Brasil Wild Maratona de Canoagem de Paulo Afonso de 21 de janeiro, 55km no Rio São Francisco.
Penélopes- Luciana Freitas e Gabriella Carvalho.
Nos dois meses que antecederam a prova, enrolamos mais do que treinamos! As duas enroladas com filhos, trabalhos, casa, lesão de tornozelo.. Mesmo assim, a ousadia de uma Penélope é muito mais forte do que tudo nessa vida! Fomos mesmo!As dificuldades já começaram antes da prova. A dupla masculina (Tadeu e Ígor) que viajaria com a gente, desistiu de última hora. Ficamos sem companhia e sem hospedagem, já que isso seria resolvido pelos rapazes. No final das contas viajamos sozinhas no meio da tarde. Conversamos tanto que nem percebemos o tempo passar. Era quase meia noite quando chegamos a Paulo Afonso, no apagar das luzes da entrega dos kits dos atletas. Sorte que tinha vaga no hotel da organização! Daria tanto trabalho procurar hospedagem àquela hora!
Éramos a única dupla feminina a fazer os 55 km. Sim! Fomos pra curtir, conversar, encontrar os amigos, fazer terapia... e fazer a prova toda, é claro! Era só completar para ficar em primeiro. Detalhe que havia uma imposição de tempo de corte, onde deveríamos chegar numa tal ilha localizada no km 30, em até 5 horas de prova, dar a volta pela “dita cuja” e retornar pelo mesmo caminho até a chegada. Ou seja, passou da hora estaríamos fora da prova. Então pensamos que, remando a 6 km/h a coisa dava sem sobra mas, dava.
Lembrei do Brasil Wild Extreme, minha primeira prova de 600km. A largada foi no mesmo lugar e a adrenalina muito parecida. Aquela hidroelétrica do Rio São Francisco é suntuosa! O rio é imponente e exige respeito! Logo na largada, tem uma trama de redemoinhos perseguidores de caiaques que viram quase todos os barcos. Puxam tudo o que aparece pela frente!
Durante nossa descida para o ponto da largada, avaliamos a melhor maneira de passar pelos redemoinhos e decidimos passar pelo lado direito. Ali no cantinho, ficamos um bom tempo rindo e conversando com amigos queridos de longas datas. O helicóptero resolveu aparecer, com um atraso de mais de 40 minutos, quando foi dada a largada. Aqui pra nós, largada sem um helicóptero não tem a mesma chiquêza!
Ficou difícil concentrar para não virar o caiaque naquela confusão de barcos se batendo. Muitos atletas já caíam no rio e a gente remava forte pra fugir dos redemoinhos. Era gente gritando por todo lado. Cada vez que nosso caiaque batia com outro, o redemoinho tragava a gente. Gabi gritava muito! O Velho Chico já estava impondo respeito na saída da prova. Pensei que viraríamos o barco várias vezes. Cada segundo parecia muito tempo! O resgate estava ali. Tivemos sorte, força e ajuda Divina pra sair de lá sem tomar um caldo. E os gritos de Gabi ajudaram de verdade, rs! É sério!
Depois dessa confusão toda, coisas acalmaram um pouco. Naquele começo, tudo estava belezinha! Ficamos no meio do bolo, junto com os atletas que fariam 8 km. Depois, eles foram embora, nós continuamos. O sofrimento estava garantido. Mesmo assim, daríamos tudo de nós pra concluir a prova. Conversamos pouco e cuidamos de imprimir o mesmo ritmo de remada pra manter a velocidade constante. Só que o Velho Chico não é um rio tão fácil de navegar. Dentro daqueles cânions imponentes, o vento vinha com tanta força que formava ondas e empurrava o barco pra trás. Tão forte que virava o barco de lado. Eu tinha que remar e fazer o leme com uma força que me desgastava muito. O lado bom é que estou ficando craque no leme! Imaginem que não deixamos o barco virar no redemoinho e, mesmo fazendo uma força miserável, conseguia manter o barco na rota certa. Gabi me ajudava bastante! Sempre foi a nossa melhor remadora! Mesmo assim, a coisa estava pesada!
Determinadas a cumprir o tempo de prova, comemos bastante na largada, e combinamos de tomar um gel de carboidrato com 2:30h de prova e só comer um sanduíche quando chegásemos na ilha.
Quando o vento dava uma trégua, o barco deslizava que era uma beleza! A gente botava mais força pra navegar mais rápido. Só que isso demorava pouco. Era só falar que estava melhor que o Velho Chico mandava o vento soprar outra vez. Eu e Gabi ficamos muito concentradas mesmo. As duplas Maurão e Pugliese e Arnaldo e Hélio nos alcançaram, conversaram pouco e passaram por nós.
Lá pelo km 10, doíam braços e ombros. No km 15 doíam punhos, mãos e dedos. No 20 doíam as costas e os calos pipocavam pelos dedos afora. Bom! No km 25, doíam as sobrancelhas, cílios e até mesmo a alma. Sonhávamos com aquela tal ilha, onde faríamos a volta para retornar à chegada. Só que o diacho da ilha parecia que se afastava. Começamos a passar pelas duplas que retornavam e cada um dizia que faltava uma distância diferente.
Quanto sofrimento! Na virada para fecharmos o km 30, apareceu o barco da organização... O tempo de prova estava esgotado e o catamarã viria recolhendo todas as duplas. Oh! Só 30km! Seríamos recolhidas da prova, rs! Então, eu e Gabi resolvemos dar meia volta e remar até o barco aparecer. Só que minhas lombrigas já estavam desesperadas por comida, esperando o tão sonhado sanduíche. Eu tinha prometido sanduíche pra elas. Pôxa! Já eramos o material de coleta mesmo! Então paramos para o piquenique. O sanduíche de queijo com salame que fizemos no café da manhã do hotel estava inteiro, seco e gostoso!
Uma lancha massa veio nos resgatar! Lá dentro já estavam vários amigos na mesma situação. O pessoal do programa adrenalina acabou sendo resgatado junto com a gente porque o barco deles quebrou. Todos foram entrevistados. Apareceu quentinha com comida, sanduíche, coca-cola e outros rangos. O detalhe era que a lancha teria que acompanhar quem estivesse remando por último. Então resolveram nos transferir para o catamarã.
Quando a lancha encostou no catamarã, percebemos uma movimentação danada. Nem percebemos que aquele rebuliço todo era porque estávamos ali. RS! Os repórteres queriam entrevistas. As Penélopes não terminaram a prova, mas fizeram o maior sucesso. Na boa! Eu preferia terminar do que ser celebridade. Aliás, nós preferíamos! Entretanto, na falta de escolha, fomos dar entrevistas.
No final das contas, fizemos um belo passeio de catamarã pelo Rio São Francisco. De graça, diga-se de passagem, pudemos apreciar aquela maravilha da natureza. E ainda tivemos a oportunidade de dar tchauzinho pra vários amigos no caminho e aplaudir as equipes que chegavam no momento em que o catamarã encostava.
A lição que aprendemos nessa história toda é que o nosso esporte é muito sofrido, mesmo com treino! Então, se for sem treinar, já sabe! Vai se lenhar e corre o risco de sofrer corte. Fazer o que!? Negar que me diverti muito.. impossível! Ainda jantamos e curtimos com os amigos, aproveitamos o movimento da cidade e fizemos ótima viagem de volta, planejando a Maratona de Canoagem de 2013 de um jeito bem diferente!
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