Não sabe brincar, não desce pro play!
Foi pouco treino entre o DS e a Batalha. Sem
condições, agoniada, toda problemática, os filhos precisando de suporte. Esquece e não se fala mais nisso! Toda
decidida e sem culpa, assumi o risco junto à minha treinadora maravilhosa, que desejou boa sorte, dizendo pra gente aproveitar pra se divertir.
O fato de João não poder ir deu uma desanimada boa na gente. A sintonia do quarteto melhora cada vez mais e a gente realmente não queria
que isso acontecesse, embora ele já tivesse sinalizado que não poderia correr todas as provas. Luta foi achar outra pessoa porque já corri tanta gente boa na minha vida que não quero que deixe de ser assim. Faço Corrida de Aventura pra liberar o estresse, não o contrário. O que acontecer, além disso, é só lucro.
Mandei mensagens pra várias pessoas queridas e recebi muitos “nãos”. Mas a
única coisa que me afetava era mesmo a falta do quarto elemento.
Olha minha gente, sem melindres, já recebi e recebo tantos “nãos” da vida, que não faço drama e tenho preguiça de quem faz. Meu propósito segue sendo não ter propósito. Desejo que a vida flua, de um jeito que dê pra evoluir alguma coisa. Quero meus filhos saudáveis, quero viajar, trabalhar com gosto, me entregar verdadeiramente em todos os projetos em que me meter. Acho evoluir uma tarefa árdua e sigo toda desconfiada de quem se diz evoluído e pleno. É chão demais pra um fim de semana de Corrida, é muito chão pra 10 dias de meditação sem dar um "pio", chão demais até pra 5 anos de autoconhecimento. Cinquenta anos é pouco! Demora tanto que é gradual e nem sempre constante. Na Corrida de Aventura, quero me dar bem com as pessoas, evitar fofocas, me afastar de gente que perde tempo falando mal dos outros, se preocupando com a vida alheia.
Filosofando com a Lulu... tem horas que disparo na conversa. 😊
Léo estava bem fora da minha lista de busca, porque tinha tanta certeza
de que ele iria com sua equipe, a Selváticos, que nem cogitei. Entretanto, no
apagar das luzes, lembrei dele do nada e mandei uma mensagem. E não é
que, depois de alguns dias de aguardo, ele aceitou o convite! Todos honrados
e felizes, eu, feliz e assustada! Lembram do treino?
Na reunião pra alinhar os objetivos, parecia que a gente já
tinha corrido muitas vezes juntos. Léo também queria se divertir! Pelo menos
foi isso que ele falou sem olhar em nossos olhos... 😎
Viajamos juntos. Chegamos em Mutuípe no começo da noite da sexta, levamos as bikes
pro local da transição. Lugar acessível, iluminado e bonitinho. Arnaldinho
deixou as placas lá pra facilitar nossa vida de atleta agoniado. Ademais, como a Corrida
era curta, não tivemos nem trabalho de pensar muito na logística. Era só ir!
Ah! Eu nem contei que Vitor tinha acabado de chegar de 4
dias de meditação Vipássana, com dieta vegana esses dias todos, até a quinta-feira antes da prova.
Raiai... 😅
Mutuípe recebeu a gente de um jeito que mais do que
especial. Muita receptividade nessa hora! Briefing massa, música rolando,
prefeito e sua equipe na praça, dando boas vindas, comidinhas típicas. Eu não
esperava menos de Arnaldo, que tem histórico de realizar provas inovadoras, com
estrutura bacana, organização top, que a gente sabe que inspirou muitos
organizadores em suas provas. O legal é que cada organizador tem suas
peculiaridades, cada um quer fazer provas cada vez melhores, e quem ganha com
isso são os atletas, sem dúvida.
Largamos às 8h do sábado, correndo, fazendo força. Até o PC9,
corremos áreas bem verdinhas de fazendas, pastos, passando por vacas, pulando
cercas, porteiras, passando em riachos, pouquinho de lama, ladeiras. O rio Jequiriçá
nos fez companhia nos 3 primeiros PCs, outras equipes nos fizeram companhia
também. Teve até um menino que depois disse que eu falava muito. Oxe!
Mamau levou a nossa cordinha de reboque, mas quem usou foi
Léo, que mostrou a que veio logo no começo da prova. O cabra é forte que é
retado! Eu parecia uma pipa, quase voava. Inclusive,
do meio pro final da prova fiquei meio zonza.
Enfim, depois de umas boas subidas e descidas, alcançamos a
estrada pro PC 9, área de transição pra bike, percebendo que, enquanto subíamos
para a fazenda, algumas equipes desciam de bicicleta.
Na bike, a navegação ficou por conta de Vitor e Mau. Eles se
organizaram direitinho, nos levando por caminhos bem acertados. Hugo Maciel é
um mapeador de primeira qualidade! Os tracejados de percurso ficaram bem fiéis,
legenda ok, escala ok, distâncias ok também. Além disso, o mapa com aquele papel
impermeável é bem resistente, dá pra você usar de escudo, e também serve pra
proteger a bunda na hora de escorregar na ribanceira.
Com um mundo inteiro de PCs à nossa frente, só Jesus na
causa! Onze PCs, com direito a muitas ladeiras, até chegar ao PC21/AT2. Logo no
comecinho, numa boa subida, meu pneu traseiro travou, como se o freio estivesse
todo acionado. Obviamente, não consegui subir pedalando mas, lá em cima da
ladeira, tivemos que parar pra tentar resolver a situação. Perdemos um tempo
pensando, quase trocamos de bike, eu e Léo. Vitor, que é um dos que tem boas
ideias pra resolver esses problemas mecânicos, por conta desses dias de meditação
e dieta vegana, parecia que ia desmoronar, não conseguia pensar. Falando lentamente, ele sentou, pedindo pra gente levar a bicicleta pra perto dele. Pensem na situação da pessoa! Mas depois de
muito futucar a bicicleta, como um milagre, o freio destravou, por hora.
Foi subida pra todo gosto! De frente, de lado, de banda... Como
não dá pra esconder falta de treino embaixo do tapete, tinha horas que subia
pedalando, outras muitas que subia empurrando mesmo. Com o coração na jugular e pernas bambas, aproveitava as descidas pra dar embalo mas
tinha horas que não dava mesmo. Teve uma hora em que Togumi, o melhor fotógrafo
de aventura que se tem conhecimento nessa galáxia, estava na beira do morro...
Eu me acabo de medo de descer valas mas fiz pose e cheguei lá embaixo toda cagada, mas desci bem bonitinho pra não passar vergonha.
Em algum momento, de alguma subida, passamos pelo quarteto
Calangos (não sei se era esse o nome mas quando vejo Denise não acho que é
outra equipe). Leo deu uma paradinha pra emprestar uma chave de corrente e
seguimos. O rapaz ganhou mais uns 300 pontos em nosso conceito. Já admirava, fomos
admirando mais no decorrer da prova.
Chegando na transição, PC21, a primeira equipe seguia pro
trekking (que não sabíamos que era a primeira). Na casa, apenas as 4 bikes da
equipe. Confirmado! Sim, estávamos bem! E foi naquela transição que percebi que o “substituto”
de João era igualzinho a ele. Aperto de mente, transição rápida, objetividade
pra sair. E lá fomos nós pegar os PCs A e B, no alto do morro.
Subimos na maior velocidade possível. Tive tanta ajuda em
tantos trechos da prova, que nem sei dizer quando fui rebocada e quando não fui! Algumas vezes
foi marcante porque nunca vi um povo pra andar tão rápido. Sei que fizemos
nosso feijão com arroz na navegação, começando pela estrada, chegando na trilha, subindo “a
morrer”. E olhá só quem estava lá em cima? Togumi!! Uhuuu! Fotíneas lindas da
nossa equipe!!! Então, depois de achar o B, navegando bonitinho, pegamos a
trilha sugerida, até descermos uma ribanceira do cacete. Ali eu devo ter caído
nuns 300 buracos, torcido o pé 130 vezes, espetado a mão umas 50. Poucas
vezes pensei em cobra numa prova. Dessa vez pensei.
Quando chegamos na transição pra pegar as bikes, cadê a
Caatinga Sempre Viva que estava em primeiro? Eita, é nóis! Corre corre da zorra, Leo e Mau
apertando a mente pra gente sair do PC, eu toda feliz, passando a bola da
navegação pra Vitor, sem olhar pra que lado a gente ia quando saísse dali. Vitor
também não olhou. Foi engraçado demais, porque a gente se embananou, ficou
praticamente na frente da trilha, olhando pra lá e pra cá. Léo ficou com cara
de quem não tava entendendo nada. Deve ter achado nosso povo meio doido! Enfim,
as melhores fotos de Togumi foram ali!
Achamos o PC22, seguimos 23 e 24, onde tinha outra transição
pra trekking. Muita ladeira, muita ajuda! Léo e Maurício foram revezando nos
empurrões, para que eu subisse tudo sem descer da bike. Tinha horas em que os dois
empurravam juntos. Outras vezes, eu dava aquele embalozinho na descida e subia sozinha. Foi fácil? Não, não foi. Mas foi tão divertido quanto sofrido.
E lá estávamos nós, sob aplausos de uma torcida organizada, liderando
a prova. Togumi virou nossa flâmula de liderança, como disse Vitor. Ele sempre
estava nas ATs em nossa passagem. Os meninos pediram uma rodada de pastel pra
volta, enquanto nos preparávamos pra sair.
Estrategicamente, planejei pegar os PCs em ordem contrária,
entendendo que seria mais fácil sair da trilha sugerida e cair na estrada do
que, da estrada, achar uma trilha sugerida. Assim fizemos e parece que foi uma
boa pedida. Pra variar, muita subida. Acho que entre o E e o
D, encontramos Kaaporas, Caatinga, Calangos. Todos fazendo o sentido contrário.
Até pensei que eles poderiam descer e chegar mais rápido que nós. Isso só saberíamos na transição.
Eu tava Mortinha da Silva! Leo continuava me rebocando em
alguns lugares, mas teve umas horas que as puxadas eram tão fortes que achei
que cairia. Teve momentos em que eu puxava pra trás. Teve horas também que o reboque não funcionou por causa do meu cansaço. Sofri bem mais nas subidas. Resisti bravamente,
passei mal muitas vezes. Arrepiei, senti ânsia de vômito, sapateei na cara da
ofegância e dei beijinho no ombro pro cansaço!
Volta feita, liderança mantida com sucesso! Fotos,
muitas fotos de Togs! Aplausos! Aperto de mente! Engolimos o pastel. Transição rápida
e pernas pra que te quero!!? Como o PC25 era logo ali, entreguei e confiei! Pouca
coisa, muita ladeira sempre! Empurrão pra todo lado! Ora recebendo empurrão, ora
empurrando a bike. Cheguei a derrubar Vitor numa ladeira porque parei de
vez. 😁😂 As pernas em chamas, o fôlego nem conto! E Vitor, coitado, tava tão mal que
precisou de tempo pra levantar, enquanto eu falava pelos cotovelos pedindo
desculpas.
PC25, quase nos pediram autógrafos! Fomos! Seguimos pela
beira do rio, querendo pegar a trilha sugerida, que acabou nos afastando demais
do rio, sumiu e fu*!! Não foi uma tragédia, entretanto, perdemos algum tempo
até alinhar. Descemos uma vez, procuramos a trilha quando, na verdade, nem
precisávamos subir. Quando vimos que estávamos subindo de novo,
decidimos rasgar o que tivesse de mato pela beira do rio mesmo e olha quem
estava lá? A fita zebrada! Porquê mesmo que não fomos direto pela beira do rio? Na verdade, eu não ouvi sobre essa parte da fita zebrada
quando Arnaldo falou. Isso é que dá não prestar atenção ao briefing. Na minha
visão, tive a impressão de que os meninos tiveram dúvida se era ali porque, realmente, tinha uma parede à nossa frente, sem sinal de trilha. Quando
confirmaram que essa fita estava no script, eu disse, “Bora subir que é aqui,
Arnaldo disse que era bem perigoso!”.
Subestimei a prova de Arnaldo, achando que não precisava
fazer trekking de luvas, como de costume. Engano total! Subimos segurando pelas
raízes, catando lama, escorregando pra tudo que foi lado. Maurício achou logo
uma pedra enorme pra chamar de sua, bem colada na cachoeira e começou a dizer
que dava pra passar. Ele queria subir por ali mas alguma coisa parecida com
trilha apareceu à minha frente, para o bem de todos e a felicidade geral da
nação! Seguimos pela trilha e encontramos o PCG logo atrás da pedra de Mamau.
Ou seja, estava ali, dava pra passar, mas talvez fosse melhor que a aventura
não fosse ainda mais perigosa do que aquilo ali.
Dali em diante, apesar das ribanceiras, foi tudo rapidinho,
identificamos a trilha de volta pro AT e descemos. Pena que o tempo perdido nos
levou a perder a liderança da prova, porém não perdemos o rebolado! Craques em transição
rápida mas com muito que melhorar, saímos do PC sem demora, sem saber
exatamente nossa posição, porque o PC não quis contar.
Partiu chegada! Só que ainda tínhamos que dar conta dos PCs
26, 27 e 28. Longe pra “dedéu”! O que sofri nem consigo contar! As pernas
ardiam demais, mesmo quando empurravam. Muitas vezes precisei descer
da bike mesmo! Muitas vezes minha bike era levada
por Maurício. A comida não descia mais. Arrepiava até as sobrancelhas!
Enquanto isso, Vitor fazia força pra dar conta dele mesmo. Léo e Maurício
aproveitavam pra descansar um pouco quando eu demorava a chegar. Dei uma
derrubadinha em Maurício também, com minhas paradas sensacionais. 😂😁😎 Vez ou outra,
eu dava uma espiadinha pra trás pra ver se não tinha equipe se aproximando.
Pra chegar, passamos pelo ginásio e seguimos até o carro
batedor, depois até o pórtico da Batalha Mutuípe, após 19h e 44 minutos de
prova, em segundo lugar, por volta das 4h da manhã do domingo. Maurício e Léo
pareciam tão bem que dava pra fazer a volta ao contrário. Vitor deu aquela
vomitada básica bem no meio da praça. Eu... bem... estava moída, mareada, com a
garganta doloridíssima de tanto respirar, com fome, de pernas moles, coração
se ajeitando na caixa dos peitos. Quem mandou descer pro play? 😎
Feliz da vida, as dores passam, tudo passa! O resultado vem de uma conjuntura de acontecimentos que deram certo. O troféu faz parte mas a gente sabe que não cabe todo mundo no pódio. Pódio é muito bom mas a maioria não estará lá. Eu não estive lá inúmeras vezes e não vou estar por mais outras inúmeras vezes. Comemoro cada chegada, seja qual for, porque o que vivemos na Corrida de Aventura dá sempre uma boa resenha pra guardar em nosso HD, independente, da colocação. Sem contar com todo aprendizado que a gente leva pra vida.
Aí a gente termina essa resenha agradecendo horrores, dando
parabéns pra Deus e ao mundo! 😍
Foi um ano especial pra mim! Abri meus 50 anos enfiando o pé
na porta! Correr com essa equipe foi uma experiência fantástica! Falo de João,
Vitor e Maurício. Nosso entrosamento dá pra perceber no “arriá das malas”.
Correr a Batalha com Léo foi “O” presente de fim de ano. O extra, a honra! Força,
raça, persistência, maturidade, tranquilidade, humildade, objetividade, além de muitas
outras características, o qualificam como um atleta de alto nível. Foi
massa!
Agradeço demais à Tia Fê (Fernanda Piedade), minha treinadora fodástica, pela temporada.
Arnaldinho deu show! Hugo foi fantástico no mapa! A equipe
toda foi fantástica! A Prefeitura de Mutuípe foi incrível! Adoro ver a galera
da Corrida de Aventura reunida em festa! Terminamos o ano esportivo cheios de
esperança de dias ainda melhores.
Ah! Deixa eu contar uma coisa pra vocês...
Você percebe que está no caminho certo quando Togumi tira fotos da sua equipe em todas as transições!
Saúde pra todos nós! Até 2022!
PS: Todas as fotos exibidas aqui foram tiradas por Wladimir Togumi e estão no site da Adventuremag
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