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Trote de Aventura 2013


     Por Vitor Hugo Moreau

   Aceitei novamente fazer este release porque o mesmo precisaria render elogios especiais a uma pessoa que, se ela mesma escrevesse, sua modéstia não permitiria se elogiar. Luciana foi a peça chave da nossa vitória no Trote de Aventura. Digo vitória porque ficar atrás da Makaira numa prova dessa nem pode ser considerado derrota. Hehehehe...
   Lulu foi guerreira e responsável pelo principal ato de habilidade que nos rendeu o segundo lugar, o vice-campeonato baiano e a classificação para a final do Brasileiro. Quando bateu aquele azimute em direção à luzinha minguada do fifó de Luiz Célio no PC3 e disse: “Tão vendo aquelas três luzes no alto do morro? Tão vendo uma luzinha ali embaixo, a esquerda, na margem do lago? O PC tá ali”. Dito e feito, remamos em direção à luzinha que insistia em sumir e reaparecer e lá estava ele, o famigerado PC3.
   Mas peraí, eu estou me adiantando. Vamos começar do começo... Hehehehe...

   Saímos de Feira, do Centro Casademauroba de Corrida de Aventura, onde tivemos uma bela noite de três horas e meia de sono. O primeiro desafio, esquecemos os sanduíches de salame que tínhamos preparado pra corrida. Sem estresse – sem estresse? – é, tá bom, com estresse, fui até a padaria comprar mais pão e queijo para fazer novos sanduíches. Tudo resolvido. Nada que não seja normal no improviso nosso de cada corrida.
Foto: Flavyo Lima

   O briefing foi bem divertido. Dudu é um cara muito alto astral e o povo da CA dá o tom de gozação pré-prova que faz do esporte o meu preferido. Logo na primeira explicação do mapa, deu pra ter uma ideia do que nos esperava. O mapa projetado na tela tinha tanta curva de nível que mal dava pra ver os PCs. O PC1 era no topo de um morro tão alto que só de olhar já dava vertigem.
   Achei ótima a ideia das fotos com o logo da prova, chupada do Ecomotion. As fotos ficaram ótimas. Mais um ponto pra Dudu.
   Pedimos três mapas. Ousadia minha. Por um momento, decidi que ia navegar junto com Mauroba e Lulu do Agreste!!!! Abusado!!! Hehe... Lu e Mauro foram logo marcando o mapa e, como senti que teríamos pouco tempo pra analisar os mapas, tive intuitivamente a iniciativa de ir logo marcando os trechos de bike se não desse tempo de marcar tudo.
   Traçamos as estratégias, comparamos os mapas, preparamos os equipamentos e pronto. Pronto pra largar. Um suquinho geladinho antes... delícia. Todas as provas poderiam ter uns patrocínios assim, dando suquinhos no início. Hehehe...
   Contagem regressiva, saída! Todo mundo correndo como se a prova fosse de cem metros rasos... nada de diferente. Corre, corre, corre. O pessoal dos 50 km saiu de bike e logo se distanciou. Eu, como sempre, morri três vezes nos primeiros cinco quilômetros. Eu sempre morro três vezes nos primeiros 40 minutos de prova, hehehe. Sorte que ressuscito depois. A subida era desgraçada. Precisei tomar uns empurrões de Mauro e Lu pra andar mais rápido. Pegamos uma trilha rente ao duto que descia o morro e chegamos ao PC1, onde estariam os mapas da prova de orientação. Eu estava tão morto nessa hora que nem olhei os mapas. Mauroba e Lu deram conta de marcar os prismas e saímos. Na descida todo santo me ajudou e recuperei o fôlego. Fora uma perdida no mato, nada de mais grave na orientação. Pegamos os prismas um a um e fomos pela estrada até o PC2, onde pegaríamos os caiaques.
   Transição rápida, comidinha e saímos remando do PC2, no lago da represa de Pedra do Cavalo. Foi menos sofrido pra mim pois não fiz leme dessa vez. Deixei a cargo do meu amigo Scavuzzi sofrer com essa tarefa. No início, o lago estava sereno. Muito bonito! Foi um remo muito agradável. Com quase uma hora de remo, o vento ficou forte e as ondas começaram a bater. Parecia mar! Uma ondas que subiam pelo barco e espirravam na nossa cara; principalmente quando tivemos que cruzar o lago pra outra margem. O vento castigou e o esforço teve que ser maior. Com mais de uma hora de remo, Mauroba grita lá de trás: “Peraêêê!!!!”. Paramos... “Lu mareou!”. Putz! Luciana passou mal com o sacolejo e vomitou. Olha, já passei mal mareado e sei como é ruim. Não é só vomitar, é sua alma que parece escorrer corpo à fora. Mas fomos lá. Lu suspirou fundo e continuou remando. Daí minha afirmação no começo deste release que ela foi guerreira. Remar vomitando é F... Coisa de gente agreste. Hehehe... Ainda mais, mareada, passando mal, ela chegou na ponta do lago – a terceira ponta – e bateu o azimute do relato acima. Certinho. Toda escalifada, a danada ainda navegou e achou o PC que nenhum marmanjo achou.
   Quando batemos o PC, a folha estava em branco e Scavuzzi – no bom e velho estilo Aventureiros do Agreste perguntou pra Luiz Célio: “Virou pra segunda página” KKKKK! Ele respondeu: “Não, vocês abriram o PC”. OPA!!! Isso deu o maior gás pra todos. Dei minha lanterna pra Luiz Célio pra facilitar a sinalização pras outras equipes e saímos. Aliás, deixa eu frisar aqui: as equipes que bateram o PC3 depois da gente tiveram ainda essa facilidade da lanterna... Ponto pra Lulu navegadora!
   Na segunda parte do remo, o lago deu uma trégua e as ondas ficaram mais mansas. Ainda assim, Luciana continuou passando mal, hehehe... Quando avistamos as luzes da barragem... que alívio! Tá chegando! Doce ilusão. Quanto mais remávamos, mais as luzes se afastavam, hehehe. No desespero de final de remo, eu e Scavuzzi gritávamos pra Lu e Mauro: “É essa a entrada! Vamo entrar aqui mesmo!” KKKKK! Não, não entramos. Continuamos certinho, até a enseada onde estavam os PCs 4 e 5. Entramos e as ondas sumiram. O espelho do lago parecia sólido. Nenhuma ondulação. Liso. Passamos pelo PC5 que gritou que o 4 era mais a frente. Remando para o PC4 tive noção da distância da natação e pensei: “Fu...”. A sorte que trouxemos nadadeiras, o que ajudou muito na natação, já que somos todos nadadores exímios... KKKK. Batemos o PC4. Esticar o corpo, espantar as câimbras, ensacar o equipamento, por as nadadeiras e sair. O nado foi super tranquilo. Com nadadeira deu até pra rebocar Mauroba – que não trouxe a dele. O cara-de-pau ainda abriu a boca pra dizer: “Esse é o nado mais fácil que eu já fiz...” KKKK. Nem uma batidinha de perna pra ajudar!
   A essa altura, sabíamos que a equipe mais próxima de nós que tinha batido o PC3 era a Pelaskdo, que chegou no PC4 quando a gente estava saindo. Vimos que eles demoraram no nado, então nos adiantamos no trekking rumo ao PC6 onde pegaríamos as bikes e deixaríamos os coletes e nadadeiras. A partir do PC5, ficamos colados na Kaaporas até o final da corrida mas como sabíamos que eles haviam perdido o PC3, nossas preocupações permaneceram na Pelaskdo que supostamente vinha na nossa cola.
   Um pequeno intercurso pra achar a trilha que uma escavação tinha destruído e fomos, seguindo a cerca e, depois, a própria trilha em direção ao PC6. Pegamos as bikes e saímos. Ficamos sabendo que o trekking entre os PCs 7 e 10 teria sido cancelado, o que pra mim foi um alívio.  Nem peguei no mapa que a essa altura estava guardado no fundo da mochila. Quem sou eu pra navegar quando tenho Mauroba e Lu na equipe.
   Nesse trecho, enquanto subíamos uma ladeira forte, eu na frente, ouvi o som de uma bike chegando... nenhum dos meus companheiros a essa altura estava com disposição pra subir essa ladeira tão rápido... quem seria? Quando foi me ultrapassando, antes de entrar no foco do farol, percebi que era uma mulher... a manga da camisa azul... Makaira! Era Gabi. Logo atrás, Naru emparelhou comigo e com a cara mais cínica, falou: “E aí... tudo bem?” KKKK!! Desgraçados, perderam o PC3, voltaram pra pegar, perderam um tempão e ainda foram buscar o prejuízo! Achei que ainda dava pra fugir deles mas eles nos pegaram ainda no primeiro trecho de bike. KKKK. Fazer o que, né? Continuar e buscar o segundo lugar!
   Bike é a modalidade que mais gosto e cresço quando ela chega. Lu sempre fala que o navegador deve ser um dos atletas fortes da equipe porque navegar cansado é uma M. Acho que isso foi minha deixa na hora. Como estava bem na bike, após o PC10 assumi a navegação. Como navego rápido de bike – acho que tenho bom raciocínio pra isso – Lu e Mauroba foram meio que deixando rolar e confiando. Embora em alguns momentos eu sentisse que rolava uma certa desconfiança: “Peraí, deixa eu ver...”. Em alguns momentos de hesitação, Mauroba dava o veredito: “Pode ir, é aqui mesmo”. Achei ótimo revezar a navegação. De preferencia com o atleta que estiver melhor na modalidade. Dessa forma, Mauro navegou no trekking, Lu no remo e eu na bike. Foi 10!
   Entre o PC10 e o 11, o cabo do câmbio traseiro da bike de Mauroba soltou. Perdemos um tempo tentando concertar mas no final, ele teve que fichar o câmbio na 2 e trabalhar só com o dianteiro. Isso deu um baque na moral mas seguimos na guerra.
   Pegamos o PC11 e descemos a famigerada ladeira de Muritiba pra Cachoeira – ou será São Félix? Muita propaganda. A ladeira nem era tão miserável assim. Pelo menos não sem os carros passando nela. Atravessamos a ponte pra São Félix – ou será Cachoeira? Hehehe. E batemos o PC12.
   Nesse momento, eu gostaria de retirar todos os elogios que fiz a Dudu. Aquele desgraçado, miserável, sacana fez a gente subir uma ladeira que se eu tivesse fôlego pra gritar quando cheguei lá em cima, eu teria batido um papinho com Deus. Que ladeira miserável. Qualquer dia, quero voltar lá pra fazer uns treinos naquela ladeira. Obrigado Dudu. A gente gosta muito de você. #soquenaoporisso. Hehehe... Um passarinho de meia idade me contou que Naru zerou a ladeira mas eu só acredito vendo com meus próprios olhos. Ou se ele mesmo me contar... Hehehe.
   Daí até quase o PC13 foi só ladeira. A maioria subindo, claro. Empurrando mais que pedalando. Hehehe. Destaque para um down hill em single track antes da linha do trem. Muuuuuito legal! Principalmente a noite. Valeu muito a pena encarar as subidas pra descer esse trecho.
   Batemos o PC14 e o 15 sem maiores intercorrências; uns trechos de estradões bons de se pedalar, quase planos. Muito legal! Chegamos ao PC16 e partimos para mais um trekking. Dessa vez, em direção ao rapel. Era hora de eu voltar a sofrer. Algumas vezes, fui de novo rebocado por Mauroba e Lu, enfim... CA é isso... Hehehe.
   O rapel era outro bicho papão da corrida pra mim. Outro que não foi nada demais. Fiquei até com vontade de fazer. Pensei até em pedir pra Dudu pra ir também mas o fantasma da Pelaskdo atrás de nós não deixou. Mauroba e Scavuzzi desceram e voltamos pro PC19. Na ida pro rapel encontramos várias duplas que estavam na nossa frente e percebemos que, na volta, poderíamos ter noção se havia alguma equipe ameaçando nosso segundo lugar. Feito. Não encontramos nenhuma equipe. Isso significava que estávamos longe do terceiro colocado. Relaxamos. Chegando de volta ao PC20, tivemos a confirmação que todas as outras equipes, incluindo os até então ameaçadores da Pelaskado, tinham sido cortadas. Ufa! Daí a corrida virou passeio. Pegamos as bikes e fomos brincando, rindo, sacaneando uns aos outros, como bons amigos Aventureiros do Agreste. KKKKK... Até paramos pra comprar uns geladinhos na entrada da cidade. Discutir se era melhor de acerola ou de guaraná... kkkkk. Bater papo com o moleque que tentava nos acompanhar de Barra Circular na ladeira... Hehehe...
   Chegamos na praça onde estava o pórtico como quem chega de um passeio na orla de Villas do Atlântico... rindo, brincando... Nem parece que estávamos todos estropiados. Foi ótimo! Adorei! De novo! Meu tendão não doeu nada! Morri três vezes mas ressuscitei todas as três! Quase perdi a sola do pé numa bolha! Ótimo! E ainda pegamos a flâmula de liderança no PC6!!!! Valeu Aventureiros! Valeu Lu, Mauroba e Scavuzzi! Segundo lugar, Vice-campeões Baianos de Corrida de Aventura, classificados pra final do CBCA...
   Assim que acabou a corrida, pensei. Não! Não vou pro CBCA, quero dar um tempo pra descansar. Hoje... talvez... Até 15 de novembro, quem sabe. Hehehehe...

P.S.: Corrida de Aventura é um esporte que exige inteligência, resistência e brutalidade. Um tripé. Se qualquer um desses falta, a equipe se prejudica. Quero parabenizar a Makaira que foi inteligente pra voltar e pegar o PC3 mesmo sabendo que perderia muito tempo; bruta pra correr atrás e chegar duas horas antes da segunda colocada e resistente... bem, será que precisou de resistência? Os caras chegaram tão inteiros no final que parece que o Trote foi, também pra eles, um grande passeio;

P.S.2: Terminar uma prova de CA significa cumprir todas as etapas. Ninguém é capaz de prever o que uma perdida a mais, uma perna de remo a mais, uma intercorrência a mais podem fazer no resultado da prova. Um pequeno atraso pode abalar tanto o psicológico de uma equipe a ponto de fazê-la desistir de uma prova inteira. Como Lulu sempre diz: “Quando passa de cem, o buraco é mais embaixo”.

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