A formação do quarteto ficou por conta de Gabi, Mauro,
Marcelo e Scavuzzi. Nós, eu e Vitor, ficamos com tanta vontade de ficar no meio
do bolo, que arrumamos um jeito de ir em dupla para a Final do Espírito Santo.
Seis Aventureiros do Agreste nos matos do Espírito Santo daria muita estória
pra contar.
Uma luta até embarcar! Totó pro hotel (uma chiquêza só, esse
Totó!), crianças enbarcando pra Sampa e lá estávamos nós, no aeroporto, rumo ao Espírito Santo. Uma caixa, duas bicicletas, muitos amigos queridos (Arnaldo, Plínio, Ricardo, Ana Paula e Kassiele) no
mesmo voo e muita expectativa.
A chuva estava tão forte que avião não pôde descer. Sem
“teto” para aterrissagem. Que saco esse negócio de “teto”! Não era pra ser o
contrário? Com teto o avião bate no teto, sem teto está aberto... Ah! Deixa
isso pra lá! Só sei que ficamos voando nos céus do Espírito Santo, o
aeroporto fechou e fomos parar em Campinas. Só depois, resolveram nos devolver pra Vitória, no mesmo avião. Pelo menos isso!
O atraso nos fez perder o ônibus que levara os atletas ao
alojamento e nos obrigou a percorrer 60km socados numa Kombi socada de
equipamentos, sem lugar nem para os pés. Uma chuva retada, a estrada super sinuosa, uma serra miserável... Ou seja, a aventura começou muito
antes, como sempre. Sorte que o quarteto da Aventureiros chegou antes e
providenciou nossas pequenas pendências.
Teve mais! O alojamento deu errado, nos transportaram
para o quinto dos infernos depois do briefing, dormimos no máximo 3 horas,
para fazer uma prova de 175km no dia seguinte. Então vou parar de escrever as
coisas que deram errado pra começar a contar da prova. Ainda bem que, nada de
tão errado aconteceu mesmo. Melhor agradecer!
O mapa, quase do meu tamanho, tinha tanta curva de nível que
dava medo só de olhar. É sério, tinha mais de metro! Tô reclamando, não! Rsrs!
No dia seguinte a gente tava lá na Estância do Vale do Moxuara, no pórtico de
largada, pegando o GPS e esperando a hora de sair. Nós seis! Aff Maria,
como eu amo esses Aventureiros!
De bike, começamos subindo, subindo, subindo... e subindo. Não parávamos de subir. O que foi aquilo, meu Deus!? Passamos pelo PC1 e continuamos subindo. De vez em quando a gente descia, mas era mais subida do que descida. E essa luta seria de 40km até o PC8, quando pegaríamos nossos tênis pra mais uns poucos km de bike e descansar o forévis com míseros 7km de trekking.
Gente! Rezava pra chegar no trekking! Hora subia
pedalando, hora empurrando a bicicleta. E nós estávamos num ritmo tão parecido
com nosso quarteto, que sempre nos encontrávamos, vez ou outra, até que o pedal
de Scavuzzi soltou. Tivemos que continuar, porque, afinal, a prova não era em
sexteto e tinha muito macho pra ajudar. Mas, fui preocupada, pensando em como
eles resolveriam aquele problema que parecia sem solução. Não dava pra subir e
descer tantas ladeiras pedalando com uma perna só...
O sol começou a esquentar e precisamos fazer umas paradas
estratégicas, como a da casa do Sr. Amarildo. Aquela mangueira tinha uma água
gelada deliciosa! Meu corpo agradeceu dez vezes. E a esposa dele arrumou vários
cubos de gelo pra nossos camelbacks. É muita gente boa que tem nesse mundo!
Continuamos ladeira acima até o PC8, na pracinha da pequena
cidade de Domingos Martins que, por sinal, era lá no alto da montanha.
Rapaz!... Meus cambitos estavam em chamas!
Uma pena que fomos cortados por 40 minutos! A corrida
atrasou uma hora e meia e o tempo de corte foi estendido por meia hora.
Pouquíssimo justo! Pior do que ser cortado era saber que teríamos que concluir
os cento e tantos quilômetros de pedal sem trégua. Nem uma perninha de trekking
pra aliviar. Minha reza não deu certo.
Então tá! Fomos pegar nossa caixa no caminhão para o piquenique da pracinha, na companhia mais do que agradável das amigas Ana Paula
e Kassiele, além dos meninos da Gantuá e outros atletas que conhecemos por lá.
Rolou suco, sardinha, pêssego em caldas, coca-cola, bananinha... Maior farra!
Muito lugar lindo pelas serras do Espírito Santo! Cascatas,
rios, pontes, barragens. Ainda era dia quando saímos de Domingos
Martins. Pedalávamos, interminavelmente, desde as 10h da manhã. Decidi não
respeitar tanto as ladeiras sem fim, empurrando a bike só quando o bumbum doía
mais do que os braços, rsrs! Raiai...
As ladeiras eram muito cruéis nas subidas, verdade! Mas,
nada foi mais louco nessa prova do que a ladeira da Rota Imperial, depois do
PC21. O que foi aquilo?? Àquela altura minhas pastilhas de freio nem prestavam
mais, meus braços estavam doloridos de tanta trepidação, as pernas eu nem
conto, rs! Ao final do primeiro trecho da ladeira, parei pra arrumar alguma coisa e Vitor
comentou que a ladeira deu medo. Era medo de ter descido a ladeira errada e ter que voltar. Só que entendi que foi medo de descer e fiquei até surpresa, por não ter achado o trecho tão ruim. Aí, gente, começamos a descer o segundo trecho
e... A bicicleta não parava de descer loucamente, os freios só funcionavam numa
certa pressão, uns pequenos buracos apareciam para tornar a coisa emocionante,
um buraco enorme apareceu para tornar a coisa mais perigosa... Meu bumbum
estava posicionado atrás do banco (quem pedala sabe bem do que estou falando),
tive ímpeto de parar no caminho para respirar, mas era impossível, até que
acabasse aquela ladeira alucinante. Que medo, que adrenalina!
Bom... Como todo sofrimento pra corno é bobagem, chegando ao
PC23, rapel do Véu da Noiva cancelado, pedal não. Foram 9km só subindo até o
PC24. NOVE! Chegando lá, assinamos o PC e voltamos no maior “Uhuuu” outra vez.
Mas não o mesmo “uhuuu” da ladeira da Rota Imperial. Não sei se vai ter igual.
Relaxamos um pouco no PC25, antes de sair pra canoagem. Deu
pra comer uma quentinha, dançar ao som de Shakira, conversar com a turma,
arrumar as tralhas e, o melhor, ver a Aventureiros chegando, depois de muito
perrengue. Fico tão orgulhosa do meu povo! Mauro prendeu o pedal de Scavuzzi
com um adaptador de pito, não sei de que maneira. Perderam muito tempo, com
certeza, mas estavam ali à nossa frente, já planejando a subida para o Véu da
Noiva.
Que belo passeio pelo rio Santa Maria! Não sei fazer leme em
duck, Vitor também não. Remamos de uma margem a outra, em zigue-zague, nos
enganchamos em vários galhos de árvore, reclamei até esgotar minha cota de
queixas da vida dos próximos cinco anos... Tinha horas em que a gente
parava de remar pra concentrar, pra ver se conseguia seguir reto. Dava certo
até o galho seguinte. Se eu avisasse que tinha uma pedra na frente, Vitor ia
pro lado da pedra, rsrs! Enfim, foi trágico. Só agora que pode ser cômico. Demoramos
cinco horas pra terminar o percurso de 27km num remo arrastado até não poder
mais. Tinha horas em que nem parecia que estávamos rio abaixo. Mas, como,
graças ao bom Deus, tudo tem um fim, conseguimos concluir o remo às 3 da manhã.
Pra variar, as pernas não queriam obedecer pra sair do
barco. Trava tudo! Com força e coragem a gente se esquiva do desconforto e sai.
Daí vem o frio. Então a gente tem que pegar o anorack o mais rápido que puder,
antes que os dentes quebrem. Ufa, conseguimos mais essa! E pernas pra que te
quero! Só faltavam pouco mais de 20km para acabar a prova.
Gente, nunca vi um lugar pra passar tanto trem na minha
vida. Era de minuto em minuto. E, como estava escuro, a gente só ouvia o
barulho bem alto e ficava imaginando o quão desconfortável deveria ser morar
ali perto. Mas, bucólico também.
O dia amanheceu enquanto corríamos pelo pequeno trecho de
asfalto. Quando pegamos a estrada de barro, o sono foi chegando de mansinho.
Comecei a falar embolado. Meus olhos não se seguravam e eu não tinha dois
palitos para segurá-los. Vitor também começou a sentir sono. Mas, nada como
tomar uma carreira de boi pra acordar, rsrs! Carreira de cachorro também tira
sono. Os cachorros do Espírito Santo são criados com sustagem. Enormes, valentes,
de voz grossa e aparecem em turma grande! Vitor é sempre o Salvador da Pátria.
Ele se joga na frente e grita com a cachorrada toda. Tenho mais medo de
cachorro do que de boi, rs!
De certa forma, os cachorros nos mantiveram acordados. E o
café com leite que pedi naquela vendinha também. Sou tão cara de pau que peço
logo café com leite. O moço disse que o leite não servia não, porque estava na
geladeira. Aí eu disse que servia sim, rsrs! Que a gente gostava quando o leite
esfriava o café um pouquinho, rsrs! Bato meus próprios recordes de cara de
pauzisse!
Finalmente, chegamos ao nosso destino: A CHEGADA! Em exatas
24 horas de prova, às 10h da manhã no domingo, cruzamos o pórtico de chegada.
Pena que não soubemos em qual posição ficamos, porque
levamos o GPS para rastreamento, não tinha um PC nos esperando nos pontos de
passagem. Achamos que, de 25 duplas, entre masculinas e mistas, ficamos em
sétimo ou oitavo, não sei. Mas, exceto pelo trágico remo, fizemos uma ótima
prova. Com fluidez, perdemos pouco tempo nas transições e fizemos o melhor que pudemos em todas as modalidades. Nossos Aventureiros também conseguiram cruzar o pórtico de chegada sem desistir, apesar de todas as dificuldades.
Então só nos restou passar o resto da manhã dormindo no
bagageiro do ônibus, até que chegasse a hora de ir. Banho só à noite, no hotel
em Vitória. E foi tanta coisa que a gente passou até chegar lá que daria
outra resenha.
Que bom viver mais essa aventura! Que venham muitas outras, muitos treinos, muitos encontros e muitos amigos! Será que não tem mais uma provinha esse ano pra gente correr? Só mais uma...
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