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Nós 5 no Capão

    "Luciana adora inventar arte com esses meninos!" Todos da minha família dizem isso e eu não me conserto nunca, rs!
   Férias de verão... Uma viagem ao Capão seria um ótimo começo! Minhas crianças adoraram a idéia e resolvemos apimentar a festa convidando duas primas- Jamile, de 13 anos, e Shaina, de 11. As sobrinhas vibraram com o convite! Viajamos de galera!
   Ninguém conseguia conter a ansiedade até o grande dia. Na quarta-feira, resolvemos os últimos detalhes pré-viagem, deixamos totó no hotel, pegamos Shaina em casa e seguimos para Feira de Santana, onde mora a outra prima. A dormida por lá já encurtava caminho até o nosso destino na Chapada Diamantina.
   Já em Feira, lá pelas tantas da noite, as crianças resolveram pegar o biquini no carro para tomar banho de piscina. Parecia que eu estava advinhando que alguma coisa aconteceria. Inicialmente, disse que não, depois acabei liberando o tal banho de piscina. Vou contar, viu!! Não é que essas meninas fecharam o carro com a chave dentro. Putz! Pensem numa pessoa chateada e multipliquem por centos mil! No primeiro momento, já me imaginei voltando pra pegar a chave reserva em Salvador. Rs! Graça foi ligar pro ex-marido (o Xuxu), perguntando onde EU guardava as chaves reserva. E claro que ele, com a cabeça mais fria, lembrou  à jegulina aqui, que o seguro tinha serviço de chaveiro 24h. Rs! Com apenas um telefonema, o chaveiro apareceu, abriu o carro e tudo estava resolvido. Tudo bem! Isso só aconteceu pra deixar as coisas mais emocionantes antes de partirmos.
   A turma dormiu em boa parte da estrada e tagarelou sem parar na outra boa parte. Paramos em Itaberaba pra abastecer e comer alguma coisa. Na parada seguinte, subimos o Morro do Pai Inácio. As crianças, numa animação só, fotografavam tudo o que aparecia pela frente. A subida do Pai Inácio é bastante íngreme, embora tenha só um pouquinho do grau de dificuldade que se encontra pelas trilhas da Chapada. E a vista é muito linda!
   Chegamos ao Vale do Capão no começo da tarde. As crianças estavam felizes da vida e eu, mais ainda, por vê-los tão animados! A Pousada, a estrada barrenta, as montanhas imensas... tudo novidade! Então deixamos as bagagens no quarto, vestimos os trajes de banho de cachoeira, almoçamos feijão, arroz e carne. E seguimos de carro para a Cachoeira da Rodas por uma estrada bem acidentada, emocionante e muito empoeirada.
   O trecho de trilha à pé era leve, bem arborizado e cheio de pedras. As crianças, sempre muito animadas, observavam e fotografavam tudo. Os comentários eram os mais engraçados. A Cachoeira das Rodas tem um paredão de pedras bem íngreme. Precisa ter cuidado ao transitar. A água desce com mais força em alguns lugares do que em outros. Por causa da seca, característica da época, dava para caminhar em lugares onde, provavelmente, passa água. Toda hora eu dava um grito, com medo dessas crianças escorregarem. Contudo, elas transitavam pra lá e pra cá com uma habilidade surpreendente.
   Voltamos à Pousada para um banhinho gostoso e seguimos para a famosa Pizzaria Capão. Aquela que só tem dois sabores.. A de banana e a integral cheia de cenoura! Essas crianças comeram e ainda ficaram se gabando por comer pizza de cenoura. Ficava admirada com a fome da turma!
   Fazia tempo que dormira tão bem! De tão exausta da viagem de 500km, da subida do Pai Inácio, da trilha da Cachoeira das Rodas e de tudo o mais, não dormi, capotei! As crianças ficaram jogando baralho até tarde, fazendo barulho, todos no mesmo quarto.. Nem me incomodei com nada. Nada perturbou meu sono.  
   Pela manhã, as crianças, estavam animadíssimas e com um apetite absurdo. Decidimos, em comum acordo, fazer a trilha para Águas Claras acompanhados de uma guia chamada Raíssa e de dois casais.  Uma parte do percurso é feita de carro, a outra por quase 3h de trekking até um rio de águas transparentes com várias pequenas quedas d'água ao lado do Morrão. As crianças ficaram sempre perto da guia para saber todos os detalhes da região. Minha Tiloca ficou bem cansadinha com a caminhada mas, aguentou firme. Mas, valeu muito a caminhada! As crianças curtiram de uma maneira que ficava admirada, vendo a bagunça e ouvindo os gritos e risadas. Desciam e subiam pelas pedras, explorando tudo o que podiam alcançar.
   Teve um momento bem engraçado nesse sobe e desce todo. Tiloca ficou tão animada com sua liberdade de ir e vir, que atravessou um trecho do rio e não conseguiu voltar, por medo de umas aranhas que estavam quietinhas num cantinho, sem incomodar ninguém. Deu trabalho para a mocinha tomar coragem. Levou tempo, rs! Os outros três ficavam parados em cima de uma pedra, do outro lado do rio, tentando convencê-la a atravessar! A coisa durou um tempo e também fiquei parada, esperando o desenrolar da estória, até que ela respirou fundo e enfrentou o medo.
   Então voltamos naquele trekking de duas horas e 'cachorro lascou a boca'. Reboquei minha pequena por quase todo o caminho. Cheguei a carregá-la nas costas. Foi um retorno árduo! Mas, nada pior do que o dia seguinte, quando resolvemos subir a Cachoeira da Fumaça, mesmo sabendo que a seca tirara o brilho do lugar. Todos vestidos de Aventureiros do Agreste, providenciei camisas de mangas compridas e calças de Corrida de Aventura. Entupi suas respectivas caras 'de pau' de protetor solar, coloquei kit de primeiros socorros, lanterna, canivete, lanche e água em minha mochila e me transformei em guia da Chapada por um dia. 
   Muita pedra e sol quente. Uma hora só de subida pela trilha de pedras que mais parece uma escadaria. Mile e Tiago viram uma cobra logo no começo e já ficaram meio ressabiados em seguir. Tiloca sentia cansaço. Dona Shaina tagarelava sem parar nem por um segundo. (Nada faz essa menina parar de falar, meu Deus!) A água acabou na metade do percurso de ida. Tive que começar a administrar o cansaço das crianças, a falta de água, as mutucas, o sol quente. Jamile sentia falta de ar. Pior, que o rapaz que vende água no mirante da cachoeira não deu o ar da sua graça. Ou seja, voltaríamos por mais duas horas até a Vila, sem uma gota d'água...
   As crianças nem curtiram tanto o visual de tão cansadas. Curtiram mas, não curtiiiiiram! Também recusaram-se a beber aquela água ferruginosa do riachinho lá de cima. Acabei enchendo as garrafas assim mesmo e me preparei psicologicamente para as queixas durante a volta. Preferi não beber a água para sobrar pra eles. Foi um perrengue doido! Descemos administrando o cansaço, parando a cada sombra, respirando, jogando água no rosto e na cabeça, rebocando quando dava. Inventei umas brincadeiras para distrair, elas começaram a cantar e conversar. Parecia um caminho sem fim. Até eu cansei e pensei que morreria de sede umas duas vezes. Mas, no fim das contas, pensando agora, até que passou rápido. Se fosse muito fácil, nenhuma graça teria.
   Na Vila, a criançada comeu que dava gosto de ver! Demos em tempinho no quarto e fomos ao Mirante Café para comer uma torta de chocolate e ver o por do sol. Naquele dia, tinha um casal de malabares fazendo um show e cantando. Os colibris apareceram para enfeitar o ambiente. À noite, teve circo na pracinha e as crianças estavam encantadas com tanta festa. Embora a subida da Fumaça não tenha sido o melhor acontecimento do dia, não desistimos de colocar a cara na rua e vimos muita coisa legal. Foi um dia lindo!
   No outro dia, acordamos cedinho, tomamos um café da menhã bem gostoso e voltamos para casa devagarzinho. Cantando, tagarelando, gritando, fazendo mais farra ainda do que na ida e cheios de belas estórias pra contar. E isso foi só o começo das férias! Nem quero imaginar o que mais vamos inventar.. rs!

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