Foram 55 km, com trekking, mountain bike e canoagem. Mato, subida, pedra, cachoeira, superação, alegria, força, coragem, foco e determinação.
Mucugê,
como sempre, aconchegante, encantadora e com aquele friozinho gostoso! Volto sempre!
O
Campeonato Baiano de Corrida de Aventura começou com prova cheia, atletas de
vários estados do Nordeste, parecia até um Circuito Nordestino.
Cada
amigo que me encontrava, questionava o fato de eu estar correndo a prova curta.
Sorri, acenei, fiz graça, saí pro lado, escorreguei pro outro, esquivei, mas
agora vou dizer o que todo mundo queria saber. Meu joelho não dói, a minha
coluna também não, não corri na Open para levar vantagem (nem pensei nisso) e
não estou me aposentando das Corridas longas. Parafraseando meu amigo Arnaldo,
eu estava exatamente o que onde queria estar, fazendo o que queria fazer, com
as pessoas com quem desejava estar: Camila, Jana e Fred. Cinquentinha com duas
duplas, a nossa foi Penélopes do Agreste, dupla feminina.
Pra não
dizer que não teve emoção antes da prova, vou contar a história do parafuso.
Ficamos
numa casa fofa, de um amigo de João, com café da manhã de hotel, colchão macio
e quentinho. Pequenininha pra caber tantas bicicletas, ficou definido que
ficariam todas do lado de fora, com cadeados. Embora não veja perigo em Mucugê,
pensei que poderia passar um bêbado, um malandro ou um brincalhão qualquer,
furar um pneu, levar uma roda, fazer qualquer coisa que prejudicasse a nossa
aventura. Se levassem tudo depois da prova, a gente dava um jeito. Antes, não.
Vitor
queria amarrar as bicicletas numa árvore, mas preferi colocar na carroceria do
meu carro, fechadinha. Portanto, guardamos as rodas nos bancos traseiros e os
quadros na carroceria, bem bonitinhas.
De
manhã, na reposição do pneu traseiro, a minha bicicleta soltou cambio, com gancheira. Gelei! Não sei o que foi aquilo! Calmamente, esperei
pra entender os danos, até saber que tinha quebrado o parafuso que prende a
gancheira. Meio anestesiada, entrei na casa em busca de uma gancheira reserva,
que sempre está no meu kit, embora, àquela altura, não tivesse certeza se
serviria. Uma tensão da zorra, fiquei pensando no que fazer, onde encontrar
ajuda, a quem procurar.
A moça
que fazia nosso café, Solange, indicou Burrego, um rapaz que conserta bicicleta. Com a minha cara de pau, lá estava eu, na frente da casa de Burrego
às 6 da manhã, batendo palmas. A mãe dele abriu a janela com cara de poucos
amigos (com toda razão), resmungou que Burrego estava dormindo e que não
trabalhava mais com isso. Fechou a janela na minha cara, me botou pra correr.
Voltei pra
casa pensando que milagre nos ajudaria, já imaginando que não seria dessa vez
que correria com a minha amiga. Como não sou de desistir, comecei a pensar nos
amigos que moram em Mucugê e Alanzinho me veio à cabeça. Meio azuada, ao primeiro
toque da minha ligação, ele atendeu objetivamente, parecendo que já esperava por aquele
telefonema cheio de explicação.
“Lu,
tenho uns parafusos aqui. Não empresto a minha bike reserva porque também está
com problema na gancheira. Traga só os parafusos porque estou de saída, você
resolve o resto. Vou mandar a localização.”
Pra
minha sorte, as casas eram pertinho, tanto a de Burrego, quanto a de Alan. E lá
fui eu com o endereço no maps, um parafuso na mão, Camila do lado e um sonho!
No meio dos parafusos encontrados, o último era idêntico ao meu. Daí em diante,
Vitor (a quem agradeço demais!) deu conta da situação, para que pudesse tomar o café da manhã aliviada.
Enfim, sempre penso que poderia ter sido pior. Caso esse parafuso quebrasse no
meio da prova, nem sei qual seria o desfecho dessa história.
Recebemos
o mapa na noite anterior. Portanto, deu pra fazer seta, desenho, florzinha, número,
olhar 15 vezes, pensar, pensar, debater, planejar, comer pizza e, ainda assim,
dormir tranquila. O perrengue foi só de manhã mesmo!
Largamos
de bike, bem no fundinho, pra evitar os trompaços. Saímos por um pequeno trecho
de asfalto, entramos na trilha e encontramos o PC 1, junto com quase todos os
atletas da nossa categoria. Embolou mais do que o esperado, porque alguém
arrancou o PC do lugar.
Seguimos
por um sigletrack à beira da estrada de asfalto, por onde os caminhões passavam
sacudindo a gente com a ventania. Subimos
por 1 km de estradão, encontrando o PC 2, numa trilha atrás de uma pedra. Uns 4
km depois, lá estava o PC 3, numa árvore, do lado de uma casa com uma boiada por
perto, olhando bem na cara da gente. Ainda bem que nossa roupa era rosa, e não vermelha. 😁
Foi um pedal fluido, com subidas leves, uma fresquinha boa! Rapidinho, chegamos na Barragem do Apertado, onde deixamos as bicicletas pra remar 5 km.
Eu não sabia se sabia fazer leme em packraft, até quando peguei o remo, enfiei a pá na água e seguimos reto toda vida, sem dar uma rabiada, um cavalo de pau, nada! Deve ser igual a andar de bicicleta. Só fomos! Lindas, leves e velozes. Camila rema muito bem, não teve erro!
Ao invés
de fazermos os 2,5 km até o PC 4, aportamos por volta de 1 km antes, deixamos o
barco na areia e seguimos andando até o PC, por uma plantação de cansanção de
tamanhos jamais vistos. Eram árvores com folhas e espinhos enormes, parecendo
pé de jambo, de tão altas.
Um remo foi épico, as melhores remadores do Universo, do Sistema Solar e das Galáxias. Mesmo com o vento contra da volta, mantivemos o ritmo, sem perda de tempo, até a transição, para mais 16 km de mountain bike, buscando os PCs 5 e 6.
Na volta, o vento contra deu uma reduzida na nossa velô. Com a estrada mais movimentada, a poeira subia, entrando por todos os buracos. No fim do estradão, pegamos o single paralelo à estrada mais uma vez, depois uma estrada, uma trilha à esquerda, areia e pedra, 500m e achamos o PC 5. Para pegar o 6, decidimos, por unanimidade, pegar o asfalto e atacar o PC do lado do rio, exatamente onde ele estava. PC encontrado, fotos devidamente tiradas, seguimos para transição, finalizando o último trecho de bike.
Nossa
transição foi até rapidinha, para o trekking, que deve ter sido de uns 14 km.
Saímos do perímetro urbano, entramos no condomínio que dá acesso às cachoeiras,
encontramos a trilha e iniciamos a subida para a Cachoeira das Andorinhas.
Subidinha de pedra, com vários degraus, de tirar o fôlego. Lá de cima, uma
vista linda da cidade, até começarmos a sumir caatinga adentro.
O PC 7
foi devidamente encontrado, numa bifurcação marota, onde a trilha estreitava em
pedras laterais e areia mais fofa. De lá, seguimos direto pela trilha da cachoeira,
onde a chegada parece um portal com duas pedras enormes! O PC estava do outro
lado do rio, bem em frente à cachoeira, só pra gente se encantar e tirar a foto
mais linda da prova. As meninas curtiram horrores!
PC 8, OK!
Seguimos para o 9 subindo pelo leito do rio. Degraus, pedras grandes, pedras
pequenas, pedras escorregadias, outras secas, várias quedas d’água muito
bonitas, algumas um pouco perigosas. Fizemos escalaminhadas, lagartixadas e
etc. Nos agachamos para passar em alguns espaços, comemos, rimos, nos escondemos
de outras equipes. O tênis de Fred resolveu abrir o bico!
Cadê o
silver tape que mora em minha mochila? Então... Eu não levei, porque a prova
era curta e nada de errado poderia acontecer. Engano meu! Mas não faltou
criatividade para resolver o problema. Primeiro enrolamos o tênis com
esparadrapo, manobra que não durou até o fim do cânion. Depois usamos
esparadrapo e um cadarço de Jana. E depois...
Tiramos a
foto do PC 9, pegamos a trilha novamente, até passar por uma casa de
garimpeiro, subindo em direção à estrada do condomínio novamente. O tênis de
Fred... demos mais um jeito. Começamos um trotezinho, alcançamos a parte mais
alta da trilha, descemos desbandeiradas porque vimos um capacete descendo a ladeira, chegamos na estrada. Viramos à
esquerda, achamos o PC 10 numa matinha, penduradinho na árvore. Só faltava o
11. Corre que corre que corre, que lá vem uma equipe, corre!
Atravessamos
um rio, andamos por lajedos de todos os tipos e cores, alternando com areia
fofa. O tênis de Fred mais uma vez... dessa vez, usamos a bandana de Camila,
cheia de coriza, do trecho de mountain bike. Encontramos o PC 11, corremos mais
e mais, até a estrada de asfalto, a pouco mais de 500m da chegada, onde João,
Dudu e Gabi esperavam pra “curiar” a nossa vida e dar aquele apoio moral.
Aliás, apoio moral e fotos não faltaram, porque essa galera esteve em todas as
transições e ainda ficou tocaiando a gente na beira da estrada, quase no final
da prova. Valeu pela força! 😍
Enfim,
chegamos, comemorando a conclusão da prova, completa, sem erros, sem baixas,
num tempo ótimo, de 8 às 16h.
Foi
massa, divertido, leve! Rápido como não tô acostumada, porque vivo passando a noite no mato! Quando começava a pensar
em cansar, mudava de modalidade. Adorei!
Prova super bem organizada, redondinha!
Parabéns pra Dudu e Tufic, nossa dupla de Campeões, que voou!
À FBCA e Sudesb, que beleza que nosso esporte está cada vez mais organizado, viável e acessível a todos.
Obrigada, Jana, Fred, por tudo! Obrigada, Camis,
também, e pela parceria! Curti do início ao fim!
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