“Não tenhamos pressa mas não percamos tempo.” José Saramago
A Carrasco marcou a minha vida. Aliás, foi a Corrida de
Aventura que mudou a minha vida. A de Santa Terezinha foi minha segunda prova, a
primeira de 160km, inclusive completamos, onde todas a minhas configurações de
limites e desafios foram atualizadas! Foi na Carrasco que descobri que
conseguia ficar duas noites sem dormir. Naquela época, a minha iluminação não dava
conta de um palmo à frente do nariz. Nos 20km de canoagem em corredeira, pela
noite afora, rezei o Pai Nosso, sequencialmente, por ao menos 100 vezes.
Pedalamos em Santa Terezinha, no tempo em que as subidas intermináveis eram
conhecidas por poucos. Só pedia a Deus pra amanhecer, porque pedalava horrivelmente
de dia, imagina de noite. Ah! E o carrinho de rolimã com medo do trem passar? E
quando saímos da linha do trem, exatamente às 8h da manhã, lá veio ele. Enfim, de
lá pra cá, minha história e a Corrida de Aventura se emaranharam e até hoje tô
aqui.
Minha participação em Quarteto PRO deixou de acontecer por
uma sucessão de acontecimentos que não dou conta de escrever tudo aqui. O que
resultou no convite pra Jana fazer a prova de 60km comigo. Detalhe que tenho quase
dez anos sem fazer uma Corrida de Aventura de menos de 100km.
Janoca foi da Turma 7 da Escola de Aventura, assim como a
Coelhada toda- leia-se família Coelho com marido (João) e os 2 filhos (Dudu e
Juju). Pode convidá-la pra festas, batizados, confraternizações, café da tarde,
Triatlos, Corridas de Aventura, Corridas de Rua, Trail Run, Natação, Farol a
Farol, passeio de lancha, etc. Mas tudo na “cachorrada”, nada de muita fazer
muita força! Em reposta ao convite, alegou que eu morreria de raiva, que
andava devagar, que não tinha muito treino... Então fechamos aquela Corrida na maciota, no sapatinho, mas até o fim.
Como tenho família em Alagoinhas, não precisamos ficar num
hotel 5 estrelas mas foi quase isso. Nós 8! Fazia tanto tempo da minha última
visita que, passar a noite lá fez um bem danado ao meu coração!
Sexta tarde, Araçás, kits na escadaria colorida, fotos
oficiais, encontro com os amigos, briefing, mapas... e voltarmos pro macarrão
que nos esperava pro jantar.
Sábado, Penélopes do Agreste- Eu e Janaína Coelho- Carrasco,
Categoria OPEN 60km
LARGADA- ROGAINE
Em Araçás, perto das 9h, começamos pelo prisma 35, pra
depois seguir pros demais, que estavam mais distante. Deixei Jana na esquina,
enquanto fui pra pista pegar os outros 4, dos 5 PCs propostos no Rogaine, que
foram distribuídos pela cidade. Subi rápido pro 31, passei direto pelo dito
cujo. Bom pra eu tomar vergonha na cara e prestar atenção no que tava fazendo. Daí
então, não vacilei mais. Na sequência, 32, depois o 34, que estava num lugar
bem alto, com uma cerca pra pular. Já o 33 ficava no meio da escadaria colorida,
onde os fotógrafos nos esperavam! Rogaine concluído com sucesso, correndo
loucamente pela rua, ladeira abaixo, catei Jana na frente da creche, conferimos
os prismas... Numa alegria tão grande que eu, crente e abafando, achei que já
ia pra bike. 😅
TREKKING
Partimos pro trekking. Descemos a ruazinha ao lado da
prefeitura, pegamos uma trilha, no equilibramos pelo tronco que servia de ponte
pra atravessar o rio e seguimos pela beira do charco pra achar a subida pro
PC2. Ficou bem íngreme, escorregadio e cheio de mato. O mato fechou, abriu,
fechou, o platô chegou, a mata aumentou, fomos abrindo passagem, até que o PC
apareceu com uma camisa azulzinha. PC Gente! Era assim que a gente chamava
quando o PC era presencial. Bons tempos que a Carrasco nos trouxe de volta!
Tinha planejado continuar na trilha pelo outro lado do morro,
entretanto, mudei de ideia porque não quis nem perder tempo procurando, já que podíamos
voltar pela mesma trilha, mesmo charco. Coladinhas no rio, catamos a trilha que
subia até a cruz e lá fomos nós encarar outra pirambeira. Topo do Morro,
Cruzeiro encontrado, PC ok! Voltamos pra pracinha outra vez, onde estavam as
bicicletas.
Além de contar com uma torcida particular, com o apoio de
Martins e João, pudemos deixar alguns itens no carro e carregar pouca coisa no
trecho de bike. Nunca mais tinha pedalado sem ter que carregar o tênis na
mochila. Ô coisa boa! Fiz prova com uma mochila de Trail bem piquititita.
MOUNTAIN BIKE
O caminho pro PC5 foi tranquilex! Seguimos por uma ruazinha
até sair da cidade, pegamos a bifurcação à esquerda, depois outra, e mais um
pouquinho. Tudo batendo direitinho, fomos pro PC6 por uma trilha bem sombreada,
muito molhada, cheia de lama. Fizemos a volta pela vegetação mais densa, até
chegar na estrada. Pelo caminho, muito amigos, várias equipes, muita resenha. Paramos
pra um lanchinho na beira da estrada, depois seguimos por pequeno trecho de
asfalto, só pra atravessar pra outra estrada de barro.
Mesmo com bastante lama e algumas ladeiras pra dar uma
dificultada em nossa vida, não pudemos deixar de contemplar a paisagem. Sentimos
por não termos levado a câmera fotográfica pra registrar aqueles momentos mas,
a gente já sabe mas não custa lembrar, que os melhores momentos, não são
registráveis.
Chegamos ao PC6, na casinha, onde aproveitamos pra fazer um
Pit Stop! Do 6 pro 7 foi facinho e pertinho. Janoca parecia confortável e
confiante com minha navegação, não parecia estar sofrendo com a prova, embora
dissesse que estava. Uma cara booaa! Depois de umas duas horas perguntando se
ela estava bem de 5 em 5 minutos, percebi que não precisava me preocupar. Ela sabia
administrar muito bem o cansaço.
O mapa estava demais! Impecável mesmo! Com referências pra
todo lado, ponte, cerca, vegetação... Paulinho só faltou botar as vacas, de
tanto preciosismo. Olha que sempre digo: mapa não foi feito pra gente se
perder, foi feito pra gente se achar! Por falar em vaca, depois eu conto...
O moço do sitiozinho do PC7 disse que só a gente, até aquele momento, entrou por uma trilha e saiu pela outra. Que sabidas!
Gravar o nome da Fazenda com nome de chuva no PC8 teve um
tom de deboche. A chuva e o sol estavam numa briga ferrenha. São Pedro
passou 24 horas sem decidir se molhava ou se secava nossas roupas. Lembrei da
BAR. Chovia, parava, chovia, parava, nuvens escuras apareciam no horizonte, o
toró caía novamente.
Apesar das ladeiras um pouco mais íngremes no começo desse
trecho até o PC9, usufruímos de todos os embalos das descidas. Tudo estradão
até chegar em Itanagra, na mudança de modalidade pro trecho de boia. E nosso
super apoio, Martins, nos recebeu numa tranquilidade sem tamanho, cheio de
cuidados. Além disso, ganhei uma tangerina de Frôncio, uma garrafa de água de
Coco de Stefhanie, sem contar com a receptividade do Staff!
Pronto! Faltava pouco pra acabar! Só a Boia, um Trekking, o
Rogaine e um trecho de Bike. Pensando bem... nem tão pouco assim, mas eu falava
isso pra Jana de vez em quando pra animar.
BOIA
Seguimos pela estrada até a ponte, com nossas super boias. Mesmo
com a água fria, descemos animadíssimas pelos 3km, rio abaixo, passando por
galhos, troncos, árvores, pequenas corredeiras, curvas acentuadas. Seguramente,
aquele foi o trecho mais divertido da prova. Apesar de eu ter achado demorado, a
resenha foi tanta que, quando vimos, chegou.
Ao final da etapa, ao entregarmos nossas boias à
organização, não pude deixar de observar que tinha muuuita boia dentro do caminhão.
Ou seja, equipes na rabeira.
TREKKING
Fizemos o trekking até o PC10, onde estavam Dea, Adriano e
Samuel. Uma subidinha boa até lá, bem sombreada e um pouco escorregadia! De lá,
seguimos para chegar até o 11, que achei até que seria mais difícil. Afinal,
tínhamos um trechinho sem trilha, um azimutezinho pra fazer, um pasto bonito e...
as vacas, que nos encaravam de uma maneira desconsertante. Corriam pra cima da
gente de um jeito extremamente desagradável. 😕😅 Mas, lembre-se! Quando vacas
aparecerem em seu caminho, levante os braços. Elas acreditam que você é maior e
vai vencê-las. Correm! Foi isso que aconteceu mas não esperamos pra saber o que
pensaram ou deixaram de pensar. Tratamos de achar um buraco pra passar a cerca
e partir a mil!
Do outro lado da cerca, rolou aquela avaliação de terrenos,
estudo de relevo, verificação de direção do PC, etc. De dia, tudo fica muito
melhor de enxergar. Acabou sendo tranquilo chegar até o PC11, com todas as
referências oferecidas no mapa. Chegamos na ruína do PC das cobras, onde o
pessoal fazia questão de nos levar até a parte de dentro da casa abandonada
para mostrar os couros de cobra e uma beldade que estava enroladinha no
telhado. Confesso que nem olhei! Só queria chegar no charco que viria adiante,
antes de escurecer, que poderia ser simples se eu caísse no lugar certo.
Enfim... Meu azimute me levou um pouco mais pra direita. Pouxann! Descemos tão
certinho... Chegando lá, não encontramos a trilha pra atravessar. Tinha
bastante mato batido, tentamos passar sem progredir. Atacamos por outro ponto,
a mata fechava. Ali já estávamos uns 15 minutos, com umas 5 ou 6 equipes
aglomeradas.
Pensando em alternativas, cogitamos fazer a volta mas,
quando fiz a conta, achei a distância enorme. Decidimos então, a tropa toda,
seguir um pouco pela trilha da esquerda, achamos a passagem, chegamos do outro
lado, beirando o charco, até encontrar a estrada.
Ai gente, que alegria que é acertar o caminho! Que alegria
que é acertar na vida! As duas, tranquilonas, seguindo na prova, sem agonia. Naquele
momento, ficamos nós e a Kaaporas juntos. Duas duplas OPEN de categorias
diferentes, porque o resto da aglomeração seguiu numa bifurcação, estava na
PRO. Nas conversas, Ricardo e Cabelinho arquitetavam sua pausa no PC12, falando
dos pés, do joelho, do tênis que rasgou completamente... Enquanto isso, eu
dizia a Jana que iria sozinha pro Rogaine pra ela descansar um pouco. Só
precisava de iluminação.
Conversa vai, conversa vem, ainda tínhamos que atravessar o
rio e seguir num azimute até a vilazinha, cujas luzes já brilhavam na nossa cara.
Não tinha erro, só o rio que era um pouco fundo pro meu tamanho. Ali sem colete
era barril! Ainda tinha areia movediça. Jana quase ficou morando lá! Tive que
puxar pelo braço porque ficou presa.
Depois da travessia, convidei Ric pra irmos juntos pro
Rogaine e ele se animou muito! Achei que estávamos em último porque, lá na
boia, Sam me falou que Déborah tinha passado fazia muito tempo. Além disso, não
encontramos ninguém da nossa categoria pelo caminho. Se disser que olhei se tinha
algum nome na planilha, é mentira. A única coisa que vi é que assinava a lista dos
PCs no pó da rabiola. Sim! Tinha certeza de que o nosso quarto lugar estava
garantido, já que tinha 4 em nossa categoria. Então tá! 😉
Chegando ao PC12, demorei a acreditar no que o Staff dizia. Perguntei
umas 3 vezes. Só tinha chegado a gente, absolutamente ninguém mais! Martins nos
ajudou com as lanternas e uns amendoins, Janoca arrumou um café, os meninos
ficaram mega animados com a notícia e ninguém mais teve dúvidas se descansaria antes
do Rogaine. 😆
ROGAINE 2
Saímos da Vila em direção ao eucaliptal. Quando chegamos bem
na frente dele, antes da pista, Tico e Teco deram um “tíuti” de uns 2 minutos,
até entender quem eu era na fila do pão. Coisa minha! Mas tenho umas
estratégias de controle de maluquice e sempre dá certo no final.
Primeiro fomos no Prisma 31, numa trilha lateral da
estradinha. Como a base estava desativada, grampeamos o mapa. De lá, seguimos
pros 32 e 33, todos alcançados no azimute, sem nenhuma dificuldade, em meio a
muito trololó! Ricardo fala, viu! Rapaz!!! E escorrega muito também... 😁
O prisma 40, o mais distante, nos deu um trabalhinho bobo,
por entendermos que estaria logo no começo da trilha. Deve ter sido pouco tempo,
mas demos umas voltinhas de conferência. Ricardo ficava dizendo que o Prisma
estava vendo a gente, dando risada. Enfim, achamos e voltamos pra Vila debaixo
e um pé d’água torrencial! Daqueles que se a pessoa parar, começa a tremer de
frio. Principalmente, se não tiver anorack, como eu. A chuva estava tão forte
que achei que Jana poderia nem querer sair naquela hora.
Chegando no PC foi aquela cachorrada, sem nem saber das
gratas surpresas que viriam adiante. Primeiro que o PC14 foi cancelado, ou seja,
poderíamos seguir direto pelo asfalto. Aff, que alegria! Segundo, minha
gente... Nenhuma equipe tinha chegado ainda, nem pra fazer o Rogaine. Aí a
gente correu pro abraço!!! Foi demais!
BIKE
Partimos pra os últimos km da prova até a linha de chegada,
junto com os meninos da Kaaporas. No caminho, muita resenha, muita palhaçada,
muito foco na pista também, pra empolgação não dar merda.
Enfim, chegamos na maior alegria em primeiro lugar, com uma
diferença de considerável da segunda colocada. Ô delícia!!
A Carrasco foi massa demais! Só elogios ao percurso,
ao mapa, ao acolhimento. Uma equipe com organizadores tão comprometidos e
competentes, não tem erro! Sucesso garantido!
Agradecendo demais a todas as pessoas que encontramos pelo
caminho. Toda alegria vale a pena, toda motivação é muito bem vinda! Foi tão
bom aproveitar o pouquinho de tempo pra ver minha família, viajar com Fred,
Mau, Sam, Vitor, Jana, Martins e João, encontrar tanta gente boa!
Agradeço também à minha treinadora, a Tia Fê, que entra em trabalho de parto toda vez que vou correr. Ao povo de casa, que sempre fica à espera de notícias e vibra com os troféus que chegam. 😍
Toda gratidão a Janoca, minha parêa, que botou pra lenhar,
pulou com os dois pés e meteu com gosto de gás. A pessoa é nadadora de águas abertas, gente! Quem entra no mar não tem medo de mais nada. Eu deveria saber! Não tem pra ninguém! É Campeã das Campeãs! 💪💫😎
Obrigada, meus amigos, e até a próxima aventura! Vamos tirar onda até 2032. 😂😂😂
Retroceder Nunca, Render-se Jamais e Divertir-se Sempre!
Para sempre Aventureiros do Agreste
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