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DS 2024- Casa Nova 100km ou mais

 

   Uma das provas mais esperadas do ano! Seja pelo sertão, pelo Rio São Francisco, o churrasco de bode, a festa da largada, o carisma da organização ou mesmo pela paixão por esse esporte extremamente desafiador, os atletas comparecem em peso! O Desafio dos Sertões consegue ser sofrido e gostoso ao mesmo tempo! Leva a gente ao extremo, tira nosso sangue, rouba nossa alma, nossa pele e nossas unhas, mas nós não perdemos por nada!

   Nessa Bahia imensa de meu Deus, gastamos mais de 11 horas de viagem até Casa Nova, com direito a uma dose extra de adrenalina, antes mesmo de começar a prova! A bicicleta de Vitor tentou se jogar do carro. Quando olhamos pro lado, ela estava acenando pela janela. Que susto! Enquanto os meninos terminavam de retirar a bike do carro, catavam os pedações do rack pela estrada e arrumavam um jeito de resolver o problema, fiquei dentro do carro até parar de tremer. Foi melhor! Quando saí estava quase tudo organizado, remendado e a viagem garantida sem avarias.

   Fomos pro DS com a mesma equipe que participou da BAR: eu, Maurício, Vitor e Lucas. A mesma que desistiu por causa da caganeira de Mamau (para saber mais, lei a resenha da BAR), chegando com outro gás, focada em chegar até o fim, e se desse pódio, a gente ia ficar mais feliz ainda. Mas terminar era o objetivo.

   Distâncias divulgadas pela organização:

3km de trekking

14km de canoagem

0,5km natação

17km de trekking

0,5km de natação

64km de mountain bike

3km de empurra bike

   Fizeram as contas? Deu mais do que isso, viu! Uns 120km, fácil!

   Esse negócio de entregar o mapa na hora da prova é ruim mas é bom! A gente não tem tempo de planejar nada, mas dorme cedinho e não sonha com o percurso a noite toda. Pra mim, foi excelente! Zero ansiedade! 

   Antes de largar, escolhemos nossos barcos, deixamos nossas tralhas e partiu Desafio dos Sertões.


   Largamos correndo junto com todas as categorias, inclusive a de Trail, pelas Dunas de Casa Nova, um lugar que parece cena de filme, aquela parte do Sertão que virou mar, inundou 5 cidades da Bahia pra virar o gigantesco Lago do Sobradinho. Um mar de água doce, com altas ondas, paisagens deslumbrantes, muitas pedras e dunas de areia clara, digno de uma novela de Tieta do Agreste.

   Em percurso balizado, pegamos o mapa no caminho e voltamos pela beira do Lago, sempre no trote, tentando manter um bom ritmo naqueles 3km, até chegarmos nas embarcações. Por falar em trote, pela animação dos rapazes, percebi que estaria na minha Zona de Desconforto ao menos pelas próximas 20 horas da minha vida.

   A canoagem foi emocionante! No caminho para o PCB, as ondas de cerca de 1 metro alagavam o barco, exigindo retirada de água por algumas vezes. Remamos com vontade de chegar logo e Maurício já mostrou que estava de volta com a força que sempre teve. Ativo, forte e resolutivo! Vitor e Lucas chegaram a ter trabalho em nos acompanhar.

   Aportamos na beira da praia, para seguirmos caminhando até o PC B, onde ficava um acampamento. As pedras roladas e soltas pareciam ter sido retiradas do mar, assim como a areia. Fomos e voltamos bem rapidinho, seguimos pra o PC A, onde estava uma placa grande de referência pro PC. De lá, o PC 1, que nos obrigou a fazer uma caminhada, encher os pés de areia e espinhos e passar por charcos. Tava no lugar? Tava! Mas tava lá em cima do morro! A sorte é que não tem maré pra encher e levar os barcos embora. 😅

   Tudo certo com os PCs da canoagem, seguimos remando até o galpão, onde deixamos os barcos, começando o primeiro trecho de natação. E, conforme combinado entre nós, a transição foi o tempo de deixar o que tinha que ficar e levar o que precisava ir. Ah! E mostrar os obrigatórios pro Fiscal da FBCA.

   A natação deu um pouco mais de 500m, tá? Mas, com a ajuda de um pé de pato, a vida da pessoa é outra! Eu nadei sozinha, já os meninos fizeram um bloco, porque só Maurício tinha os pés de pato. Foi quem aumentou a velocidade do trecho.

   No trekking, optamos pela sequência dos PCs 4, C, D, E, 5, 3 e 2. Areia fofa e espinhos do começo ao fim, com direito a pedras e charcos pra complementar o sofrimento. Precisei parar pra abrir espaço pros meus pés por 3 vezes. Simplesmente, não cabia mais meus pés no tênis, de tanta areia. No sol inclemente, as sombras eram raríssimas! Tudo típico do sertão, típico do DS.

   Alcançamos o PC 4 sem dificuldades, seguindo para o C, no topo do morro, na antena. Enquanto caminhávamos, traçávamos a estratégia, combinando com o grupo, já que não tivemos tempo pra isso. Subimos por trilha até as antenas, pra depois descermos pelo outro lado. Uma trilha íngreme, cheia de pedras soltas, digna de uma trilha da Chapada. Inclusive, chegamos na antena junto com a Caatinga Sempre Viva, mas nos separamos logo em seguida. No azimute, descemos até o PC D pelo lugar certinho. De cima mesmo, Vitor já viu a fitinha do PC, acenando pra gente.

   Por ali, também estava a Vaiselascar, procurando o PC. Aproveito pra dizer que até consigo me lembrar das equipes pelas quais cruzamos, mas não cabe na resenha todos os detalhes. Logo, aviso que não deixo de escrever por questão de importância. Escrevo o que vem à cabeça, além disso, resenha ficaria gigante.

   Os PCs E e o 5 foram na base do azimute, rasgando matos, agachando em trilha de bode, encarando espinhos de frente! Ambos estavam em trilhas perpendiculares aos azimutes, que serviam como ótimas referências, por serem trilhas mais marcadas. Pra o 5, então, ainda tinha referência de cercas e bifurcações. Entretanto, poucos PCs no DS ficam muito à vista. Eles sempre requerem uma busca mais apurada, mas estão frequentemente no lugar certinho. O PC não está lá pra lhe surpreender, você que tem que dar o seu sangue pra surpreendê-lo. 😂

   O PC 3 estava numa casa, facinho. O 2 também não deu trabalho. Só de andar mesmo, de aguentar as unhas pulando dos pés e os calos massacrando. Eu jamais vou negar o sofrimento, mesmo disfarçando muito bem. Andei no meu limite, fora da minha zona de conforto, administrando o mal estar, sentindo arrepios. Ao mesmo tempo, me alimentava e hidratava sem descuido, entendendo que em algum momento aquela sensação desapareceria. Lucas acabou compartilhando comigo esse momento de baixa, sentiu bastante no trekking e, apesar da pouca idade, já consegue entender seu corpo e detectar os pontos onde pode melhorar dentro do esporte. O trekking ainda não é o seu forte, embora saibamos que sua evolução é uma questão de tempo. Já está acontecendo.

   Na transição pra natação, pegamos nossos pertences e partimos. Adiantei meu lado pra fixar as plaquinhas de bike, que deixamos pendentes. Quando os meninos chegaram, observaram que estávamos em segundo lugar, só atrás da Vaiselascar. E é nessas horas que a gente coloca a faca nos dentes, o sangue nos olhos e faz uma transição relâmpago pra pedalar o pedal da sua vida... kkkk! Brincadeiraaa! 😂😂 Continuamos trabalhando em equipe, com objetividade, sem demora... A Terra de Santa Cruz chegou com um atleta bem debilitado, parecendo que desistiria... Fomos embora sem saber se eles seguiriam.

   Da AT 4 para o primeiro PC de bike, pegamos uns 6km de asfalto, pra aquecer as canelas até entrar à esquerda e começar a bagaceira de caixa de areia pra tudo que foi canto. Foram bem mais de 64km e bem mais empurra bike do que o que foi anunciado pela organização. Entre trilhas, estradas, galhos na cara, rios secos, areais, tombamentos, pegamos todos os PCs sem dificuldades. Apesar de toda areia, o percurso era muito plano. Em muitos momentos, dava pra passar pedalando, aproveitando o embalo. Eu estava tão concentrada em me equilibrar e não sucumbir, que quase não olhei o mapa. Sei que os PCs mais chatinhos de chegar foram o K e o I, um na frente do outro, separados por um pedaço de rio, nos obrigando a dar uma volta enorme. Waltinho disse que dava pra nadar até lá e voltar. Eu que não faria isso sem colete. 😊

   Estivemos com a Selváticos por quase toda a bike e encontramos algumas equipes pelo caminho, inclusive a Vaiselascar e a Terra. Acho que se tivesse um GPSTrack na prova, daria pra ver a dança das cadeiras e a torcida de casa iria ao delírio.

   Doze árvores e duas cercas depois, chegamos à casa onde estava o PC N, o começo dos 3km de empurra bike pelas dunas, que nos separava da linha de chegada. De lá, saímos pela estrada de areia fofa, até a estrada virar trilha e desaparecer. Virando a esquerda, conforme pensamos, chegaríamos à praia. Mas não chegamos! Caímos numa área fechada, com mato, charco e junco, sem possibilidade de passarmos. Voltamos um pouco, procuramos caminhos. E nesse vai e vem, perdemos um tempo pra achar o caminho. E, pra não dizer que parei de sofrer, sofri até o final, fui ao auge. O estômago não aceitava comida, as pernas estavam pesadas, assim como a bicicleta. Apenas a mente resistia bravamente, entendendo que o fim se aproximava.

   Agora, me diz pra que o último PC precisa ficar numa merda de um esquibunda nas dunas, obrigando a pessoa a subir aquela porcaria e depois encher o pé com mais areia ainda? Pois! Foi onde estava o PC O, a 600m da chegada. Só pra gente se lembrar que no DS, o sofrimento é até o fim,

   Pouco mais de 20 horas de prova, cruzamos a linha de chegada às 4:50 da manhã do domingo. Eu, morta com farofa, a capa da bactéria, só o pó da rabiola. Pelo tempo que demoramos na saída do PC N, sabíamos que poderíamos ter perdido a segunda posição pra Terra, e foi exatamente o que aconteceu. Ficamos em terceiro lugar no Desafio dos Sertões e não menos felizes, subindo no pódio pelo terceiro ano consecutivo, cumprindo nosso combinado de darmos o nosso melhor em todas as frentes. E resultou que ficamos entre os melhores! 💪💥

   Na chegada, a festa, a alegria, os abraços com nossos corpos moídos, a receptividade, inclusive da nossa equipe Aventureiros Raiz, que tinha chegado havia pouco tempo, fazendo uma prova mais conservadora, sem pegar alguns PCs opcionais. Viva eles também!😊

   Nesse DS nos concentramos em nós, cuidamos de todos os detalhes de uma forma que até as comemorações em achar um PC eram feitas com moderação, pra não desconcentrar e sair do foco. Comemorar, só na linha de chegada! O resultado foi consequência do trabalho em equipe.

   Por fim, os agradecimentos à minha equipe, que adoro correr, estar junto, compartilhar emoções e esquecer da vida. Luqueta foi incrível, continua focado nos treinos e cada vez mais participativo nas tarefas da equipe. Mamau voltou com tudo, doido pra provar que não é apenas um rapaz que faz merda 😂 na Corrida de Aventura, e provou! E Vitor deu um show de navegação, me deixando livre pra me concentrar em fazer força. Guardei meu mapa em muitos momentos e só fui!

   Um parabéns especialíssimo pra nossas equipes que correram a prova curta! Jana, Fred, Julia, João, Dêda e Tadeu! Só deu Aventureiros entre os melhores! Arrasaram!

   Parabéns a Waltinho, Daniel e a toda equipe DS, atletas, FBCA e a todos os envolvidos no Desfaio dos Sertões! Juntos, a gente faz uma festa danada! Vamos seguir fomentando o esporte!

   PS: Que churrasco de bode delicioso! 😋

   Vida longa à Corrida de Aventura!!




 

 

 

 

 

Comentários

Awdryn Cavalache disse…
DS e o sertão nunca decepciona…

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