Para o segundo dia de trilhas na Chapada Diamantina, um roteiro mais “hard” de mountain bike. No mapa parecia bem tranquilo, com trilhas
bem marcadas... Uma programação de 20km até o Pai Inácio, sempre por dentro de
vales, passando entre o Morrão e um pedaço da Serra do Sobradinho, Águas Claras,
Pai Inácio... Do Pai Inácio, mais 15km até Lencóis. Depois, bastava voltar pelo
mesmo caminho, completando 70km de puro mountain bike, repleto de estradinhas,
trilhas, areia, buracos, pedras, subidas, mato e muito mais. Só alegria e emoção!
Ninguém no Vale do Capão aconselha um turista ir à qualquer
trilha sem guia, muito menos a do Pai Inácio por Águas Claras. Isso lembra
aquela propaganda da FORD em que os bichinhos falavam: “A gente é bicho, baby”!
Tralhas arrumadas na noite anterior... Na mochila,
comida para um dia inteiro no mato, incluindo a boa e velha lata de sardinha,
caso não rolasse almoço de verdade pelo caminho. Canivete, kit de ferramentas
para bike, bússola e faróis. Muita água e isotônico, além de suco, chocolate e
mucilon em caixinha também. Um peso danado nas costas de Vitor- meu fiel
escudeiro e amado namorado-, que acabou levando peso o tempo todo, apesar de
termos combinado um revezamento.
Como navegar era preciso, namorei o mapa por um bom tempo antes
de dormir para entender nosso roteiro e suas bifurcações.
Depois do café da manhã e dos últimos ajustes, avisamos na Pousada do nosso destino, caso algo fora do planejado acontecesse... E saímos pedalando por aí afora.
Dois quilômetros e meio de estradão no sentido de Palmeiras,
entramos à direita na estradinha para Águas Claras, já medindo as distâncias
para ter certeza de que o mapa estava bem calibrado. Por ali ainda tinha umas
casas para nos despedirmos dos últimos sinais de civilização. Lugar bonitinho,
com sombras de árvores refrescando o ambiente. Atravessamos o riacho e zeramos
o odômetro para contar mais uns 2km até a entrada da trilha para a direita.
A recepcionista da pousada tinha avisado que a entrada da
trilha ficava antes do fim da estrada... Até contou que já se perdeu por lá. E
quem não se perdeu? Soubemos de vários casos. A estrada acabou, apareceu uma cerca. Ficamos ali,
“tateando” uma passagem. Da cerca havia um riacho, do outro lado uma casinha
fechada. (Cá pra nós, que lugar que tem riacho!) Não lembrava daquele lugar na minha última passagem por lá em 2011. Algo estava errado e meu instinto feminino,
afirmava isso veementemente. Então decidimos voltar um pouco para conferir as
distâncias e achar o caminho certo.
Para se perder na Chapada basta estar lá... Se a pessoa se
desesperar fica por lá mesmo, morando perto de um riacho, rs! Como a gente nem
chega perto do desespero, foi só voltar uns 500 metros para notar uma trilha
tão discreta que dava a impressão de que caía de volta na estrada. Tímida, que
se revelou num lindo singletrack com árvores pequenas que cobriam nossas
cabeças.
Apesar do fogo ter destruído grande parte da vegetação, o melhor singletrack da Chapada Diamantina, segundo ciclistas dali, de lá, de cá e de acolá, continua lindo. O verde estava voltando. A natureza é incrível! Basta uma chuvinha para começar a trabalhar para o nosso bem. O incêndio de um mês atrás não chegou até o Morrão. Então a gente já começava a desfrutar de uma paisagem cada vez mais bela.
Apesar do fogo ter destruído grande parte da vegetação, o melhor singletrack da Chapada Diamantina, segundo ciclistas dali, de lá, de cá e de acolá, continua lindo. O verde estava voltando. A natureza é incrível! Basta uma chuvinha para começar a trabalhar para o nosso bem. O incêndio de um mês atrás não chegou até o Morrão. Então a gente já começava a desfrutar de uma paisagem cada vez mais bela.
Sempre atentos aos detalhes do mapa, passamos entre um riacho
e uma serra. Pedalando mais um pouquinho, apareceu uma bifurcação. Conferido azimute, pegamos a trilha para esquerda. O tempo passava, a navegação realmente não era
tão simples e começamos a pensar no plano B. Voltaríamos de onde estivéssemos
ao meio dia. Depois de mais um riacho, entramos no vale entre o Morrão e uma
parte da Serra do Sobradinho, sempre atentos às bifurcações e traçando azimute.
Em Águas Claras, lavamos o rosto e seguimos sem demora pela
trilha na beira do rio. O tempo estava muito bom,
algumas nuvens nos protegiam do sol, além do ventinho.
Curtimos tanto que não percebemos o passar do tempo. Deixamos o Morrão pra trás, beirando a Serra do Sobradinho. Atravessamos outro rio, num singletrack dentro da mata e pedalamos mais e mais. Dessa vez beirando outra Serra e chegando a outro rio. Quantos rios!!
Já dava ouvir o barulho dos carros da BR 242,
pertinho do Morro do Pai Inácio. Encontramos a ponte e a casa que estavam no
mapa e seguimos na direção de Lençóis por aquela trilha pedregosa, super
técnica e travada. Vitor até pedalou um pouco, mas sentiu-se desencorajado
porque algumas pedras estavam bem pontiagudas. Na verdade, ele pedala muito bem, mas seu pneu dianteiro começara a
apresentar uns furos daqueles de espirrar o líquido do notubes na cara da
pessoa... rs! Corríamos o risco de dormir no mato, caso sua coragem fosse tão grande, rs! Foi ali, depois de andar pouco mais de 1km, que resolvemos
voltar. Já passava de uma da tarde. Não daria tempo de chegar a Lençóis e
voltar pelo mesmo caminho. Ou seja, plano “C” em ação, que
era pegar a BR 242, entrar para Palmeiras e seguir para o Capão pela estrada de
barro. O caminho que todo mundo faz. O detalhe é que tínhamos pedalado 29km. E,
daquele ponto da 242 até Capão pelo “caminho que todo mundo faz” dava 50km.
Mesmo assim, era mais seguro do que pegar a trilha de volta.
Pausa na beira do rio, na ponte da casinha, para
almoçar a bendita sardinha. Tomamos um banho pra refrescar e
partimos pela estrada afora. E que estrada! A 242 é perigosíssima! Os caminhões
gigantes descem as ladeiras embalados. Vinte quilômetros divididos em duas
descidas e duas subidas, cada uma de mais ou menos 5km. Estávamos cansados! As
duas descidas foram alucinantes a mais de 50km/h. De vez em quando, tocava no freio só pra ver se funcionava mesmo, rs! Já as subidas não foram assim
tão interessantes, embora não fossem ladeiras tão íngremes, só longas. Bom... Ao menos
não eram tão íngremes, só longas, rs!
Comemoramos por chegar à entrada para Palmeiras. Os perigos
por lá são outros. Não há acostamento... Bicicleta não tem vez! Oito
quilômetros sofridos contra o vento. Vitor já estava com fome e seu rendimento
caiu um pouco. Eu também estava exausta... Pensando bem, até que não estávamos tão mal assim. Eram quase 4h da tarde a 19km/h contra o vento, depois de mais de 6 horas pedalando.
Precisávamos com urgência de uma coca-cola bem gelada e um sanduíche bem
gostoso.
Cá pra nós, Palmeiras não tem um lugar que preste pra lanchar. Melhor você não pensar em parar por lá, caso resolva se aventurar pela Chapada. Em plena quinta à
tarde, rodamos a cidade toda em busca de uma lanchonete. Até que encontramos
uma mercearia inesquecível! Foi lá que comi o pior sanduíche da
minha vida! O pão estava tão duro que não teve chapa que resolvesse o problema. A carne do hambúrguer, a salada... Meu Deus! Ainda tentamos chupar um geladinho
com gosto de água suja misturada com sabão. Ah! Não quero falar mais sobre esse
assunto, rs! Aventureiro que se preza, come o que tem. Aventureiro que se preza sabe valorizar as coisas boas da vida e reclama pouquíssimo nos momentos da adversidade. No fechar da conta, consegui comer a metade
e Vitor devorou o sanduíche dele. E louvada seja a coca-cola gelada! Ela sim,
salvou o dia!
Só faltavam os 20km de Palmeiras até Capão. Só! As ladeiras sem
fim nos aguardavam. A noite estava chegando... Pegamos a estrada mais animados,
depois de reabastecidos. Nada melhor do que comer, fazer um xixi e descansar um
pouco para restabelecer a coragem! Mesmo que a comida seja ruim... rs! A paisagem também ajuda muito. A estrada é linda, tem morro pra todo lado, subidas desafiadoras e
descidas alucinantes para compensar. Também há pontes e trechos beirando rio
com muitas pedras...
Chegamos exatamente às 18h no Capão, depois de 79km de pedal.
De tudo que vivemos naquele dia, teria mil melhores partes
pra contar. Sempre, porque todas as partes são boas. Curto tanto que não há
reclamações, rs! Mas, a melhor parte de tudo isso é ter um namorado mais doido
do que eu, rs! O criaturo sugeriu essa
aventura, confiando em minha navegação. A "doidice"já começa em achar que tenho algum juízo, rs! Ajudou em tudo, pedalou o tempo todo sem reclamar, mesmo
quando tinha que me esperar chegar já que, além de ser mais lenta, acabava parando pra navegar. Curtimos tudo, desde o vento no rosto até as montanhas verdejantes. Curtimos a dor na perna na subida da ladeira, a adrenalina da descida, tudo, tudo, tudo. Tenho muita sorte mesmo!
E para comemorar o dia cheio de aventuras, só nos restou ir até a Pizzaria do Tomaz comer a pizza
Integral do Capão! Delícia!
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