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Desafio Ladeira de Pedra

   Sou de Catu. Morei na rua atrás da igreja, no pé da Ladeira de Pedra. Todo mundo sabia qual era a igreja e onde ficava a Ladeira de Pedra. Hoje em dia não tem pedra e tem igreja pra todo lado.
   Subir a Ladeira de Pedra era uma coisa incrível! Só chegávamos até o comecinho e só subíamos de carro ou ônibus com nossos pais. Depois dos 10 anos, nossa família mudou pra parte de cima da cidade. Como a escola era na parte de baixo, subir e descer a Ladeira de Pedra virou rotina. Depois da escola, o ônibus subia tão cheio que até parava no meio do caminho... Já teve situação do ônibus voltar de ré com o povo gritando. Entretanto, minha cidade natal não tem só a Ladeira de Pedra, tem muitas outras. E no Desafio Ladeira de Pedra, ao invés da dita cuja, subimos a Ladeira do Gogó da Ema. 
   Aproveitamos pra ir pra roça logo de manhã pra dar tempo de almoçar com Conça, minha mamãe. Seguimos pra cidade só no fim da tarde. Comemos um acarajé na Aruanha, visitamos Norminha, pegamos meu kit de corrida cheio de brindes no coreto da praça da igreja e deixamos Conça num local estratégico de passagem da corrida, a casa de tia Dirce.
   Então vamos à corrida...

   Feliz por ver aquela turma toda na largada, mesmo com o tempo frio e chuvoso, convidando pra ficar em casa debaixo dos lençóis. Eu estava comprometida a correr tranquila, sem botar os bofes pra fora, despretensiosamente. Difícil é correr cinco quilômetros sem botar os bofes pra fora, principalmente quando o primeiro trecho da prova já é a subida mais íngreme e longa, a do Gogó. Todo mundo parecia comprometido em não lesionar, inclusive dava pra ver todos à minha frente. Tem umas corridas em que a gente não vê o rastro dos que vão na frente. Vi uma menina ao meu lado e duas cabeleiras esvoaçantes na frente. Deixei a menina e fui atrás da primeira cabeleira. Ela dosava, eu também. Passei, ela passou, passei de novo... Pareceu interessante mas eu bem sei que a prova estava no começo. Sem querer me gabar, subo bem!

   A chuva já caia pelas ruas da Aruanha. Vitor, que pedalava pra me acompanhar, passou por mim quando liderava a prova, que eu não sabia que estava liderando. Então a menina da cabeleira bonita (bonita mesmo!) me ultrapassou e nunca mais olhou pra trás. Na verdade, ela quem liderava, rs! Ainda assim, consegui manter uma distância controlada. Quando chegamos perto da rodoviária fui saber que a cabeleira mais esvoaçante era de um rapaz que corria loucamente. 
   Na volta pela ladeira do Gogó, fiquei preocupada em levar um tombo porque meus tênis escorregavam bastante. Foi ali que perdi a menina do cabelo bonito de vista. Sem querer me esculhambar, desço muito mal! Sou péssima! É segredo... Mesmo assim não desisti de fazer o melhor que pudesse. Afinal, tinha muita gente atrás de mim e não desisto jamais. 

   Assim, descemos em direção à antiga estação de trem, onde agora é museu. Bonitinho! Catu tem até museu. Passei em frente à casa da tia Dirce, gritei a mãe desnaturada, que nem estava na porta esperando a filha passar. 
   Seguimos em direção ao comércio, viramos na garagem da Catuense e subimos na rua onde tinha o bar do meu Tio Vadu, onde comia o melhor pãozinho delícia quando era pequena. Deu até água na boca só de falar!
   Finalmente, a igreja matriz. Linda, iluminada... e distante. O paralelepípedo escorregava como quiabo. Subi tentando manter o ritmo mais forte que podia e até ultrapassei um cansadinho. Minha amiga Andréa estava na chegada no "bora Lu!", numa animação danada.

   Cheguei em segundo lugar com gostinho de hemácias na boca, toda feliz por fazer essa prova, correndo pelas ruas da minha cidade! Ruas tão conhecidas na minha infância e adolescência, que o tanto de estórias não cabe aqui. Amei, embora tenha cada vez mais certeza de que meu negócio é longa distância. Cinco quilômetros é coração na boca o tempo todo. Isso mata, minha gente! Prefiro resistência à velocidade. E, do jeito que sou louca, pra não ter um custipio, melhor fazer provas longas. Vou viver mais!

   Depois da premiação pegamos Conça pra comer na pizzaria da minha amiga Rosana, a Dagas.  Outro reencontro delicioso, caloroso, amoroso! 
   Não vi várias amigas queridas que achei que estariam lá. Deixo aqui um abraço especial pra cada uma.

   Agradeço muito a Show por me proporcionar o grande prazer de correr em minha cidade natal. Uma prova super bacana, bem organizada e acolhedora! Vou sempre que puder.
   Gratidão também a marido lindo pelo apoio de primeira qualidade e à minha mamãe que, pela primeira vez, teve a intenção de assistir a uma corrida minha.. KKKK! Intenção já conta!
   Até breve!





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