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Noite do Perrengue 6- 100km


   Depois de 4 anos fora do quarteto, voltei. Por motivos diversos, eu e Vitor nos mantivemos em dupla mista para não comprometer a participação da equipe nas provas do Campeonato. Afinal, reorganizar uma dupla de última hora é mais fácil do que um quarteto.
    Equipe- Vand, Scavuzzi, eu e Mauro.


   Amo correr em quarteto! Corrigindo... AMO correr com meus amigos! E quanto mais gente, melhor! Por isso, quarteto, sem dúvida!
   Antes da corrida, pentelhei todo mundo pra ninguém esquecer nada. Enchi o grupo de Whatsapp de lembretes, imprimi todos os documentos, arrumei kit de primeiros socorros e os alimentos da prova. Minha mochila ficou pronta na terça. Estava ansiosa e apreensiva. Como seria depois de tanto tempo?
   Detalhe mais legal: Nada de stress com maridinho lindo, ainda consegui ajudá-lo um pouquinho.
   Saímos almoçados de casa e chegamos ao Restaurante Polomar, local de entrega das bikes, umas 14:30h. Foi o tempo de ir organizando as coisas, até o resto da turma chegar. Vand já tinha chegado e colocado sua bike numa vaguinha. Fechamos o check-in e seguimos para o local da largada.
   Alunos de diversas turmas da Escola de Aventura do Agreste marcaram presença. Muitos representando nossa equipe, outros com suas equipes. E nós, orgulhosos de todos, felizes por ajudar a encher a Corrida de Aventura de apaixonados pelo esporte.
   Prova valendo pelo Campeonato Brasileiro, pelo Baiano, pelo Nordestino. Negócio bacana, chique, iluminado, barulhento... Muita equipe de fora! Aquela festa de sempre! A organização da NP6 é extremamente feliz nas escolhas das bases dos eventos. Dessa vez, foi no Clube do empreendimento Natus, dentro da Reserva Imbassaí. Lanchonete com comidinhas da Vidativa Gourmet, conforto, espaço e muito lugar pra gente namorar o mapa até a hora da largada. Tudo bem que o tempo foi curto, mas o que é um peido pra quem está cagado? Tinha até PCs pra plotar no meio do caminho. Putz! Dois mapas: um com escala de 1:25.000 e outro de 1:50.000.
   Depois do briefing, fizemos o que deu no mapa, mas marcamos todas as distâncias como se fosse tudo 1:25.000. Ok, NO STRESS, dobra as distâncias, cobrindo tudo por cima mesmo. Foi a pressa, mas deu pra resolver, borrando o mapa todo.

Foto @adventuremag
...
   Eu queria mesmo era ser atleta de percurso, mas não consigo. Minha cabeça só funciona bem se tiver ocupada, ajudando... Tipo, tentando dominar o mundo mesmo. Isso já foi um problema pra mim, mas desencanei geral. Meus amigos me conhecem e sabem que não fico quieta, nem tomo iniciativas para ser melhor do que ninguém. Sou proativa e, com os aprendizados impostos pela vida, enfrento os desafios sem muitos melindres. Dá até pra ser bem humorada, mesmo estando na merda, embora nem sempre seja possível. Sou terrível quando tenho certeza sem estar certa, um verdadeiro problema! Mas, quer saber? Nos conhecemos tanto, que os defeitos e qualidades são reconhecidos com naturalidade, sem interpretações, sem julgamentos. Somos capazes de saber o que o outro está pensando com um olhar... Ou um “rabo de olho”. RS! Enfim, correr com esses meninos é diversão garantida! A gente pode estar em qualquer posição na prova, morrendo, mas não perde o “rebolado”. RS!
...
   Saímos forte para o primeiro trecho de 16km de trekking. A previsão da organização era de ficarmos perdidos por lá a noite toda, pra nunca mais voltar. Naquela muvuca toda, o PC1 foi encontrado de galera. A gente resolveu seguir o planejamento de não fazer bate-e-volta, mas a trilha sumiu. Eram apenas 250m, então a trilha mais forte apareceu logo à frente. Encontramos uma galera que já se adiantava por ter feito o trecho sem rasgar mato. Como era uma estrada plana, mesmo com areia, dava pra dar uma corridinha boa. O PC2 estava num coqueiro, num lugar com relativa facilidade. Depois dali que a coisa ficaria mais técnica, indo pro PC3, no mangue. Corremos pela costa, na areia da praia, dando uns pulinhos nas onda... Eu admirava a lua, o mar e o mapa. Comemorava por estar ali.
   Quem tem perna comprida pode ir no trekking. Eu não. Bem básico. Enquanto as outras equipes se dissipavam, batíamos precisamente os 3 km, entrávamos no mangue e seguíamos Mauro que, com mais precisão ainda, identificava o PC. E dali, saímos de luzes apagadas para não chamar atenção, com a lua dando conta da nossa iluminação.
   Com três navegadores (eu, Vand e Mauro) e um atleta (Scavuzzi) que estava bem longe de ser atleta de percurso, fomos atacar o PC4. Muito navegador pode atrapalhar também, mas nesse caso deu certo. Seguimos para o PPO, travamos no azimute e fomos os quatro por direção paralela a uma distância de uns 20m de cada. Um trabalho em equipe que nos levou de cara até o PC. E o mesmo fizemos com o PC5, cuja direção do azimute seguia para a sombra da vegetação, que formava um pequeno vale.
   Preferimos pegar a estrada para chegar no PC6, ao invés da trilha. Também não rasgamos mato pra atacar o 7, exceto no fim da estrada, quando não tinha mais alternativa. As abelhas nos esperavam animadas no caminho do 7, dentro de uma matinha fechada com trilha de difícil progressão. Solenemente ignoradas, ficaram lá, fazendo barulho e nos picando. RS! E ainda tivemos que voltar pelo mesmo caminho, mas acho que elas ficaram confusas com tanta gente que apareceu, que esqueceram de nos picar na volta. Mas doeu!
   O PC8 estava numa duna, no alto, no meio. Fotografamos e fomos! Encontramos o PC9 com a mesma tranquilidade e seguimos para pegar as bicicletas no restaurante Polomar.
   Finalizamos o trecho com exatamente 2 horas e 57 minutos para fazermos uma transição com aquela rapidez competitiva que só nós somos capazes.

Foto @adventuremag
   Com o mapa em outra escala, descemos para um pequeno trecho de asfalto até entrarmos para as bandas do outro lado da pista, onde ia ter o tal do singletrack irado. Achamos a ladeirinha que entrava pra estrada de barro e seguimos para o PC11. Precisei aumentar o tamanho das letras do mapa pra indicar os PCs, porque já passei dos 40. Tava difícil enxergar. 
   Scavuzzi achou o caminho para o PC12 um prato cheio pra gente se perder. Ótimo motivo para ficarmos bem atentos. E assim seguimos... Até eucalipto tinha, e esses não me deram aquela impressão desagradável dos de lá de Catu. O cheirinho estava bom com o tempo fresco. De noite fica tudo melhor. Basta ter uma iluminação boa que a gente vai longe.
   Não queria navegar na bike, mas desisti de não querer. Fiz uma bagunça tão grande no mapa que Vand não conseguia entender nada. Ali só eu mesmo.

Foto @adventuremag
   O singletrack começou antes do PC12. Realmente, maravilhoso, incrível, uma delícia de pedalar. Vand e Scavuzzi que o digam! Fora um ou outro tronco de árvore no caminho, todo pedalável. Com cuidado pra não ficar pendurado pelos chifres ou não dar uma cabriola e voar longe.
   Por falar em cabriola, fiquei toda estrupiada com uma queda. Voei numa caixa de brita no estradão. Presa na roda da bicicleta, precisei de ajuda pra levantar. A preocupação dos meninos passou rápido, porque tratei de continuar meu pedal e administrar as sequelas depois da prova.
   No caminho para o PC13, Mauro teve que trocar a câmara da bicicleta. Essas intercorrências atrasam bastante, principalmente se o ritmo já não está bom. Fazer o quê? Um problema mecânico, sem dúvida, seria pior.
   Desde muito que Vand falava, com razão, que estava reconhecendo aquela trilha. Depois do PC14, saímos na Lagoa Aruá, perto da Praia do Forte, navegando precisamente até os PCs 15, 16, 17 e PC18, onde era a transição para o Enduro a Pé. Reparei naquele finalzinho que as distâncias não bateram muito bem, mas caímos em cima da Fazenda. Então não vamos reclamar de nada, não é? Não devo ter visto alguma entrada.
   Enquanto Mauro e Scavuzzi faziam o Enduro à Pé, eu e Vand providenciávamos as coisas. Reabastecemos água e comida, plotamos os PCs (de 20 até 28) no mapa, jogamos conversa fora, descansamos, cagamos (no caso, eu, mas ficou tudo limpinho lá, viu?!), até que chegaram. Na verdade, eu tinha a impressão de que seria melhor ter ido para o Enduro e deixar Mauro descansar, mas eles dois eram os mais experientes no assunto e, realmente, andaram bem rápido. Chegaram querendo partir.
   Mauro reclamava da sua mochila pesada, dos tênis pendurados... Sendo que não era ele quem estava carregando a porra da mochila. Aí a pessoa não quer ouvir desaforo. Kkkk! Eu e Vand nos revezamos com o peso dele para poupá-lo por quase toda a prova. Muita cara de pau para um ser humano só! Como castigo, teve que carregar um pouquinho de peso, pra variar. Esculhambação!!!
   Na saída, já tinha planejado tudo na plotagem. Mas, Mauro achou que eu estava errada, que precisava orientar o mapa e seguir pro outro lado. Realmente, era possível ir pelo outro lado também, mesmo não parecendo o melhor caminho. Ok, então! Fomos dar uma voltinha até o PC17 e depois voltamos pelo caminho antes sugerido, sob protestos de não se sentir seguro com minha escolha. Pulamos umas porteiras com questionamentos. Sossego mesmo, só tive quando encontramos o PC20. Em seguida, o 21, o 22... Amanheceu. E a Gantuá atropelou a gente lá pelo 23. Sacanagem!! Nosso pedal estava fantástico! E eles estavam muito atrás. Brincadeira... Eles estavam bem atrás mesmo, mas nosso pedal estava Categoria Cicloturismo! Então, sem novidades!
   PCs 24, 25 (cancelado), 26 e 27 (tá de sacanagem aquela ladeira!!?? Só Vand subiu.). Saímos na pista novamente, contamos 1km e pouquinho para a direita e encontramos o PC28- Chico e Álvaro-, onde plotamos os PCs 29 e 30, regados a uma Coca-Cola revigorante. Daquelas que garantem o fôlego do resto do pedal, menos pra Mauro, que já tinha deixado o fôlego por algum lugar da trilha. Mas não deixou a dignidade não, porque, com todo perrengue, ele estava ali, em nossa cola. Dizem que é por causa da bicicleta muito pesada...
   Se você pensa que as coisas não podem piorar, eu lhe afirmo: “todo castigo pra corno é pouco”! O singletrack foi bem gostosinho, mas não sei onde esse pessoal arrumou esse “grand finale” de ladeiras. Rapazzz! Olhando o mapa agora, nem sei se era pior ir pelo asfalto ou pela trilha. Escolhemos ir pela trilha e voltar pelo asfalto, porque foi o que pareceu óbvio na plotagem do mapa.

Foto @adventuremag
   Enfim, chegamos ao PC31 no local da chegada. Infelizmente, com o corte de 8 da manhã, não fomos pra canoagem, nossa prova acabou ali. Sem problemas! Completamos a NP6 com pouco mais de 14 horas de prova. Nossa classificação só vai sair quando divulgarem os tempos das equipes. Vamos aguardar!
   Parabéns pra Arnaldo e Gaia!! Foi uma prova incrível! Nível técnico massa, em todos os aspectos, com desafios diversos pra todos os gostos. Bem organizada, com mapeamento preciso, trechos técnicos, navegação exigente em vários momentos. Eu gosto muito disso!
   Parabéns pra minha dupla mista querida, Vitor e Gabi! Orgulho demais de vocês! E dos meninos, Glad e Lairton?! Nossa! Vocês foram demais!
   Foi tão bom encontrar os alunos da Escola, rever os amigos, ver todo mundo na largada!
   Amei tudo! Sobretudo, correr com essas pessoas queridas! Não tem preço, compartilhar com vocês esses momentos! Muito obrigada por tudo!
   Tia Fêêê, eu sobrei! Valeu pelo treinamento! Você arrasa!
   Agora, minha gente, vou ali treinar para fazer os 500km da Terra de Gigantes.
   Até breve!

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