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CICA- Campeonato do Interior de Corridas de Aventura


   Cangaço! Adorei o nome! Uma prova em dupla e curta era tudo o que eu precisava para começar o ano esportivo. Vamos Fred?! Os dois sem treinar. Aliás, treinando pouco! Ele na natação e eu correndo e nadando.
   Antes da inscrição, só para garantir a paz no mato, um juramento. Nada de dizer desaforos ou qualquer stress. Corrida light, mesmo que sejamos os últimos. Pensei num termo de compromisso, mas seria muito exagero, rs! Ele prometeu um controle emocional supremo! Disse que estava querendo relaxar, recomeçar, que seu objetivo era apenas diversão. Parecia de uma competitividade racional, rs! Eu acreditei! ... E assim começa a estória da minha primeira prova depois da tão falada lesão do tornozelo. E a primeira prova de Fred depois do Ecomotion.
   Como a minha irmã mora em Feira de Santana, levei junto filharada e cachorro. E Fred acabou fazendo toda a programação familiar embutida na viagem, sem direito de reclamar. Essa parte seria colocada no contrato em letras miúdas, rs!
   O check-in foi naquele posto de gasolina já perto do começo da BR 116. Passamos lá às 11h pra checar os documentos e voltar pra almoçar com as crianças. Só que o tempo ficou curto e acabamos trocando de roupa dentro do carro, comendo um pão delícia no almoço, botando os equipamentos no chão, navegando o mapa... Não deu tempo de fazer melhor. Ficou tudo esculhambado!
   Fred achou melhor a gente pedalar sem sapatilhas. Tinha muita transição de trekking pra bike numa prova curta. Perderíamos tempo. Particularmente, prefiro as minhas sapatilhas e nunca tive problemas em carregar os tênis na mochila enquanto pedalo. Depois que passei a usá-las, foi a primeira vez que abri mão delas numa prova. Pior ainda! Não trocamos os pedais. Então pedalamos de tênis com pedal de clip. Só pra lembrar do juramento, quem não está nem aí não monta essas estratégias. Ai, aaai!
   A largada foi 13h e alguns minutinhos, com sol “lascando o cano”! Alinhamos nossas bicicletas lá no fundão, atrás do pódio. Outra sugestão do meu amigo. Deu vontade de perguntar: “Quem é você!? O que você fez com Fred??”. Fingi que não reparei, mas aquele rapaz estava meio esquisito. Sair no fim da fila não funciona muito bem numa prova de 33 km, se o objetivo for ficar entre os melhores. A coisa é veloz! Mas, como seria uma prova light, melhor assim. Então era sério! Ele queria ir devagar mesmo. Será!?
   Até o PC1, pedalamos num trecho da perigosíssima BR116, onde os caminhões descem a toda velocidade! Sorte que entramos numa trilha na beira do asfalto, perto do Rio Jacuípe. Naquele PC, percebi que ficamos bem pra trás por causa da estratégia da largada.
   As ladeirinhas chatas começaram a aparecer e as sapatilhas a fazer falta. Subimos uma bem íngreme, pedalamos por um pasto com umas vaquinhas muito fofinhas, passamos por onde mais tarde seria o PC10, numa fazenda bem linda, e descemos pela trilha para o PC2. O emaranhado de trilhas me confundiu um pouco. Não! Confundiu muito! Acabei desconcentrando nas bifurcações e decidimos voltar para o PC10 quando notei que estava apenas seguindo outras equipes. Não sei trabalhar assim, sem saber onde estou. Olhava pro mapa e não conseguia me localizar. Então voltamos e começamos outra vez. Mesmo assim, deu merda! Caímos numa estrada que levava à fazenda. Dos males o menor! Sabia onde estávamos e, ali, resolvemos pegar o estradão para chegar ao PC2, sem trilhas, nem rodeios. Só precisamos pular a cerca e a porteira com bicicleta e tudo. Nada que não tenhamos feito umas trezentas vezes! Na verdade, deveríamos ter pegado o estradão como primeira opção. Seria bem mais rápido! Perdemos muito tempo procurando trilha. Mas, tudo bem!
   Quando chegamos ao PC2, a turma que estava lá veio logo dizendo: “Só faltava vocês!” Ou seja, éramos os últimos da classificação geral, no meio de umas 20 equipes. Nem olhei pra cara de decepção do meu amiguinho! Dali em diante, esforcei-me para ficar mais atenta na navegação, contando passos e medindo distância, sem perder o controle do mapa.
   Um belo downhill nos levava ao PC3. Fred descia na frente “avionado”, como sempre, e eu o acompanhava sem muita demora. Ali, deixamos as bicicletas para um trecho com navegação mais afinada. Quem saísse de lá mais rápido, provavelmente, ganharia algumas posições. Era a parte mais difícil da prova! O desafio era encontrar o PC4 em cima de um morro, com uma vegetação meio densa. Não parei de contar passos naquelas trilhas, sempre atenta às entradas. Fred saía na frente, correndo feito um doido todo vez que eu indicava o caminho (nada competitivo esse rapaz!)! Mais ainda quando encontrávamos as equipes voltando. Sempre gesticulando pra eu andar mais rápido e falar baixo pra não chamar atenção.
   Fizemos a volta na base do morro por uma trilha bem marcada. Depois de conferir as distâncias, parei bem na direção onde poderia estar o PC. Àquela altura, meu amigo Frederico ia bem longe. (Gente! Ele corre muito! E vai embora sem olhar pra trás! Até pensei naquelas coleiras de cachorro brabo!) Gritei pra ele voltar e apontei para onde achava que estava o PC. (Ele volta com tudo também, pra minha sorte!) Fred subiu correndo! O PC tava numa moita e ouviu uns desaforos (tadinho) do meu amigo, indignado com o rapaz escondido. E fez questão de lembrar que ele continuasse ali quietinho, pra ser difícil pra todo mundo!
   Detalhe! Me lenhei toda pra fazer o melhor e meu parceiro saiu falando que demos a maior “cagada” por termos encontrado de cara o PC4. Tanto sacrifício sem o devido valor, rs! Sei não, viu! Se a gente não se valorizar, esse pessoal não reconhece. E a planilha oficial da prova mostrou que batemos recorde de tempo entre todas as equipes do PC3 para o PC4 e do PC4 para o PC5. Sucesso!
   No PC5, pelas mímicas de Fred (parecia um miquinho adestrado, rs!), entre os outros atletas que se arrumavam pra sair, estávamos em 7º lugar. Ele quem assinava o PC e acompanhava nosso progresso. Eu fazia tanta coisa que nem pensava nisso! Navegava, contava passo, conferia odômetro, aferia distâncias, lembrava de comer e beber água, além de ter que respirar para acompanhar o meu coleguinha. Ele corria, gesticulava pra eu andar rápido e reclamava, com toda educação e fineza, por qualquer sinal de insegurança na navegação, RS! Se errar ele se "reta"!
   Ah! Lembram daquele downhill?? A volta era por ali mesmo! Então virou um subidão miserável! Sem sapatilhas, a subida fica mais sofrida.. Lá em cima, quase na porteira, (putz!) o pneu de Fred furou. Agora pergunte quem trocou?? Eu também faço isso! Só que a câmera dele estava com um problema no pito. O pneu não enchia de jeito nenhum. Frederico começou aquele lenga-lenga de que a prova tinha acabado pra nós e... Tcharaaam! Saquei a minha câmera reserva e trocamos tudo outra vez. Dessa vez ele ajudou e parece que aprendeu!
   Mesmo perdendo um tempão trocando pneu, nenhuma equipe passou por nós. Deixamos as bikes no PC6 pra começar o trekking até a beira do rio. O pessoal que estava no PC, dessa vez, elogiou nossa performance dentro da prova e ainda profetizou: "Do jeito que vocês estão correndo, vão pegar umas 3 equipes que desceram pro rio." Então cumprimos a profecia: Fizemos todo o trekking correndo e ultrapassamos 3 equipes. Graças a Fred! Ele corria o tempo todo e acabava me estimulando a ir junto. Eu não tinha outra alternativa mesmo! Do PC7, a gente atravessou o rio pelas pedras, pegou uma trilha por mais ou menos 1 km e atravessou de volta pelas pedras para o PC8, numa casinha linda de beira de rio.
   Que sede! Nem acreditei que lá tinha água para vender! Nossa água tinha acabado havia tempo. Fred pagou uma “rodada” de água mineral pra galera que chegara conosco naquele PC. Confesso que já sentia as conseqüências do pouco treino, da falta do almoço, da falta de água. Estava bem cansada. Arrepiando, com dor de barriga, dor de cabeça e corpo dolorido, embora estivesse caprichando nas barrinhas de cereal. "Certa pessoa" nem me deixou fazer xixi quando viu que estávamos em quarto lugar no geral. Imaginem que absurdo!! A pessoa nem pode fazer um xixi!
   Graças a Deus! A prova estava quase no fim! Fred avisava, antes de pegarmos as bikes, que não queria ser ultrapassado até a prova acabar. Eu, cá com os meus botões, lembrava do juramento pré prova. Mas, também não queria que isso acontecesse. A coisa sobe pra cabeça mesmo! Corremos então! Corremos muito! Botei meus bofes pra fora!
   No PC 9 pegamos as bikes outra vez, sem fazer o diacho do xixi, para chegar ao PC10 e cruzar o pórtico de chegada. (E a turma do PC se impressionou novamente, rs! Uhuuu! Assim eu vou pra galera!) Voltamos pelo estradão outra vez, já que era o caminho melhor. Acabei até conversando um pouco com uns meninos ciclistas que passavam. Meu amigo não gostou muito da conversa. Diz que fico gastando energia. Tomei uns esporros de leve! De leve! Mesmo assim, batemos outro recorde de tempo na prova, do PC9 ao PC10, na Fazenda.
   Dali em diante, foi só seguir para a chegada. No fim das contas, ficamos em segundo em nossa categoria e em quarto no geral. Belo resultado!
   E viva Fred, que manteve a calma sem perder o foco! (Só precisa parar de mentir, que vai correr só pra se divertir! RS! Muitas amizades acabam assim, sabia?!! RS!) Não perdeu o senso de competição e atitude dentro da prova. Amadureceu durante esse tempo de Corridas de Aventura e continua um ótimo atleta! Entre os melhores que já corri! Sua energia dentro da prova chega a ser engraçada! Parece que deram corda! Parabéns pra nós!
   Parabéns à Caatinga Trekkers, que pode fazer prova de qualquer tamanho. P, M ou G. Qualquer prova da Caatinga Trekkers tem excelência! Não posso mais perder essas festas!
   Não posso esquecer de dar os parabéns à minha fisioterapêuta, Lorena Almeida! Que trabalho brilhante, minha amiga! Contrariando a todos que dizem que lesão de tornozelo é para sempre! Estou recuperada mesmo! E com mais um troféu pra minha coleção!

Comentários

Ni disse…
Nem pode fazer xixi? e ainda quer que eu participe dum negócio desse!
Mari disse…
KKK. Homem realmente se acha! Quer controlar tudo. Qual é Fred? Nem pode conversar?????
Luciana disse…
Pois é meninas! Nem xixi, nem conversa! Mesmo assim, é divertido e isso rende boas estórias! Obrigada por passarem aqui! Beijinhos!

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