus, que você pede ao motorista pra
parar e ele finge que não ouviu. Mas tudo bem! Depois daquele trecho da prova,
tive a sensação de que não precisaria me preocupar com Bárbara, que mostrou um
preparo psicológico absurdo. Foi muito punk!
Transição Natação- Canoagem |
Lucy toda feliz! |
Hora de remar 15.8km (medidas
oficiais da organização). Eu com Bárbara e Gabi com Lucy.
Aqui na Bahia tem poucas provas
com canoagem. Quando tem, os organizadores, estrategicamente, jogam a
modalidade para o fim da prova, utilizando como corte pra evitar faltar barcos.
Na Odisseia, “o buraco foi mais embaixo”. Não havia possibilidade de ficar sem
remar, exceto se a equipe desistisse.
Como não treinamos juntas,
inicialmente, foi mais difícil de ajustar. Bati o remo na cabeça de Bárbara
muitas vezes. Fomos todas, sem exceção, no esforço para fazer o melhor. Toda
vez que eu baixava a cabeça pra olhar o mapa, o barco mudava de direção e
acabava fazendo aquele leme que freia e atrasa a viagem. Os galhos do mangue
bem sabem o quanto tentamos.
A canoagem é sempre um momento
bom pra conversar, cantar, trocar ideia. A nossa foi um momento de alinhamento
de conduta porque esse foi o treino que a gente precisava pra fazer a volta, que
ainda vou contar como foi. No fim das contas, fizemos dois cortes de caminho
até o PC da transição para a bike, encurtando a distância.
Qualquer dúvida sobre a
resistência de Bárbara a uma prova de 130km se esvaia a cada modalidade. A
menina é bruta como o pai, Vand, que é atleta da equipe também. Segue em frente
sem reclamar e até as queixas são muito sutis.
Com a bunda quadrada do
caiaque, o mountain bike de 41km veio pra dar aquela mudada na musculatura
trabalhada. Um sonho a mudança de modalidade!
Inicialmente Lucy precisou se
alinhar com sua magrela nova. Após um ligeiro estranhamento, conseguiram se entender. E
que vontade da nossa amiga de fazer essa prova! Eu não pegaria uma bicicleta
emprestada pra uma corrida de 130km nem a pau! Minha bicicleta não largo de
jeito nenhum. Lulu se superou mesmo!
Foto de Sérgio Bandeira |
O canavial não é o lugar dos
melhores pra navegar. São muitos cruzamentos, estradas secundárias, caminhões
enormes que mais parecem trens voadores, levantando aquela poeira vermelha pra
cima e muita areia fofa pra brincadeira ficar mais emocionante. Salgadas
até a alma, recebemos tratamento de beleza completo com pó vermelho. O
protetor solar se misturava no rosto, formando um creme de esfoliação.
Seguimos por uma estrada reta,
atravessando para o outro lado do asfalto, para mais uma estrada de barro... Vira pra
esquerda, pra direita, 500m aqui, 100m ali, descemos da bicicleta e fomos
varrer a área pra encontrar o PC.
O mapa impecável, não deu
trabalho. Quem deu trabalho mesmo foi o pneu de Gabi, que resolveu furar na
saída do PC. Lembram daquela câmara que Glad me emprestou de última hora? E das
espátulas de Pezão? Salvação da pátria!
Na cirurgia de troca, dentre as
funções distribuídas, teve uma mocinha que ficou fazendo self na maior cara
lavada, enquanto a gente suava a camisa. Quem mandou dizer que ela era a
fotógrafa oficial? Tomei na cara... kkkk!
Quando as meninas me
perguntaram o que eu não sabia fazer na bicicleta, cá entre nós, pensei logo em
consertar corrente e lembrei que deixei a chave de corrente no hotel. Não teria
como consertar, mesmo sabendo. Vixe maria! Xocotô, mangalô três vezes!
Seguimos para o PC 10
animadíssimas! O sol inclemente fazia sua parte, jogando aquele bafo quente
sobre cada uma de nós. Nuvem nenhuma aparecia pra apaziguar a situação. No
caminho, nosso casalzinho querido deixou uns remendos de câmaras, quando
contamos sobre o pneu furado. As meninas olharam pra minha cara já querendo
saber se eu sabia colocar remendo... Sim, sei, vamos levar. Se não soubesse
teria que aprender na hora.
O PC 10 estava no final de um
sigletrack misturado com downhill, muito íngreme. Se atravessássemos o charco
pra alcançar o outro PC, seria um bom corte de caminho, entretanto, encarar
aquele paredão com mata fechada no fim de tarde nos parecia totalmente
desnecessário. Prudentemente, preferimos pedalar 23km a arriscar.
A subida de volta foi bem
cruel, mas foi a melhor alternativa ainda assim. Fizemos uma volta da zorra, chegando ao PC da barragem já de noite. Caminhamos pela margem esquerda
toda sem encontrar. Chegaram duas equipes, inclusive nossos Aventureiros,
Vitor de Glad. Então, em nossas conjecturas, Lucy ventilou a possibilidade de
estar do outro lado da parede da represa. Pronto! Foi dito e certo! Estava lá.
Bastava olhar o mapa. Perdemos uns 10 minutos por falta de atenção. O cara
botava até as bolinhas do PC na posição correta. Não tinha como errar.
A propósito, essas meninas
viraram farejadoras de PCs. Ia dando as coordenadas, elas saíam desbravando os horizontes e ribanceiras. Contavam as distâncias, marcavam tempo, não erravam uma. Juntas, fomos ganhando uma confiança na navegação que ninguém mais nos
segurava.
O ritmo na bike diminuiu no
começo da noite. O pneu furado atrasou nossa prova, encurtando o tempo pra
escapar do horário de corte. Ainda assim, não deixamos de fazer força, muito
menos de ter esperança. Nossa capitã estimulava o tempo todo pra gente não
deixar de lutar.
Quando pegamos o asfalto para
chegar até a Vila, soubemos por Sérgio que ainda estávamos
dentro do limite de corte. Olha, foi tanto grito naquele breu,
rsrs!!! Que notícia maravilhosa!
Chegando à Vila, sentimos falta
de Vitor e Glad. O horário de corte estava pertinho.
Deixamos as bicicletas no canto
e fomos ver o que tinha pra comer na mochila e no barzinho da D. Divina. As
vegetarianas comeram tapioca e as carnívoras caíram pra dentro na sopinha de
charque dos Deuses. A delícia que é comer uma comida quentinha depois de tantas
horas de prova não tem preço.
Plotei os PCs do trekking, fiz
um rápido planejamento enquanto esperava a sopa. Os meninos da Aventureiros
chegaram, mas não conseguiram passar do corte. Eles chegando e a gente
acabando, deu pra bater um papinho e saber como estava a prova de cada um.
Ok, então! Partimos para o
nosso trekking determinadas. Primeiro o PC X porque era só travar o azimute e
ir embora, se a gente não se deslocasse, claro! As meninas estavam demais! Iam
na frente vasculhando tudo, catando trilha meio difusa pela noite afora. Nosso
objetivo era o finzinho da área aberta, quando começava a mata. Gabriella
parecia um cão farejador, louca na frente, dizendo que era por ali, por ali,
por ali e, de repente, achou o PC. Nada de dificuldade! Estávamos demais!
Seguimos tagarelantes para W,
beirando a mata à nossa direita. Não demorou para entrarmos no coqueiral.
Entramos na primeira, andamos os metros previstos e não achamos o PC. Com
objetividade, voltamos, encontramos a trilha correta, seguimos e lá estava ele.
O trekking foi todo na areia
fofa. Suava loucamente, parecendo um dia de sol escaldante. Por um momento
achei que era só comigo... sei lá, menopausa pode estar perto ou talvez não
estivesse muito bem mesmo ou a sopa de charque. Nossa, que calor! Deu o maior
alívio saber que todas sentiam o mesmo.
Fizemos o trekking em 2 horas.
O PC da transição e o quarteto da Coyote ficaram surpresos ao nos ver voltar
tão rápido. Eles fizeram o trekking em 3horas. O nosso foi o melhor tempo do
trekking. Suamos a camisa!
Enquanto plotava o PC da bike,
as meninas se resolviam. Teve gente até que tirou um cochilote. Sérgio deu as
últimas coordenadas pra fase final da prova. Faltavam 2 PCs de bike, somando
mais de 30km, e o trecho de canoagem.
Das duas opções de caminho para
o primeiro PC do trecho de bike, uma era singletrack numa mata e a outra uma volta bem maior por estradão.
Estrategicamente, optamos pelo estradão. As meninas estavam cansadas, nossa
iluminação começava a dar sinais de morte... Quem tinha lanterna de cabeça
funcionando, não estava mais com a da bike, e quem estava com a de bike, já
estava com a de cabeça ruinzinha. Apoiar na iluminação na estrada mais aberta
seria bem mais fácil.
O pessoal da Coyote não demorou
a sair. Nós demoramos mais uma meia hora e seguimos. Sérgio foi embora logo
depois e passou por nós na estrada, desejando boa sorte.
Com 3km de pedal no asfalto, a
corrente de Babi partiu. Lembrei da chave de corrente que deixei no hotel.
Quase morri! Cheguei a tirar tudo da mochila pra ver se não estava enganada.
Nada de chave. Ficamos ali olhando, pensando, tentando encontrar uma solução.
Catei o power link, peguei meu canivete, pensei, tentei... Não havia nada que
pudéssemos fazer.
Sérgio tinha acabado de passar,
não queríamos resgate, talvez tivesse outro jeito. Pensamos em voltar na Vila
pra ver se achava alguém pra ajudar... uma oficina, uma bicicleta. De repente,
umas luzes apareceram do sentido da Vila em nossa direção. Nem acreditamos! Era
a Coyote, que não tinha conseguido encontrar a trilha e decidiu fazer o mesmo
trajeto que escolhemos.
Olha, esses meninos fizeram de
tudo pra ajudar. Fizeram força, tentaram colocar o power link, que não era do
modelo da corrente de Bárbara. Demoraram pelo menos uns 40 minutos tentando nos
ajudar. Quando decidiram emendar a corrente, a chave deles quebrou. Precisavam
ver nossas caras. Não tinha mais jeito! E vocês acreditam que essa galera
propôs rebocar Bárbara por mais de 30km pra gente não desistir da prova? Pôxa,
como ainda tem gente boa nesse mundo e no nosso esporte. Só não aceitamos a
gentileza porque seria muito sacrifício pra eles.
De volta à estaca zero, em
consenso, decidimos tirar os tênis da mochila pra empurrar a bike de volta até
a Vila, na esperança de achar um filho de Deus que ajudasse. Não tinha sentido
que fossemos pedalando e Bárbara empurrando. Caminhando e jogando conversa
fora, depois de mais ou menos 1km, avistamos mais lanternas. Mas não tinha nenhuma
equipe mais na Vila... Que estranho! Nem acreditamos quando avistamos a Bichos
Escrotos, equipe do Ceará, vindo em nossa direção.
Eles disseram que estavam
cortados e decidiram ficar mais um pouco na Vila. Começaram a arrumar a
corrente, dizendo que só sairiam dali quando estivéssemos com a bicicleta
pronta. E foi o que fizeram! Por mais de 40 minutos, praticamente uma cirurgia
pra tirar o gomo da corrente, que empenou. O outro gomo deu certo. Essa turma
foi demais com a gente!
Dali em diante, a corrida era
contra o tempo, por conta do risco de perder o avião. Voltamos às sapatilhas,
nos recompomos e seguimos. Bárbara um pouco tensa com a corrente reduzida, foi
ganhando confiança e pedalando cada vez mais rápido. Quando iniciamos a trilha
que já perto do PC, cruzamos com casalzinho. Logo depois com o quarteto que nos
ajudou. Todos achavam que tínhamos desistido da prova.
No caminho pra o PC tinha umas
valas enormes, obstruindo a passagem. Deu uma chuvinha pra aliviar o calor, que
deu também aquela melecada incremental nas sapatilhas. Encontramos o PC e
seguimos. O outro estava longe, muito longe, em outra vila na beira da praia.
Uma vista linda, um paraíso. Na subida de volta, mesmo com pressa, paramos numa
casa pra um banho de mangueira.
Comecei a mentir pras meninas.
Toda hora faltava pouco mais de 5km pra chegar e o caminho era com muita
descida. Bárbara parecia que tinha bebido algum energético. A menina pedalava
loucamente... Jovem é outro papo! Rs! Dizia que queria chegar logo, torcendo
pra canoagem ser cancelada. Oh ilusão!
Imersa em meus pensamentos,
vislumbrava nossa chegada com muita emoção. Chegava a sentir a descarga de
adrenalina e as lágrimas nos olhos. Faltava pouco, muito pouco.
A chegada na beira do rio foi
uma alegria! Fizemos a transição mais rápida de nossas vidas (mentira!) e
seguimos remando até a chegada... Acabaria aqui se não fosse uma remada
escrota, com vento contra, correnteza muito contra, tudo contra. Por
quase 4 horas, apliquei tudo que treinei de leme na ida, naquela volta. Puxava
a pá pra o meu quadril com uma força que imaginei não conseguir me mexer no dia
seguinte. Não podíamos dar uma trégua de descanso.
Foi duro, suado, sofrido,
penoso. Eu e Babi nos entrosamos completamente. Lucy e Gabi vinham logo atrás e
a gente avançava pra chegada fazendo muita força.
Correndo contra o tempo, nós,
Penélopes do Agreste, cruzamos o pórtico de chegada em segundo lugar na
categoria e terceiro geral, carregando os barcos, com direito a abraços calorosos
e muita emoção.
Foi um retorno tão incrível,
que só de lembrar vem a sensação de vitória outra vez.
Em nome das Penélopes, muita gratidão à todos os atletas que estiveram presente, especialmente Bichos Escrotos, Thunders e Coyotes, que nos apoiaram incondicionalmente. Só de lembrar do desprendimento dessas pessoas, vem um sentimento tão bom que, sem dúvida, será levado a cada uma em forma de energia positiva.
Em nome das Penélopes, muita gratidão à todos os atletas que estiveram presente, especialmente Bichos Escrotos, Thunders e Coyotes, que nos apoiaram incondicionalmente. Só de lembrar do desprendimento dessas pessoas, vem um sentimento tão bom que, sem dúvida, será levado a cada uma em forma de energia positiva.
Meus Aventureiros do Agreste
queridos, somos um só coracão transbordando de amor! Só gratidão aos meninos!
Sérgio e sua equipe, muito
obrigada! Valeu cada investimento, seja físico, psicológico ou financeiro, que
fizemos para chegar até a Odisseia! Uma prova milimetricamente planejada, com
mapa impecável, organização Top das Galáxias, camisa, pórtico, backdrop,
transporte de bikes. Não faltou nada! Que bom que fomos! Ano que vem estaremos
coladas mais uma vez!
Meninas... Ah meninas! Fomos incríveis,
guerreiras, divertidas, fortes, companheiras, solícitas, participativas,
maravilhosas! Tinha que ser com vocês, tinha que ser na Odisseia, tínhamos que
encontrar tanta gente boa, era pra ser assim: TRIUFAL!
Já estou pensando na próxima e com muitas saudades!
Luciana Penélope do Agreste
(com nome e sobrenome)
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