Depois do Perrengue, a Peleja. Pessoal bem criativo quando se trata de dar nomes a provas de Corrida de Aventura. A próxima é Couro de Bode. Ainda vai ter Mandacaru, Cangaço e Desafio dos Sertões. Estamos organizados pra não perder nada, ainda arrumar tempo para correr Orientação, além de ter uma vida de gente normal, é claro, rs!
Sempre me gabei de não levar muitos tombos em provas. Minha
última queda, que pareceu mais grave, foi há uns 7 anos atrás. Numa
Paletada que aconteceu na região do Recôncavo, num asfalto, na chuva, de madrugada com muito sono. Tudo propício, associado à inexperiência, resultou numa queda que tirou nossa equipe daquela prova. Nesse fim de semana,
por alguns segundos, pensei que fosse precisar ser resgatada por ambulância.
Tudo pronto para a largada! Passei a semana viajando,
cheguei na sexta, sábado arrumamos as coisinhas e fomos à Feira de Santana. Domingo de manhã cedinho estávamos todos confraternizando na praça de Tanquinho
e nos organizando para partir para mais uma Corrida de Aventura.
Correr 40km é ótimo! Basta tomar um café reforçado com ovo frito, levar
cinco barras de cereal no bolso, três litros de água no camelback, dinheiro pra comprar coca-cola,
que a corrida flui que é uma beleza! Se a organização oferecer salada de
frutas, sanduiche e água, fica ainda melhor. Pois é! Foi assim...
Depois da volta de apresentação na praça, seguimos de bike
rumo ao primeiro PC da Peleja, primeira Etapa do Campeonato do Interior de
Corrida de Aventura. Não poderia ser mais tranquilo... Um trecho de bike com
poucas ladeiras, num estradão bem bacana de pedalar. Vai mais um pouco, segue
por 1,5km, OPS! Passamos direto! Aquelas casinhas deveriam estar antes de
nós... Então entramos pelo curral pra cortar caminho, encontrando o PC2.
Do estradão até a porteira, da porteira pro asfalto, do asfalto para o corredor de cerca. Pronto, PC3! Estava curtindo horrores! Achando tudo tão
bacana! Aquele corredor de cerca, minha agilidade diante das pedras, as subidas
e descidas com pequenos obstáculos, as árvores sombreando tudo... Bom demais!
Desci com boa velocidade cheia de confiança, passando pelas
pedras toda habilidosa. Até que uma pedra grandona apareceu bem no meio do caminho.
Dei um grito do tipo “AAAAAAAHHHH!” e voei da bicicleta. Vitor só precisou
olhar para o lado para me ver passar. Voei mesmo! Nem sabia que sabia fazer
isso. Depois mergulhei no chão com todo peso do meu corpo, somado ao impulso,
como se fosse uma jaca madura. Uma jaca mole. Protegendo o rosto com os braços,
bati braço, antebraço, costelas, perna, coxa, quadril... A lateral direita toda
avariada, rsrs! Filomena (minha bicicleta), na cara de pau dela, caiu de lado
toda charmosa. Já eu, diante na sensação de tontura, náusea e dor nas costelas,
preferi ficar parada só um pouquinho pra tentar sentir uma parte do corpo
de cada vez. Pra ter certeza de que aquela costelinha seca não estava
quebrada. Achei que sairia dali numa maca. Mas, esse pensamento durou poucos
segundos.
Alguns Aventureiros passavam na hora da queda... Levantei, xinguei Filomena, que parecia um burro. Daqueles que derrubam o dono e parecem
rir da queda. Nem um arranhão. E eu, toda estrupiada. Na verdade, preferia que
a bicicleta não tivesse quebrado mesmo. Levantei, sacodi a poeira do corpo,
montei na bicicleta e saí pedalando. Devagar nos primeiros 5 minutos, depois,
como se nunca tivesse caído. Que bom que continuamos!
As bicicletas ficaram no PC4 para seguirmos para os sanguinolentos PCs 5 e 6, no trekking. Seguimos 1km no azimute 200 até o pé do morro, depois
800 metros até onde deveria ter uma trilha para o topo. Rs! Não tinha trilha
não gente! Fomos pra lá e pra cá, pra lá e pra cá... Nada de achar trilha. Achando
que, atacando o morro a partir do PC7 poderia ser menos íngreme, resolvemos dar
a volta. A subida deve ter sido tão dura quanto do outro lado. Meu Deus, quanto
cansanção! Quanta pedra, quanta escalaminhada, quanto mato, quanto espinho!!!
Àquela altura nem lembrava da queda. “Tateando” pelos matos, subimos com a
rapidez que a natureza permitiu. Vitor vinha cheio de ofegância! Eu, disfarçando bem a respiração, andava dando pressa. Quem me vê ali, pensa que
estou ótima, rs!
No meio do caminho já vinha um bolo de gente descendo. Cada
um contando coisas terríveis sobre os PCs 5 e 6. Percebemos que a nossa escolha
não foi boa. A vida é mesmo feita de escolhas. O caminho pode ser árduo. O
resultado pode ser aproveitado, seja qual for, dependendo de como a gente encara a Peleja da vida.
Desistir nunca, render-se jamais, divertir-se sempre. O nosso lema!
Finalmente, aos trancos e barrancos, chegamos ao PC5. E
fomos para o 6 também. Terrível mesmo mas, nada que não tenha feito em alguma
corrida de aventura. Como uma lagartixa capenga, tinha que achar um lugar do
corpo que não doesse para encostar nas pedras. Não tinha como não lembrar da queda, rs! Uma escalada leve, mas bem
difícil pra uma criatura toda avariada como eu, naquele momento. Com toda dor,
consegui chegar ao PC6 com uma sensação de
superação que há tempos não sentia.
O sol castigava na descida. Sem uma gota d’água, eu e
Vitor fomos até o PC7, desesperados por um gole de água. O cansanção comia no
centro, a trilhas sumiam, os despenhadeiros apareciam, até que, finalmente, a
terra foi ficando plana. Sem contar que pra descer todo santo ajuda. Precisa nem de reza.
No PC7 tinha água morna mas, foi um alívio retado!
Seguimos para o 8, fazendo um trekking forte. Sobraram
poucas bicicletas por lá. O remanescente era só de sequelados, rsrs! Assim como nós, é claro! Bebemos
uma água bem gelada na casinha. Joguei um pouco de água na cabeça e usei o
sanitário do simpático casal de idosos. Muito simpáticos mesmo!
Meu sangue insistia em querer esfriar. Sabia que começaria a
sentir dores... O corpo começara a arrepiar, rs! Péssimo sinal de caruarite aguda! Mas, minha
gente, nada como água na cabeça, comida e um pouco de sombra pra regenerar uma
doida como eu.
Bem na hora de sair, percebemos que o pneu da bicicleta de
Vitor estava murcho. Nada que a gente não soubesse que aconteceria. Esperávamos até coisa pior. Desde Lauro
de Freitas que esse pneu sinalizava que nos daria trabalho. Mas, nem
foi tanto tempo perdido assim.
No PC9 tinha uma vendinha com coca-cola. Um lugar bonito, numa fazenda simpática! A prova estava
quase no fim... Com um sol de fritar os miolos e pouquíssima sombra, seguimos
pela estrada afora até que encontramos Luiz Célio, dizendo que poderíamos
seguir direto para a chegada que a prova havia acabado. Confesso que dei um
grito interno de alegria, rs! Mesmo achando que éramos os últimos dos últimos,
seguimos animadíssimos para a chegada, até a subida final que parecia que não
acabava nunca.
Lá na praça, já sem pórtico de chegada, a premiação acontecia...
Ainda assim, fizeram festa com a nossa chegada e nos convidaram a subir no
pódio. Afinal, o CICA premia até o sétimo lugar. Ficamos em sexto lugar, num pódio recheado de grandes amigos.
Foi massa! No começo do ano, eu e Vitor renovamos nossos laços
de amor, juntando nossas escovas de dentes. No CICA, renovamos nossos laços de
amor à Corrida de Aventura, levando em consideração o lema da nossa equipe
Aventureiros do Agreste. Desistir, só em caso de risco de morte!
Precisava principalmente ser divertido! E foi!
Amamos a prova!
Organização muito show em todos os aspectos!
Aproveito para fazer um agradecimento especial ao meu
amigo-irmão Marcelo Azoubel, que nos fez a gentileza de levar nossas bicicletas
para a prova. E para dar os parabéns mais do que especial para nossos Aventureiros Lucy e Vande, que
mandaram muito bem na prova, conquistando quarto lugar.
Tô toda feliz porque não quebrei meus dentes nem nada. Dente
dá um trabalho danado pra consertar! Descobri que posso voar e sei cair como
nos filmes de ação. Meu anjo da guarda, o Zé,
é sempre muito legal comigo!
No mais, tenho que levar minhas perebas pra passear, já que
preciso focar no Running Daventura 42km, dia 24 de maio. O objetivo é terminar
a prova!
Depois é a Corrida de Aventura Couro de Bode, lá em
Juazeiro. Vamos treinar meu povo, que tem mais três etapas de CICA pra gente
fazer!
Beijos e até muito breve!
PS: O sofrimento é passageiro, desistir é para sempre!
PS: O sofrimento é passageiro, desistir é para sempre!
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beijosss