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Couro de Bode- 53 km- 5 e 6 de dezembro

Nosso quarteto: Vitor, eu, João e Maurício.
Couro de Bode foi nossa primeira Corrida de Aventura juntos. Apesar da viagem de 7 horas até Jaguarari, deu tempo pra tudo. Fomos no sábado de manhã, corremos a noite toda e voltamos no domingo. Na entrega das bicicletas na Área de Transição, estavam aventureiros de todos os tempos e tribos. Tinha gente de Feira, Salvador, Lauro, Juazeiro, Petrolina e adjacências. Amigos queridos que estavam fora, outros que nunca saíram de dentro. Os abraços apertados viraram olhares carinhosos e cumprimentos com cotovelos pra gente se cuidar dessa COVID-19 miserável, exceto por algumas fotos rápidas. Mas ninguém pode reclamar da recepção calorosa dos organizadores, Waltinho, Daniel e todo staff, apesar da pandemia. 😊😉 Voltando pra pousada, o silêncio entre nós parecia ansiedade de não saber o que aconteceria conosco naquela empreitada. Na verdade, nunca sabemos. Isso é Corrida de Aventura mas se você parar pra pensar um pouco, esportes e jogos são assim. Até um jogo de buraco na mesa de casa, o resultado só no fim! Quebrei o silêncio perguntando aos meninos o que estávamos fazendo ali. Qual o nosso objetivo? Na reflexão coletiva... Viemos testar o quarteto em sintonia, preparo físico e navegação. Fomos ver como nos comportaríamos juntos, conhecer e reconhecer nossas habilidades e competências e fazer o melhor que pudéssemos com objetividade e foco. A diversão nem é questionada porque já faz parte de tudo, do começo ao fim da viagem. Da minha parte, preciso pensar que vou fazer o melhor que posso sem me preocupar com os outros. A cobrança interna me corrói, se entro numa parada de pensar nos pontos que tenho que ganhar pro campeonato, em qual posição que tenho que ficar, se fico preocupada com esse ou aquele atleta, ou qualquer coisa parecida. Esses pensamentos minam minhas forças, acabo saindo do foco principal, que é fazer o melhor. Isso não significa que sou a pessoa mais focada do universo. Só penso que o resultado é consequência das escolhas que fazemos, assim como em qualquer empreendimento na vida da gente. Gelo quebrado! 😉 Pronthienhos na Fazenda Alvorada, recebemos o mapa às 21h, tempo suficiente pra planejar e ainda discutir com a equipe nossas escolhas. Largamos pontualmente às 22, como uma boiada sendo tangida. Sempre é aquela correria, botando os bofes pra fora, mas ainda prefiro o “trekking” a largar de bike.
Bem no fundo do grupão, passamos por detrás da sede da fazenda e viramos à direita pra começar a subida. João levou um tombo logo ali. Não deu tempo de terminar de falar da raiz no meio do caminho... 😯 O estradão foi ficando mais e mais íngreme, até a nossa subida virar um trekking ofegante. Muita equipe embolada, inclusive nosso quarteto AA número 1. Foi uma briga danada pra tirar a foto no PC1. Aquilo sim, foi aglomeração. Tinha atleta guardando lugar pro resto da equipe chegar... Que plaquinha disputada!
Pro PC2, planejamos seguir direto no azimute. O trote rolava sempre que possível mas o trecho foi bem travado. Sabe aquele exercício de academia chamado afundo? João penou por ser alto. O mato fechou um pouco, as trilhas se multiplicavam pra vários lados, fazíamos as escolhas pelo azimute sem tanta certeza. Enquanto isso, os espinhos assombrados de Jaguarari nos agarravam em inúmeros lugares diferentes ao mesmo tempo. Braços, pernas, tronco. Aquilo não é de Deus não! A Insanos de vez em quando aparecia. Num desses encontros, Davi me contou da cirurgia que tinha feito 15 dias antes, que estava fora de forma, tentando voltar, blá, blá, blá. Oh, não se enganem com Davi, não. Cheguei a me preocupar com a saúde dele. Enfim, depois de muito malhar os quadríceps, caímos numa trilha mais larga no azimute do PC até chegar no cruzamento. Percebendo que tínhamos passado do ponto, retornamos e tudo certo na Bahia! Dá um ânimo encontrar logo o PC! O 3 foi assim, pertinho, tranquilo, a gente até se ilude que vai ser tudo assim. E seguimos pro 4 sempre trotando. No meu caso, trabalhei na ofegância por tempo indeterminado. Passamos por alguns atletas fazendo o percurso ao contrário, sem entender muito bem o que estava rolando, depois que lembrei dos PCs opcionais. O PC4 não foi trabalhoso pra gente também não. Pegamos e descemos correndo até o PC5, transição pra bike, concluindo o trekking de 14km.
No caminho, Vitor dizia que não valeu a pena nossa estratégia, entretanto, quando chegamos na AT, ele retirou o que disse. Só duas equipes tinham passado: um quarteto e uma dupla. Talvez aquela tenha sido a transição mais rápida que fiz nos últimos 15 anos. 😁 Nossas queridas, Lu Kroger e Jana, pareceram orgulhosas com nossa performance. Fomos recebidos com uma garrafa térmica de café muito quente, que elas serviram pra vários atletas também. Eu não sabia se 1:08h era cedo ou tarde, muito menos se aguentaria o ritmo dos meninos até o final. Era só o começo, mesmo pra uma prova pequena, mas estava ali pra ver o que seria de mim e de nós. Nunca tinha pedalado a bicicleta de Jana, exceto na volta que dei no quarteirão pra saber se a marcha passava direitinho. Um pouco mais pesada do que a minha e com uma só coroa na frente, segundo ela, seria a bike da sorte naquela prova. A minha teve um pequeno problema e não ficou pronta em tempo. Sei que esses meninos pesaram no pé e saíram loucos pela estrada, no sentido do PC6. Nesse comecinho da bike, não sei se consegui acompanhar ou se eles me esperaram mesmo. Direita, esquerda, esquerda, direita, direita... PC6, cruz na frente da Igreja. Fotos! Quase 3 km depois, PC7 na casa abandonada. Aí a pessoa tem que descer da bicicleta, entrar num lugar parecendo um sanitário e se posicionar como se fosse cagar pra tirar foto, por falta de espaço pra equipe toda. Menino, que situação!! 😂😂
O 8 foi bem de boa também. Tão de boa que João começou a me apressar, dizendo que se tava fácil pra gente tava fácil pra todo mundo. Oh, gente, quem disse que estava fácil pra mim? Tava não! De certa forma, o pedal da prova estava bem fluido, sem empurra bike, pouca areia, algumas valas, mas nada que atrapalhasse. Suava mas não passava mal, ofegava mas não morria. Entretanto, a subida do PC9 me fez descer da bike pra empurrar. Nem percebi que a corrente tinha saído, não foi por isso que desci. Naquele momento, João tentava me motivar, que a ladeira era difícil mesmo, mas não era tanto não. Eu que não conseguia mais respirar. Lá em cima, o PC9 não surgiu de cara. Os meninos já vasculhavam de um canto pra outro... No mapa, duas referências importantes: a bolinha do PC deslocada pra fora da trilha e o cruzamento à frente (250m). Bastou Maurício ir até o fim da trilha, voltar o tanto que tinha que voltar, que entramos no lugar certinho. Sem tanta demora, reagrupamos, fotografamos e seguimos. A descida pro PC10 não foi tão agradável pra mim quanto pros meninos. Tanta pedra que, mesmo com iluminação de farol de fusca, não foi fácil mas passou rápido. Lá embaixo, tivemos dúvida entre esquerda e direita. O tanto de valas dava impressão de que o rio poderia estar em qualquer lugar, além disso, a bifurcação não estava no mapa. Talvez, a adrenalina da descida tenha nos distraído nas distâncias. Fomos pra direita e pra esquerda, não vimos marca de bicicleta. Nem veríamos porque quem anda na frente não segue rastro. Mais tarde, em nosso momento de reflexão, conversamos sobre um tal de complexo de vira lata. Enfim... O azimute mandava a gente virar à esquerda e subimos a ladeira toda carregando as bicicletas. Desgaste superdesnecessário, ná que era só um bate e volta! Que escolha descarada a nossa! Paciência. 😅 Voltamos a ribanceira toda, subimos pro estradão e seguimos pro último PC antes da transição, o 11. Chegando ao PC12, outra transição bem objetiva pro trekking de 5km, com o dia quase amanhecendo. Só a Insanos havia passado. A de David que acabou de fazer uma cirurgia e não estava treinando, lembram? 😐😄
Ao invés de pegar o PC15 primeiro, como combinamos, não sei porquê cargas d’água, fomos pegar o 13 e o 14, pra depois ir até o 15. O 13 estava bem de boa, numa trilha secundária, depois da cancela. Apesar do relevo e das pedras, fomos rápidos. Já o 14 foi mais sofridinho. Lá em cima no cruzeiro, a ladeira só faltava nos derrubar pra trás. Não sei como os meninos subiram tão depressa porque, se já estava sem conversar por outros motivos, aquele desafio me deixou muda, exceto pelo barulho da respiração. Maurício e Vitor subiram numa velocidade constrangedora. Já João pareceu mais que estava me esperando do que cansado. Até que pensamos em rasgar mato direto pra AT e depois seguir pro PC15. Chegamos a passar a cerca, mas preferimos seguir pela trilha. Com o dia amanhecido, meus três parceiros corriam como se estivessem no começo da prova. Fui a única a levar mochila, pensando que não pesaria, mas calcei as sandálias da humildade e entreguei a João pra conseguir manter o ritmo. Quase chegando ao PC15, encontramos casalzinho (Pesão e Malena). 😍 Na melhor das intenções, tenho certeza absoluta, Pesão disse que o PC estava logo à frente no segundo tanque, bastava ficarmos atentos. Chegando lá, vimos dois tanques bem próximos. “Crentes e abafando”, começamos a rodar, rodar e nada de PC. Nessa brincadeira de ao menos uns 15 minutos, João vem checar o mapa e percebe que havia um tanque mais à frente e que aqueles eram um grudado no outro. Viva João, minha gente! Que bom que tem navegador de sobra nessa equipe pra salvar uma manhã de domingo!
Corremos até a transição pra fazer os últimos 14km de bike. Só faltava pedalar até o PC17, depois seguir pra chegada. Os quartetos Bravus e Insanos tinham saído fazia pouco tempo. A transição, mais uma vez, foi super rápida. Só que os meninos da organização chamaram atenção pro pneu da bike de Vitor. Sério!? Pneu furado, mesmo com líquido? Poxa! Maurício começou a trocar rapidinho, enquanto fui decorando as distâncias do trecho de bike pra gente não perder tempo navegando. Entendendo que o furo aconteceu em nossa chegada ao PC, Vitor preferiu apenas remover os trocentos espinhos e manter a câmara. E acertou na mosca! No giro, os furos selaram com o líquido. Pronto! Se comi poeira no primeiro trecho de bike, nesse engoli uma caçamba inteira. O povo voava baixo, fiz força pra acompanhar! Pior que depois da foto do PC17, a subida da Fazenda veio à mente. Por alguns segundos, imaginei subir empurrando. Finalmente, o asfalto, um empurrãozinho de Mau, a entrada da Fazenda, a subida que já não me pareceu tão íngreme quanto nos meus devaneios. Encorajada pelos meus parceiros, alcançamos a chegada em terceiro lugar. Parabéns aos organizadores e staffs, pelo cuidado com a gente, pela atenção, camisas, troféus... Agradeço pelos matos, pelos espinhos, pelas subidas, pelo PC2, pela festa e pelos amigos. Parabéns a todos os atletas que venceram, só pela coragem de encarar esse desafio, independente do resultado. Obrigada aos nossos Aventureiros, incluindo os que não puderam ir ou nem tiveram vontade. Basta vibrar positivo que já é massa e nossa galera sabe fazer isso muito bem. Um agradecimento especial às meninas, Janoca e Lu Kroger, nossas companheiras de viagem e fotógrafas.
Mau, João e Vítor... Quando a gente acha que uma empreitada vai dar certo e se surpreende pra melhor é o suprassumo da ventura! Três caras fortes, determinados, focados, assertivos! Que bom que cometemos mais acertos do que erros! Que bom que nossa equipe está alinhada em objetivos, sintonizada e que tem essa vibe massa! Que bom que estivemos juntos nesse fim de semana inesquecível! A Couro de Bode agora faz parte da lista das melhores provas da minha vida. Apesar de saber que em Corrida de Aventura, nem sempre é tudo uma beleza, desejo que façamos muitas outras tão incríveis quanto essa, aliás, que sejam ainda melhores! Tia Fê está jogando duro com a gente, a evolução é visível! Teste Drive do Quarteto OK!
Beijos em todos e até breve!

Comentários

Unknown disse…
Parabéns!!! Prova Show mesmo.
Unknown disse…
Parabéns guerreiros vocês. Obs o menino que avisou que o pneu tava furado foi eu kkk

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