Tarde de sexta-feira com previsão do tempo confirmada! Ilhéus não tinha "teto" para aterrissagem. O vôo da Avianca estava cancelado! Putz! Lá estávamos nós, no aeroporto, tentando decidir a melhor opção para chegar ao local da prova na sexta mesmo. Da Aventureiros, eu, Mauro, Gabi e Scavuzzi, além de Naru e Gaia da Makaíra, Diana Gomes da Gantuá e Raissa, para apoiar a Makaíra 2. Ou seja, caso não "voássemos" até Ilhéus, seria um desfalque de 3 equipes na Carrasco.
Pegamos os carros, socamos os equipamentos e as bicicletas e partimos para mais de 6 horas de viagem até Ilheus. Meu carro com metade da turma e o de Mauro com a outra metade.
Chegamos à Terra do Cacau quase onze na noite. Só deu tempo de instalar os equipamentos nas bicicletas para entregar à organização. Minha idéia de ir só pra dar uma força, virou uma programação de apoio. De carro em Ilhéus ficou mais fácil. Dava pra levar as caixas, arrumar a comida e chegar em todos as áreas de transição sem precisar de carona. Virei apoio em tempo integral.
Apresentandooo! O quarteto: Ígor (tirando minha licença médica), Scavuzzi, Mauro e Gabi.
Mesmo assim, fiz tudo como se fosse largar junto com eles. Navegamos no mapa, marcamos distâncias, colocamos azimutes, discutimos os caminhos a percorrer. Tudo isso, regado a pizza, guaraná e gargalhadas. A gente ganha pouco (literalmente), mas se diverte horrores! Naquela noite, chorei de rir, como já fiz várias vezes com essa turma. Só nos separamos na hora de dormir, quase três da manhã para acordar às seis.
O Hotel era mesmo bem gostoso! Café da manhã delicioso e farto, apropriado para aquela turma de famintos que só veria "comida de verdade" dali a umas 26 horas, no mínimo. A manhã tinha cara de aventura! O "cacau tava caindo" em Ilhéus! Pensem numa prova molhada e multipliquem por 200! Conforme prometido pela organização e pela previsão do tempo.
O pórtico da largada ficava a uns 300m do hotel. Fiquei na maior adrenalina, parecendo que ia correr também, embora soubesse que a hora do desgrude era aquela. Então fui pegar água de côco, que a barraca de praia estava servindo como cortesia (Muito chique!), e levei para a equipe. E senti muito por não ter conseguido correr para abraçá-los antes da largada, por causa do tornozelo machucado. Meu grito não fez diferença em meio àquele barulho todo. Tava chovendo muito! Saíram correndo pela praia e nosso próximo encontro era no PC3, onde pegariam os remos e as mochilas
Pouco tempo depois que cheguei nessa área, as primeiras equipes já apareciam, fazendo a transição e indo embora. Fiquei impressionada com a rapidez do pelotão da frente! Como conheço bem minha turma, sabia que eles demorariam um pouco e, confesso, isso não me causou impaciência, nem angústia. A demora nem foi tanta assim. Outra coisa que não fiz, foi procurar saber a posição deles. Quem tá na "rabada" não gosta que ninguém fique passando na cara. Experiência própria, rs! Dei uma ajuda e os vi partir sem demora para o trecho de remo no mar. Nem sei o quanto eles estavam confiantes mas, eu estava o bastante por todos eles. Conheço cada um com a palma da mão e sei do que são capazes.
No caminho para a AT (Área de Transição) seguinte, Glaucia (Apoio da Papaventuras), Raissa (Apoio da Makaíra 2) e Marcus (Apoio da dupla de Clóvis) e eu passamos em alguns lugares para comprar pão, queijo, água e gelo. Quando vi aqueles frangos de "televisão de cachorro" num mercadinho, lembrei do quanto é delicioso comer "comida de verdade" no encontro com o apoio. Todos aderiram ao meu apelo do frango assado e compraram para suas equipes também.
A segunda área de transição, PC6, foi num vilarejo ribeirinho de casinhas pequenas, pracinha com banquinhos de cimento e música muito alta de gosto bastante duvidoso. Os atletas apareciam de uma trilha do outro lado do rio e atravessavam nadando até o píer de onde podíamos vê-los chegar. Organizei comida e água, enquanto esperava as bicicletas chegarem no caminhão. A chuva vinha e voltava, sem se decidir. Gal até tentou montar uma estrutura de apoio mais "profissional", colocando as coisas numa lona bonita ao ar livre mas, a chuva vinha e esculhambava tudo. Não deu certo de jeito nenhum!
Tava gostoso ver as equipes chegando na briga pela liderança. As transições eram tão rápidas que nem parecia que eles comiam alguma coisa antes de sair. De vez em quando, ia até o píer pra ver se minha equipe dava o ar da graça. Nada de Aventureiros do Agreste! Mas acabava vendo outros amigos chegando, sempre fazendo a maior festa. Tiloca, outra grande amiga, fotografava cada mergulho da galera, sem perder nenhum detalhe.
Finalmente, reconheci aquela pessoa com pernas de garça, saindo da trilha do outro lado do rio, preparando-se para a travessia. Confirmei que eram eles, quando todos afastaram-se mais do ponto de chegada para vencer a correnteza e cair no lugar certo. Isso é coisa de aventureiro experiente! Sem falar da inconfundível camisa rosa-penélope de Gabi! Uuui! Dei um pulo de alegria, seguido de um grito de dor. Esqueci do tornozelo machucado, rs!
Chegaram, comeram, beberam, uns trocaram meias, outros colocaram as sapatilhas. O frango assado fez o maior sucesso, inclusive com o cachorro, que levou quase tudo na boca, enquanto estávamos entretidos nas arrumações. Não teve quem não risse da situação! Fiquei com cara de bocó, vendo o meu almoço indo embora. Planejava comer o que sobrasse quando liberasse meus atletas. Tudo bem! Nem tava com tanta fome mesmo! Acabei distribuindo as coxas que restaram para os outros cachorros que estavam por ali, morrendo de inveja. Não gosto de coxas de frango com baba de cachorro!
"Pronto gente! Chega de conversa que tá na hora de ir embora!" Era assim que me despedia deles. Êta pessoalzinho folgado! Nem perguntava muita coisa da prova pra não aumentar conversa. Era um tal de pedir coisas, que não sei não! Na verdade, eles são tranquilos demais mesmo! A barulhenta e agoniada da equipe sou eu.
Meus companheiros de comboio só esperavam por mim para seguirmos até a Lagoa Encantada, uma área de proteção ambiental cercada de Mata Atlântica, cheia de encanto mesmo, entre Ilhéus e Itacaré. A estrada de barro até lá é que não tinha nenhum encantamento, exceto para quem apareceu de carro 4x4. Com um Spacefox, cheguei a boiar numa poça d'água e nem sei se foi Zé (meu anjo da guarda) ou se foi Jesus mesmo quem resolveu intervir diretamente. O carro fez 'glub glub glub', diminuiu a velocidade e ensaiou ficar por ali mesmo. Pisei fundo no acelerador e nem sei como me salvei daquele riacho fundo. Além disso, as ladeiras eram impressionantemente íngremes, escorregadias e longas! Ficava imaginando como seria a volta naquela chuva.
Não fosse pela música, a Lagoa Encantada realmente seria um paraíso. Linda! Linda! Linda! Linda de viver! Mas, gente, que som alto! Num bar tocava arrocha e no outro pagode. Muuuuito alto! Acho que chegamos pela hora do almoço do sábado e saímos ao amanhecer do domingo. O som deve ter parado umas 4 na manhã. Minha cabeça tava doendo, batucando, pulsando.
Pra compensar o frango perdido, providenciamos logo uma moqueca de peixe com camarão que serviu a 3 pessoas, e para mais umas 3 que chegaram famintas.
Depois começamos a organizar as coisas para a turma que chegaria em algumas horas! A chuva vinha, parava, vinha, parava. Nem arrisquei colocar nada do lado de fora. Ficou tudo arrumado dentro do carro mesmo. Os meninos chegariam de bicicleta, sairiam remando para o outro lado da Lagoa, onde alternariam modalidades de canoagem com trekking, voltando pro lugar onde estávamos. Ou seja, eram duas áreas de transição no mesmo lugar.
A Aventureiros chegou na primeira vez (PC10) ainda de dia. As bicicletas estavam abarrotadas de lama. Soube que o trecho foi bastante travado e tiveram que empurrar bike muitas vezes. Comeram churrasquinho, repuseram a água e saíram para remar. Eu só faltava empurrá-los dentro do barco e dar impulso pra esse povo parar de conversar e levantar do chão.
Como ali também era o PC16, ficamos por mais de 12 horas no mesmo lugar, esperando. O PC do rappel na cachoeira foi cancelado porque a chuva deixou as pedras escorregadias, ficando perigoso além da conta. Soubemos que percorrer os PCs até voltar para o 16 não estava nada fácil. Muitas equipes se perderam pela mata e já tínhamos notícias de desistentes.
Aproveitei a "gentileza" de alguns moradores e paguei a faxina em todas as bikes. Infelizmente, não tive condições físicas de carregá-las e lavá-las. Então dei as coordenadas prévias, os rapazes seguiram direitinho e só precisei lubrificar a corrente no final.
Ok! Devo ter dormido, no máximo 1 hora por todo esse tempo que estive por lá. Tomamos café com leite na lanchonete de Sr. Jairo e ficamos todos batendo papo pela madrugada afora. Minha equipe voltou quatro e tanta na madruga, quando tinha pregado os olhos pela primeira vez. Bateram no vidro do carro. Tava chovendo horrores e acabei fazendo a transição debaixo de chuva mesmo pra adiantar, com uma capa de chuva que Glaucia havia me emprestado. Ali, tive a curiosidade de saber a posição deles: 5º lugar.
Mesmo prontos, queriam esperar o dia amanhecer para sair. Só que não deixei porque o ponto mais difícil de navegação era longe de onde estávamos. Então eles poderiam embarcar, seguir o azimute e chegariam à parte complicada, na entrada do rio com o dia claro, ganhando tempo em relação a quem viesse atrás. Nem preciso dizer que expulsei aqueles meninos de lá! Pô! Ficar parado esperando o dia amanhecer! Rs! Nada disso!
Naquela hora, a chuva deu uma trégua... Subimos a ladeira em comboio para o PC20, na estrada entre Ilhéus e Uruçuca. O PC ficava numa fazenda de cacau, onde tive a cara de concreto de pedir pra tomar banho. Foi o banho de balde dos mais valiosos que já tomei. E olhe que estou super acostumada a tomar banho de fonte, de balde, essas coisas. Até lavei meus cabelos e sentei na mesa dos donos da casa para um cafezinho, só pra variar minha vida de artista. Não tem jeito, sempre acabo tomando um cafezinho e conversando muito, rs!
Engraçado que a chuva brincava com o pessoal da fazenda. O sol aparecia, eles abriam o teto pra pisar no cacau. Não dava 10 minutos, vinha uma chuva danada e eles fechavam o teto. E isso se repetiu umas 4 vezes, rs! Quando estava me divertindo com a rotina da fazenda, meus amigos apareceram correndo pelo asfalto, pegaram o PC20 e vieram pegar as bikes na fazenda.
Dali, era só bike até a chegada em Ilhéus, na Igreja Matriz. Lindos, maravilhosos, sujos e felizes! Chorei de felicidade ao ver a minha equipe no pórtico de chegada em 5º lugar. Orgulhosa deles e feliz por estar ali, compartilhando a felicidade da chegada. Mais ainda, por ter acompanhado tudo e contribuído para que as coisas ficassem mais confortáveis para eles. Se é que alguma coisa fica confortável em Corrida de Aventura.
Queria mesmo era correr. Perder a Carrasco pra mim é como perder uma festa de arromba. Daquelas que só acontecem uma vez ao ano e todo mundo quer marcar presença. A organização mais uma vez se dedicou efetivamente para fazer uma prova carrasca, sofrida, dolorida, com leves toques de perversidade. Daquelas provas em que todas as gerações do organizador são xingadas pelos atletas e ele ainda fica muito contente com isso. Na próxima, com certeza, estarei lá, na festa, sofrendo!
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