Pular para o conteúdo principal

Resenha da Bahia Adventure Festival – Guerreiros N’Aventura 2025

 

Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

Categoria PRO – 180 km


O convite e o “sabático interrompido”

O convite de Arnaldo chegou justamente quando estava prestes a iniciar meu sabático das Corridas de Aventura. A ideia era voltar só em 2026, cuidar da saúde, descansar corpo e mente. Uma semana depois do “sim”, ele me manda mensagem dizendo que me convidou porque eu treino, e que queria fazer uma prova valendo, com foco total, competindo com todas as duplas.

Eu? Fiquei quieta. Só sorri e acenei. 😌

A viagem até Porto Calvo foi divertidíssima! Viajamos eu, Arnaldo, Vitor e Keu. Saímos na quinta-feira pra ter um dia de descanso, afinal, são mais de nove horas de estrada. Chegamos à noite, já prontos pra aclimatar. No caminho, trocamos mensagens com nosso coach (Não podemos contar quem é 😄), que nos deu todas as dicas pra vencer o desafio. A meta era clara: fazer o melhor, andar bem, tomar boas decisões e — pasme — sorrir o tempo todo. Rimos alto só de imaginar passar pelas equipes gargalhando no meio do perrengue.

Na sexta pela manhã, organizamos todos os equipamentos e fomos almoçar em Porto de Pedras, encontrando os amigos João e Isabela, confraternizando com a galera de Alagoas. Pela tarde, foi o momento do Check-in, de pegar os kits, saber dos últimos informes e descansar.


A entrega dos mapas e o frio na barriga

Sábado. Entrega dos mapas. Pura tensão. Cada mapeador tem um estilo, e aquele ali parecia gostar de cores, trilhas, vegetação, símbolos, curvas… um carnaval cartográfico. Deu ansiedade.

Mas era hora de largar.


Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

Rogaine urbano – adrenalina na feira

O Rogaine de 4 km começou eletrizante pelas ruas de Porto Calvo. Quatro PCs em ordem aleatória, num cenário digno de perseguição em filme de ação: a feira cheia, gente e barraca pra todo lado, e nós correndo no meio do caos.

Fomos rápidos, objetivos, correndo o tempo todo. A chuva que ameaçava não veio — em compensação, o sol resolveu participar com força total.


Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

MTB 35 km – entre canaviais e objetos perdidos

Transição rápida, bicicletas nos esperando. Partimos! Saída da cidade, estradinha de terra, um pouco de asfalto, depois o primeiro de muitos canaviais. O PC4 estava tranquilo — uma plaquinha numa árvore.

Pra chegar ao PC5, pedalamos num bom ritmo, revezando a dianteira. Arnaldo descia bem, eu subia melhor — um incentivando o outro. Passamos por uma ponte, um trecho alagado, e entramos numa trilha que beirava um charco. No fim, tivemos que romper o canavial por uma picada tão fechada que parecia não ver gente desde o século passado.

E foi ali que Arnaldo perdeu o odômetro. 😅 Voltou pra procurar e, milagre, achou. Só o começo da tradição das coisas perdidas.

Depois do PC5, o pedal seguiu com paisagens lindas, morrinhos, verde por todos os lados. No PC6, uma igrejinha charmosa; depois, mais um pouco de asfalto até o PC7, onde passamos direto, mas percebemos rápido e voltamos pra registrar.

O PC8 veio com uma trilha deliciosa, sombreada, em meio aos trezentos emaranhados de estradas de todos as naturezas, prestando atenção, contando distância e ligada no azimute, tudo dentro das condições normais de uma corrida de aventura.

Depois do PC 9, registrado sem grandes dificuldades, seguimos por uma estradinha fofa, quase toda beirando um rio, passando por matas, com ladeiras bem suaves. E lá estávamos nós, chegando ao mar, vento na cara, estrada costeira e transição à vista.

Ali, uma cena fofa: Vitor, meu marido, que jurou que iria “curtir o vale night de 24 horas”, não resistiu e estava lá, nos acompanhando. Sabia que ele não ia aguentar ficar longe. 💙


Trekking 22 km + natação – o calor, o picolé e a travessia épica

Mais uma transição rápida. Pegamos o que precisávamos e seguimos pro trekking: 22 km de caminhada e corrida, com uma natação no meio.

Os primeiros 8,5 km foram bem quentes. Achamos os PCs 10 e 11 na beira da praia e, pra poupar energia, voltamos pela estrada entre eles, fugindo da areia. No caminho, compramos água gelada e picolé de uva. Um luxo tropical em meio à insanidade, quase tomamos banho de água mineral.

Chegamos então ao ponto de natação — e foi ali que a prova ganhou status de épica. O mar estava bravo, a maré enchendo e o pessoal da Categoria 90km passava assustado. Os staffs apontavam o caminho, mas o cenário era digno de filme de sobrevivência.

Arnaldo estava pálido. Eu entrei no modo psicóloga: “Calma, eu tô contigo. Ninguém larga a mão de ninguém.” Guardamos os tênis, colocamos os pés de pato (sim, pés de pato!), ele vestiu os óculos de natação, e fomos.

Começamos a nadar na foz do rio Manguaba, de Porto de Pedras até a outra margem, em Japaratinga. Foram os 200 metros mais longos das nossas vidas. Arnaldo nadava de costas, eu puxava ele pelo colete, engolindo litros de água. Acho que bebi uns três litros. Ele, uns dois e meio. 😂

Deu tudo certo! A travessia foi extremamente refrescante. Fizemos um excelente trabalho em equipe.

Enquanto isso, a dupla Oré (Paulo e Emily) atravessava o mesmo trecho como se estivesse num comercial da Speedo — nadando de tênis! Deslizavam sobre as águas, bem à nossa frente, parecendo dois “sereios”. Chegaram numa serenidade, e nós ali, sentados na areia, fingindo naturalidade. Humilhação aquática nível máximo.

Pra coroar, logo depois da travessia, outro trecho de água — dessa vez até a cintura. Adeus, tênis secos! Tanto trabalho pra colocar tudo em saco estanque. Paciência, né?


Japaratinga e mais trekking

Seguimos. O PC12 veio até rápido, perto de um campo de futebol e umas casinhas. Dali em diante, a Oré apertou o passo. E nós também. Eles corriam, a gente corria, eles caminhavam, a gente caminhava. Foi interessante, divertido e conversativo! Acho que a gente acaba se beneficiando mutuamente com um pouco de competitividade e adianta o lado. Já agradeço aqui pela companhia e parceria em boa parte da prova! Uns queridos!

O PC 13, foi encontrado depois de uns 3 km de estrada de terra. E tudo seguia bem — até que a lenda dos mapeadores alagoanos começou a se confirmar. “Eles escondem os PCs”, contaram. Pois é, descobrimos que era verdade. 😂

O PC14… ah, o 14! Sobe, desce, conta passo, tempo, pé de cana (mentira, mas quase). Encontramos junto com a Oré, no fim da tarde — e lá, Arnaldo perdeu o Racebook! E eu? Esqueci o reserva. Perfeita essa dupla. 😅

Sorte que Paulo Marcelo, cavalheiro, deixou a gente fotografar o dele.

Seguimos pro PC15, igualmente escondido. Os mapeadores de Alagoas têm mestrado em esconder PCs! Era mesmo verdade! 😂


Canoagem noturna 21 km – maré subindo, paciência descendo

Chegamos à área de transição pro remo. Ignoramos solenemente o pastel e o refrigerante. O corte era às 3h da manhã, muitos ATs depois dali, e ainda havia muita prova pela frente.

Descemos até o rio, embarcamos e começamos a remar. Noite linda, peixes pulando, olhos brilhando na margem. Acho que eram jacarés. Aproveitamos a correnteza o quanto pudemos, antes da virada da maré. Os primeiros PCs (16 e 17) vieram fáceis, mas o 18 e o 19… um desafio visual, porque as fotos estavam bem escuras. Sorte que fomos junto com Paulo, porque a foto da foto estava ainda pior!

Quando chegamos à foz, a maré já estava subindo. A corrente nos empurrava com força pra dentro, de um jeito que a força pra remar se tornou Hercúlea. Foi preciso remar como se o troféu estivesse na beira do mar.

Arnaldo só gritava: “Rema!” E eu remei. (Mas continuo achando que ele só queria que eu parasse de falar! 😆)

Chegamos ao AT de cabelo em pé, mas o alívio foi tão grande que nem parecia.


Trekking 8,5 km – o piti e as risadas que conseguimos dar

Precisei arrumar a mochila, enquanto Arnaldo estava em modo “Fórmula 1”. Deu piti. As coisas voando, eu bem calma e ele querendo sair correndo. Catei meus pertences e fui me embora. Só consegui rir de verdade lá na frente.

Durante o trekking, ele decifrava meus olhares — dizia o que eu estava pensando, sem que eu estivesse pensando aquilo — e eu caía na gargalhada. Péssimo tradutor de olhares! Até oferecer cápsula de sal virava motivo pra riso. Ele dizia com ironia: “Você está querendo dizer que eu não estou lhe acompanhando?”. Não tem como não rir de gente doida assim!

O PC20 foi um inferno!! A dupla masculina líder saía, sorrateiramente, de uma trilha, bem na hora em que chegávamos. Rodamos, subimos, descemos, rasgamos mato, cortamos as mãos, conferimos, reconferimos, achamos. Que alívio! 😅

Logo depois, o PC21 — cuja foto era uma palha de coqueiro. Procuramos no chão, até perceber que estava no alto. Os líderes estavam logo adiante, sem terem encontrado o PC, pela mesma razão que tivemos dificuldade. Por fim, acabamos encontrando os PCs 22 e 23 em sexteto, chegando à transição todos juntos.

Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

O gerente avisou que poderíamos seguir direto para a chegada, de bicicleta, o que daria quase 30km pelo asfalto. Decidimos nos recompor e organizar as coisas, enquanto pensávamos no que fazer, sendo que a única coisa que tinha certeza de que não queria fazer, era dormir.

Por fim, ponderamos que, talvez, dependendo do nível de dificuldade nos trechos seguintes, extrapolássemos nosso tempo de prova, gerando uma desclassificação. E isso era totalmente indesejado. Sendo assim, avisamos ao Gerente da AT e aos nossos companheiros de muitos PCs, sobre a nossa decisão. Enquanto os 4 resolveram dormir um pouco, nós decidimos ir embora.


Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

MTB final – performance sensacional 😉

Arnaldo tomou um Trandrilax e ficou sensacional! Nunca vi igual. O homem virou uma máquina! Pedal firme, roda com roda! O dia amanhecendo, o céu azul de Alagoas, canaviais infinitos, a chegada mais perto do que longe e o cheiro da vitória no ar.


Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

Rogaine final

Ainda faltava o Rogaine de 3 km. Meu tênis já não queria mais entrar no pé. E claro: esquecemos o Racebook na transição. Arnaldo disse que tinha decorado. Eu não decorei absolutamente nada! Só naveguei e confiei que ele reconheceria todos os 3 últimos PCs da prova. Quieta, evitei perguntas, e senti o alívio top das galáxias, quando o organizador conferiu e disse que estava tudo certo. Oh glória! Eu confiei — e deu certo.


Fotos: @alysonjamesj @emerlimma

Cruzamos a linha de chegada. Primeiro lugar geral na categoria 180 km! Campeões! Radiantes e sorridentes.

Valeu, Arnaldinho, pelo convite, pela parceria, pelas risadas e até pelos pitis. Foi uma prova incrível, daquelas que a gente leva pra sempre. Você é meu amigão!

E valeu, Vitor, por estar por perto, mesmo quando prometeu que não estaria. 💙

Keu, valeu pela companhia na viagem! À minha treinadora, Fernanda Piedade, gratidão!

Valeu Aventureiros, Guerreiros, Organizadores e Atletas! Foi massa demais encontrar todos!

Até a próxima Aventura!

Fotos: @alysonjamesj @emerlimma


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Desafio dos Sertões 2019- 120km

Um pouco de NÓS pra vocês! Corrida de Aventura Desafio dos Sertões Local: Sobradinho Data: 14 e 15 de setembro Percurso: 120km Categoria: Quarteto Misto Atletas: Luciana, Freitas, Gabriella Carvalho, Vitor Hugo Moreau e Paulo Neves    Esse ano, o perrengue pra fechar o quarteto, treinar, correr, administrar questões pessoais e outras coisitas mais, se estendeu até o apagar das luzes do Campeonato. Nosso clube tem atleta pra caramba, mas nunca acho justo desmontar um grupo já formado pra fechar outro que demorou a se resolver.     Sim, somos o Clube Esportivo Aventureiros do Agreste, com Estatuto e Ata de fundação registrados em cartório, onde várias atividades em contato com a natureza são estimuladas e praticadas, dentre elas, Orientação, Corrida de Aventura, Corrida em Trilha, Trekkings e ainda temos a nossa "menina dos olhos": a Escola de Aventura do Agreste, importante ferramenta de fomento ao esporte Corrida de Aventura, por onde já pas...

Final do Brasileiro de Corrida de Aventura 200km- 2024

  Foto: Wladimir Togumi Foram 200 km em terra de ninguém, sem um pé de gente no caminho, só casa abandonada, chiqueiro sem porco e, vez ou outra, um bode pulava de um lado pro outro lado da trilha. Muito espinho, mato, cansanção, mandacaru e um sol de esquentar a pessoa de dentro pra fora, de lascar a pessoa ao meio. Sorte que na bike apareceu um vilarejo, do nada, até pão com ovo nós comemos.  Então, vou começar essa história do começo, contar como foi a nossa versão da Final do Brasileiro, a partir dos pensamentos da minha cabeça... 😁 Viramos uma equipe elegível (chique esse nome!😏) por estarmos entre as 3 melhores da Bahia. Quase sempre a gente consegue esse feito mas, nem sempre a gente consegue marcar presença. Entretanto, uma final na Bahia organizada por Arnaldo (da BAR) e por Waltinho e Daniel (do Desafio dos Sertões) tornou o evento imperdível.  Foto: Wladimir Togumi No quarteto, eu, Vitor, João e Lucas. Pra completar a galera, Janaína e Camila montaram uma ...

Resenha do Running 2014- 42 km

   Como sempre tive vontade de fazer ultramaratonas e corridas de montanha, nada mais justo do que fazer a inscrição nos 42 km. Minha primeira maratona, só que no mato, sem montanha.    Já nos treinos, percebi que o buraco era mais embaixo. Comecei a sentir bastante desconforto nos treinos longos. As dores apareciam sempre depois dos treinos, mais precisamente, quando pisava os pés na varanda de casa. Senti um medo danado de lesionar antes da prova. E durante também. Até fiz uma resenha de treino aqui no blog... Tá aí o link:  Resenha de treino      Chegou o grande dia!     A largada atrasou porque um poste caiu na vila da Praia do Forte, que impediria a passagem dos atletas nos percursos de 21 e 42 km. A organização publicou uma nota oficial sobre o acontecido .    Com o atraso, meu corpo já tinha usado meu rico café da manhã, feito com todo carinho pelo meu maridinho. Mas, aventureiro que se p...