Tinha certeza absoluta de que daria para treinar no carnaval! .. "A Timbalada traz axé pra você!".. Essas músicas não saem da minha cabeça. Tadeu mandou a minha planilha e comecei bonitinho na terça. O detalhe é que trabalharia de 8 às 20h de quinta à terça dentro do circuito. Como é que eu poderia achar que daria tempo pra treinar? E ainda nem contei pra vocês que "sooooou timbaleeira!" Olha! O negócio foi uma verdadeira loucura! Trabalhei todos os dias do carnaval de Salvador nesse sol quente no meio da cara, só no trekking. No sábado teve Timbalada.
Minha amiga e colega de trabalho Nirlene levou maquiagem pra eu não ficar dismilinguida no meio do bloco. Ou seja, assim que acabasse meu turno de trabalho teria que correr pra pegar o bloco na Barra, que estava marcado pra sair 18h, onde quer que ele estivesse. Tava combinado de encontrar Lucy na muvuca toda! Mas nem imaginava que a muvuca fosse tanta.
Ao final do expediente, desci do carro no Garcia, depois da maquiagem e do penteado, e saí correndo feito louca pelo Campo Grande em direção à Vitória. Corri o Corredor da Vitória todo e cheguei esbaforida no prédio onde estava hospedada. Radipamente, fui até o apartamento, joguei uma água no corpo com todo cuidado pra não borrar a sombra dos olhos, vesti minha roupa de Timbaleira e fui embora.
Como estava sem treinar esses dias, decidi não pegar táxi nem motoboy. Também imaginei que, contando com o congestionamento, chegaria primeiro se fosse correndo. E foi o que fiz! Ficava todo mundo me olhando. Uns fazendo gracinha, outros incentivando e eu me sentindo a própria Forest Gump. Corri do Corredor da Vitória para Graça, desci a Princesa Isabel, a ladeira no Hospital Português, passei pelo Shopping Barra e corri pelas ruas paralelas à orla até o Farol da Barra, sempre conferindo se meu bloco tava passando.
Ufa! Cheguei to-da, to-da, eu disse to-da suada! E a Timbalada nem tinha saído. Procurei a minha amiga Penélope a morrer, e nada! Rodei horrores, e nada! Nunca vi uma concentração tão grande de gente desconhecida! Sabe quando você se sente um ser de outro planeta?? Me senti assim! De outro planeta! Foi então que aquele garoto do Parangolé, o Léo Santana, passou quebrando horrores e a mulherada foi ao delírio. Então eu pensei: "Já que estou aqui, vou aproveitar!" E aí ele cantava: "Sou eu negro lindo!" E eu confesso que concordei e dancei muito pra descontrair.
Lucy só apareceu quando o bloco já virava a curva do Farol para começar na Avenida. Pulamos, cantamos e dançamos o percurso inteiro. Como eu só pensava que estava treinando, aproveitava pra pular muito mesmo e beber bastante água. Até encontramos o nosso treinador Tadeu com a sua namorada linda. E pulamos horrores! Nem vimos o tempo passar.
Quase no fim da farra, perguntei as horas a uma figura. Foi quando percebemos que eram quase 2h da manhã e Lucy tinha um voo para o Rio de Janeiro às 4h. Então o treino continuou. Corremos da Avenida Oceânica pela Ademar de Barros até a Garibaldi. Lucy pegou seu carro pro aeroporto e eu peguei um táxi até a Vitória! Até pensei em voltar correndo, mas tava mortinha da silva!
Só pude dormir depois do banho, de desembolar meu cabelo e de dar um jeito no tênis encardido que usaria pra trabalhar no dia seguinte. Eram 3h da madruga. Estava moída! Minha camisa do bloco fedia tanto que preferi nem confiar que água e sabão dariam um jeito. Joguei no lixo mesmo!
Foi um grande sacrifício trabalhar de manhã! Fiquei abatida de tão cansada, mas consegui fazer o meu trekking obrigatório de 12h pelo circuito do Carnaval. Finalmente, a terça-feira chegou e tudo acabou! Contei os dias para sair do circuito, literalmente. Hoje é quarta e tudo está muito bem! Sobrevivi! Volto a treinar bike, remo e corrida, conforme a planilha do meu querido treinador. E fico muito feliz em voltar pra casa, pegar meu cachorro no hotelzinho e encontrar com as minhas crianças queridas.
"A Timbalada traz axé pra você..."
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