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Domingão na Cachoeira do Urubu











No sábado, depois da Festa de São João da escola das crianças, arrumei a bagagem de todos, incluindo Totó, e fui despachando em Salvador. A vida sem Neusinha fica um tantinho mais agitada. Primeiro ficou o cachorro, depois despachei os filhos e fui me alojar na casa da titia para não ter que voltar pra casa.

Titia queria dormir na sala, alegando que seu ronco incomodava. Como sou uma sobrinha muito legal, me recusei a deixá-la ir. Afinal, raramente durmo em sua casa. Resultado: Titia virou um dinossauro ao adormecer e eu nem imaginava que passaria a noite inteira acordada, rolando na cama com aquele som estrondoso em meus ouvidos. Bom! Pelo menos ela dormiu bem e ainda ficou feliz com a minha companhia.

Levantei bem cedinho (nem dormi mesmo!) e peguei Ni em sua casa. Estacionamos ao fundo do Iguatemi e ficamos um tempo ali, esperando a chuva passar, jogando conversa fora. Aproveitei para dizer, sem querer assustá-la, que nenhuma aventura comigo é sem emoção. Sempre acontece uma coisinha.

Minha amiga Nirlene é uma figura única! Vive dando gargalhadas, fazendo palhaçadas e sempre cumprimenta todo mundo com um abraço bem gostoso. Conheceu o pessoal do passeio por um anúncio na internet. Viajou pela primeira vez sem conhecer ninguém. Não posso esconder minha admiração por essa atitude. Sou aventureira de carteirinha mas, essa coragem não tenho. Consigo até imaginar minha cara de extra-terrestre, entrando numa van com um monte de gente que não conheço. Seria trágico e cômico!

Já atrasadas, resolvemos ir até o ponto de encontro debaixo de chuva mesmo. Foi a corrida mais engraçada que já fiz! Em quatro passos estávamos ensopadas. Erramos o caminho e a chuva judiou da gente, sem um abrigo pra uma trégua. Nirlene lamentava de forma cômica que o creme dos seus cabelos escorria. Tinha pingos brancos nas pontas. RS!! Perdeu o creme todo. RS!! Depois de molhar tudo o que tínhamos, encontramos o pessoal. E pasmem! Não era uma van com poucas pessoas, era um ônibus com 40 pessoas.
Lembrei dos passeios que fazia com meus amigos lá em Catu. A gente acordava 5h da manhã, pegava um ônibus fretado e passava o dia em alguma praia. Era farofa de galinha assada e sambão a viagem toda. Dançava aquelas lambadas de Beto Barbosa nas barracas com meus amigos e me acabava de dar risada o dia todo. Que lembrança boa! Viajei agora!

Confesso que me senti meio estranha, no começo. Estava de calça, camisa de mangas compridas e meus tênis de aventureira. Com mochila de camelback nas costas, contendo aquelas comidas de corredor, um kit de primeiros socorros e equipamentos obrigatórios. Não dá pra entrar numa trilha sem canivete, bússola e lanterna! Foi mal aí viu pessoal! E a galera tava de shorts, camisetas e tênis mais do que brancos. Alguns gatos pingados estavam de calça.

Nirlene cumprimentou a todos como se fossem amigos de longa data. Tentamos nos secar um pouco pra sofrer menos com o ar condicionado do buzú. Conversamos tanto que nem sentimos o tempo passar. Já estávamos em Santo Amaro, na beira da trilha, no acampamento do guia chamado Matias!

Matias! (Bonito nome!) Um homem singular de meia idade que mora num terreno sem nenhuma infra-estrutura, de uma simplicidade interessante e peculiar. Não havia sanitário. Seu telhado era uma lona bem conservada com uma foto de um militar. O terreno, todo cercado de vegetação bonita e densa, dava-lhe bastante privacidade. E lá, funciona um camping também. Dava pra perceber a simplicidade de um homem nada digno de pena. Muito rico! Rico por dentro. De felicidade contagiosa e engraçada! Jeito de menino danado, energia de atleta. Com roupa de rambo! Camuflado para entrar na mata.

Ni levara uma singela cesta básica para Matias, que também já era seu amigo. Discretamente, passou a cesta para o guia, que recebeu de forma muito natural, como se já esperasse por aquela gentileza naquele dia de chuva.

Chegamos, conversamos, nos apresentamos em círculo e fizemos uma oração. Descemos para a Cachoeira do Véu da Noiva, eu, Ni e aquele mundaréu de gente. Nunca fiz uma trilha com tanta gente! Quando entro na trilha com 100 pessoas, sobram apenas 3 pessoas comigo. Os outros correm para bem longe de nós. Assim funciona a Corrida de Aventura. Mas ali, era uma equipe de 40 com ritmos totalmente diferente uns dos outros. Fui com Marcus, Rita, Tiago, Renata, Vanessa, etc, etc, etc.

Queria ir na frente, ouvindo tudo o que Matias tinha pra contar. Nem sempre dava! De vez em quando ficava com Nirlene, andando devagar, outras vezes saia puxando-a pelo braço. A figura anda pela trilha parecendo que tá desfilando. Disse que sou toda dura fazendo trekking. Ela anda rebolando e ainda cruza os braços. Então eu falava que ela tinha que parar de rebolar e ela dizia que eu precisava me soltar. E assim, gargalhamos no meio do mato!

Matias ajudou a mapear algumas provas das quais participei naquele lugar. Logo na primeira parte, fizemos canionismo, subindo um rio para encontrar a cachoeira. Fiz aquele mesmo trecho numa madrugada com a Aventureiros numa Corrida na Paletada. A largada foi meia-noite. Bons tempos aqueles! Meu primeiro Canionismo. Me acabei toda! Escorregava pelas pedras, feria minhas pernas, atrasava a equipe. Naquela corrida, pegamos vantagem sobre as outras equipes, por termos optado pelo caminho do rio. Nesse passeio, junto com meus 40 novos amigos, a coisa fluiu numa boa, lentamente, tranquilamente.

A trilha estava bem escorregadia. Os tenis brancos começaram a mudar de cor. A progressão era lenta e paciente. Tinha gente reclamando nos primeiros 500m. Outros curtiam, se jogavam na água, aproveitavam. Paramos algumas vezes para reagrupar a galera. Depois, na cachoeira, por mais tempo.

A segunda parte da trilha passava por aquela ponte da linha do trem, indo pra Cachoeira do Urubu. Matias preferiu que passássemos em grupos de 5 para evitar pânico, no caso de vir um trem.

Fiquei assustada com a quantidade de lixo que havia na Cachoeira do Urubu. O lugar é muito lindo mas, dá dó em ver a sujeira que os visitantes deixam. Matias disse que recolhe sempre vai até lá. As pessoas não tem noção de Ecologia. Tinha até pratos de barro com macumba. Um absurdo!

Ficamos ali, a conversar, olhando o movimento daquela galera toda. Alguns davam uns pulos corajosos de lá do alto (eu rezando pra nada de grave acontecer), outros tiveram coragem de ficar naquela água geladíssima por um tempão. Prefiro apreciar, ouvir, fotografar, sentir o cheiro da natureza. As fotos ficaram engraçadas! Cheias de gente! Nem dava pra ver a paisagem. Então conversamos, rimos e comemos bastante.

Depois, fomos todos para o local da falsa-baiana. Os monitores montaram um pequeno circuito entre árvores. Alguns fizeram, outros assistiram, outros estavam apressados pra voltar pra casa. Então Matias levou os apressados, incluindo a mim, de volta para o ônibus. A chuva voltou mais forte! Depois de reagrupar todos os passageiros, partimos de volta pra Salvador. O ônibus ensaiou quebrar 5 vezes pra viagem ficar emocionante. Eu e Ni voltamos conversando e rindo durante a viagem, enquanto os outros tentavam dormir. Acho que fizemos muito barulho.
Só cheguei em casa depois das 22h, depois de pegar bicho e gente, cada um em uma casa diferente. Ainda tinha visita em casa me esperando. Fui fazer um café, comer alguma coisa, conversar com a minha irmã que não via há algum tempo. Dormi a-ca-ba-da, só pensando que no outro dia teria mil coisas de casa pra fazer, além das minhas coisas de trabalho.
Foi um ótimo dia! Fiz novos amigos! E, da próxima vez, vou cumprimentar a todos como Nirlene fez. Como se nos conhecêssemos de longa data.

Comentários

eudesvb disse…
Lú, você é uma aventureira nata. Dei bastante risadas. Beijão!
Aventuras ECO disse…
Muito interessante o seu blog, parabéns! A minha próxima viagem será para a Cachoeira do Urubu, adorei as dicas.
(que fonte você usa no seu blog ?)
Luciana disse…
Ricc! Obrigada por passar por aqui. Olha! Só pra lembrar... O lugar não tem estrutura alguma para turismo. Beijos! (Rs! Eu não sei que fonte uso no meu blog, rs!)

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