Meu Deus! Como eu gosto da natureza! Como é bom andar no mato! Como é bom fazer trilha!
Aproveitando o fim de semana sem as crianças, fui pra roça para ser filha. Rs! Filha única! (Essa minha irmã tinha que ler!) Meus pais ficaram felizes com a visita e eu, mais ainda! Adoro viajar sozinha, embora nunca esteja sozinha. Ando sempre com Zé, o meu anjo da guarda, e converso com os meus botões. O som do carro pode ficar muito alto de vez em quando e talvez eu cante mais alto ainda. Posso gritar, chorar, sorrir, até ensaiar conversas sérias, rs! Posso ser "sem destino".
Minha mãe vem rápido abrir a porteira, enquanto buzino sem parar desde a vista mais longe da casa. Por lá tá tudo lindo! Tudo verde! Tudo cuidado com zêlo. Os bons ventos me levaram com muitas notícias boas! A família está crescendo.. tem mais menino pequeno na barriga de gente grande! Ainda bem não nasceu um lá no Rio de Janeiro, a outra já vem com a notícia que tá prenha! Ninguém cabe em si de felicidade! O Ano Novo veio com tudo! Veio feliz! Veio Divino!
Cheguei na hora do almoço! O lombo chega tava preto na panela! Com aquele caldinho salgado, gostoso! O feijão era daqueles que a gordura pula na sua cara quando você abre a panela. Mas, há quem diga que ele é sequinho e não tem quase nada de gordura. Rs! Quem tem colesterol alto que dê seus pulos!
O cair da tarde tem um barulho de cigarras ensurdecedor e todas as estrelas nos dão a honra de sua presença. Os patos vem pro terreiro, as galinhas d'angola sobem no pé de acerola. Coitado do pé de acerola! Está todo envergado! Parece até um pé de galinha d'angola.
O quarto fica muito escuro quando está tudo fechado. Nem dá pra ver a mão na frente do rosto. Mas, é melhor dormir logo porque as galinhas, os gansos e todos os outros bichos acordam muito cedo. E fazem um barulho danado! Sr. Freitas, às 4 da manhã, já está cuidando da vida. Na labuta! De bota, capacete e facão na cintura para qualquer precisão. Dona Conceição já fez o café e o cuscuz. Só esqueceu de colocar o prato pra filha comer mas, está perdoada! Embora tenha o melhor tempeiro do mundo, sempre colocou a gente pra se virar. Por isso que sou assim, meio independente demais da conta. Mais até do que precisa.
Depois do café, fomos ver o pedaço de terra que meu irmão comprou. A caminhada sempre me faz muito bem! E compartilhar esses momentos com meus pais não tem preço! Fotografei tudo. Diante de todo o verde e toda a vida daquele lugar, meu pai contava seus planos. Dizia que tava tudo muito feio e que ninguém sabia fazer nada. (E eu achando tudo lindo!) E falava dos seus planos de transformar aquele "mambebe" (palavra usada, exclusivamente, pelo Sr. Freitas para dizer que o lugar só tem mato e cobra), numa terra que preste. Caminhava descrevendo e gesticulando onde passará o rumo da nova cerca, que ele mesmo vai fazer com suas próprias mãos. Sempre lembrando que não sabe se estará vivo pra fazer aquela cerca. Aliás, já nasci ouvindo ele dizer não me veria entrar na alfabetização. Quando cheguei na alfabetização ele passou a dizer que não me veria entrar no ginásio e o resto vocês já podem imaginar. Sempre digo: "Pai! Você diz que vai morrer desde que eu nasci! Vai fazer 76 anos e ainda tá fincando morão de porteira, roçando pasto, puxando burro, carregando lenha, abrindo côco numa facada só, fazendo cerca. Ai, ai!! Tô achando que você vai viver mais de 100 anos."
O pedaço de terra tá acabadinho mesmo! A casa tava fechada mas, deu pra ver que o telhado não tá bom e tem até parede rachada. Mas, o quintal é uma beleza! A terra é bem fértil! Tem água encanada e energia também! Tem siriguela, limão, banana, genipapo e outras árvores frutíferas que não lembro agora.
Conça quem conversou mais na volta! Falou sobre seus negócios, que vão de vento em popa! As galinhas engordam rápido! As pessoas da cidade gostam muito de galinha de quintal e fazem encomendas toda semana. Os vizinhos compram mais as de granja. Sempre tem freguêses na porta para comprar o almoço do domingo. Voltava apressada! Podia aparecer algum freguês! De vez em quando, compra porcos pequenos e vende depois que crescem. Dá lucro também. O dinheiro da venda das poucas vacas já tem até destino. Vai para os passeios pelo Brasil afora duas vezes ao ano. São uns roceiros ousados! Ousadíssimos!
Antes do almoço, colhemos laranjas e bebemos água de côco. Além da colheita, outra coisa que dá um bom dedo de prosa é ficar no pomar, tomando água de côco e chupando lima e laranja. É conversa que não acaba mais.
Lavei os pratos do delicioso almoço e fui embora saudosa! Ô vida boa! Preciso fazer mais isso. Todas as energias são revigoradas, tudo fica melhor! Os pensamentos se organizam, as idéias fluem, a vida fica leve!
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Que Deus abençoe aquela terra e dê vida e saúde aos donos dela!
Comentários
Beijo grande e parabéns pela bela história, viajei...
Roberto Faria.