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DIÁRIO DE BORDO
















Sexta-feira, 30 de julho de 2010

Salvador-Guiné. Eu, Lucy, Aluino e Navarro(nosso treinador e guia).

Setecentos quilômetros até Guiné, distrito de Palmeiras. Uma pequena, pacata e singela vila que serve de entrada para a Chapada Diamantina, onde deixamos o carro e começamos a trilha para o Vale do Pati.

Nossa! Quando você avista o morro, nem acredita que é por ali mesmo! Muito íngreme, um paredão imenso rumo ao que se pode ver de mais puro em natureza. Uma subida alegre com muitas pedras, degraus, nascentes. O tempo nublado nos fazia achar que estávamos caminhando para as nuvens, e estávamos! De cima, a vista é um presente de Deus, que fica ainda melhor quando você vira de costas para Guiné e esquece a civilização. Uma paisagem cheia de flores coloridas. Passamos por riachos, lama, andamos por dentro das nuvens. Parecia que chovia! Ficamos mais perto do céu. O trekking foi num bom ritmo!

Passamos então pela Toca do Gavião, uma caverna no meio do morro onde a galera “podes crer” passa as noites acampando. Inclusive, ainda terei esse privilégio! Seguimos para o Cachoeirão por dentro de uma floresta de gnomos. Parecia mesmo de gnomos. Linda! Navarro pediu para fazermos silêncio! Até que chegamos num rio! Nossa! Tinha muita gente lá! E para o nosso desespero, estavam hospedados em Sr. Wilson, lugar onde pensamos em dormir.

O Cachoeirão foi a paisagem mais linda que os meus olhos já viram! Perfeito! A gente tem que se aproximar rastejando para não dar vertigem! Muito alto! E lindo! Ficamos ali contemplando a natureza num ritual perfeito de paz e tranqüilidade! De reconciliação com a natureza! Um vale verde imenso, sem fim, com montanhas de pedras contornando e um rio sinuoso passando lá embaixo. Somos pequenos diante daquela imensidão! Coloque na lista de coisas que você tem que fazer antes de morrer. Todo mundo tem que conhecer esse lugar!

Seguimos para a casa do Sr. Wilson ao cair da tarde, preocupados em não conseguir lugar para dormir, já que não tínhamos feito reserva. Chovia bastante e o caminho estava escorregadio. Navarro e Lucy deram um show de acrobacias com os escorregões que tomavam! Rimos o tempo todo! Não dava pra enxergar muita coisa, aproveitamos a luz do dia ao máximo antes de usarmos os faróis. Fazia um friozinho! Os pés encharcados! Chegamos umas 20h na hospedaria, depois de 8h de caminhada. E Dona Maria, a esposa do Sr. Wilson, disse que não dava pra ficarmos. “Mas só um jantar, então!!” D. Maria nos serviu um jantar de Hotel cinco estrelas! E enquanto saboreávamos aquela delícia, três mocinha elegantes(Lília, Leila e Samara) se aproximaram e disseram que dormiriam todas numa cama de casal e deixariam a cama de solteiro para nós duas(Penélopes). “Como ainda tem gente boa nesse mundo!” Ainda perguntaram se a gente se incomodava em dividir a cama.. rs! E os homens abriram espaço para os meninos! Isso foi o máximo! Pudemos então tirar os tênis e comer sem pressa.

A casa do Sr. Wilson é bem modesta! Tem a casa da família e alguns quartinhos em anexo com muitas camas. Um puxadinho, como diria o pessoal da minha casa. O chão é de barro! Caso a sua roupa caia no chão dá um trabalhão para limpar. Não tem luz nos quartos, nem forro no teto! Tudo o que um fala, o outro ouve no outro quarto! Se você der um pum no banheiro, todo mundo vai ouvir! RS! A água é tão fria que parece que está caindo pedra de gelo no seu corpo na hora do banho! Bom para atletas de alto desempenho como nós, RS!!! Nem precisa fazer compressa com gelo! Basta ficar embaixo d’água. Mas depois do banho parece que você rejuvenesceu alguns anos. É um paraíso no meio do mato! As frutas são de lá mesmo. O pão feito no dia! Nem precisa falar do café da manhã! Uma delícia! Sem contar que as pessoas são de uma simplicidade desconcertante. “Pessoas simples acessam com facilidade a profundidade da vida. Sabem viver na prática o que não sabem dizer na teoria.” Li isso num livro.

Após o café da manhã, fomos convidados para uma oração com o grupo que nos acolheu. Foi outro momento muito bacana da viagem! Depois de várias canções em louvor a Deus, eles fizeram agradecimentos pela natureza, pela casa, pelos donos da casa e por nós. Sentimos-nos completamente acolhidos e agradecidos! E eles foram embora...

O tempo estava muito fechado! Nossas esperanças em conhecer o morro chamado Castelo se esvaiam. O caminho é muito perigoso, cheio de pedras, escorregadio, com trechos de escalada e escalaminhada. Nem os nativos gostam de ir até lá com o tempo ruim. Tivemos a sorte de o sol sair depois das 10h. Um guia passou dizendo que dava pra subir e depois do almoço decidimos ir.

Descemos a ladeira, seguimos para o rio nervoso. Não era o nome do rio! Ele estava muito cheio, com uma correnteza fortíssima! Muito nervoso mesmo! Em tempos normais, dá pra passar pulando as pedras. Navarro atravessou com grande dificuldade, escolheu outro local e me convidou a atravessar. E foi uma grande aventura! A correnteza era tão forte que resolvemos escolher outro ponto para Aluino e Lucy passarem. E, com essa estória, perdemos mais de meia hora.

Foi uma subida surreal! Começou meio que plano, depois foi ficando mais íngreme, então vieram as pedras, as fendas, as escalaminhadas, os despenhadeiros... ufa! Chegamos numa linda gruta, que refletia a luz do farol com um brilho no chão e nas paredes. Tinha uma fonte dentro dela. O lugar servia de passagem para o topo do morro e para outro ponto um pouco mais baixo. Após atravessar a gruta, continuamos escalando algumas pedras até chegar ao topo, do topo, do topo, onde a vista era mais que linda, de linda, de linda! Contemplamos a natureza por meia hora, fizemos um lanche e descemos para evitar atravessar o rio à noite. A volta foi bem mais rápida e a travessia do rio muito mais suave!

No outro dia, tivemos que fazer o caminho de volta à civilização. Navarro contava a milésima piada, quando começamos a subida da rampa! Outra subida surreal! Daquelas que, mais uma vez, você não acredita que é mesmo por ali! Havia um som de flauta vindo de perto que dava suavidade à nossa dura subida! E depois caminhamos no plano, e depois descemos para Guiné.

Enfim, fizemos o caminho de volta em 4 horas. Felizes com o nosso treino de trekking de três dias. As almas lavadas em todos os sentidos! Lucy está pronta para ser uma Penélope! Aluino marcou a sua despedida do Brasil com um passeio com os amigos. Navarro, como sempre, companheirão, bem humorado e ótimo guia!

Foi uma verdadeira reconciliação com a natureza!

Comentários

Unknown disse…
Que lindo Lu, vc me fez morrer de vontade de conhecer esse lugar, mas como e que eu faco? Tem elevador? Eu nao passaria da primeira subida! Beijos! Nena.
Lucy disse…
Essa viagem foi inesquecível. Já li esse release várias vezes, mas sempre me emociono. Que saudades. A água fria batendo no corpo doído. As unhas caindo. Aluino me apoiando depois do milésimo escorregão na lama... Foi uma viagem espiritualizante mesmo. Adorei.

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