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DS 2025- Juazeiro 120km

 

Que corrida! 😎

Fazia um bom tempo que não corria com Mauro e Scavuzzi, que fazem parte da minha primeira formação a 20 anos atrás, quando comecei a praticar Corrida de Aventura. Compartilhamos sentimentos de irmandade, de uma raiz profunda, de falar o que pensa, sem máscara. Vimos nossos filhos nascerem e crescerem. Crescemos juntos no esporte. Na verdade, foi com eles que virei atleta amadora de Corrida de Aventura, com os quais aprendi muita coisa do que sei hoje. 

A formação pro DS: eu, Mauro, Scavuzzi e Luqueta, nosso mascotinho revelação de 24 anos, que sempre traz um tom jovial ao grupo. Na verdade, eu e Lucas estávamos certos de correr em dupla. Depois que decidimos aceitar o convite dos meninos.

Enfim, alugamos uma casa na Ilha do Rodeadouro, com mais Gabi e Carini que foram correr em dupla de Penélopes, Vitor como representante da FBCA e Fofinho bem “free”, curtindo a prova de fora, sem se arranhar. Ou seja, estávamos em 8.

Tudo certo em Juazeiro, chegamos no buzu oferecido pela FBCA/SUDESB, deixamos bicicletas e equipamentos nos locais indicados e seguimos para a nossa hospedagem, onde resenhamos horrores, rimos à vontade e curtimos nosso soninho de beleza para enfrentar as 24 horas de prova do dia seguinte.

Largamos para o Rogaine de 6km, com a nossa sequência definida dos PCs na ordem Arthur, Pedro, Nena, Isis, Diana, Nino e Luiza. A poucos metros da margem do Rio São Francisco, tudo seco! Os espinhos, aquelas pedras e o poeirão já davam os indícios de que o Sertão não daria trégua aos Aventureiros. O PC Isis foi o mais bacana, localizado em cima de um morro de pedra, que parecia um bloco gigante de granito. Lá de cima, uma vista linda, que não deu muito tempo de apreciar. E, depois de correr o tempo inteiro, de um canto pro outro, encontrando gente de todo lado, finalizamos o primeiro trecho da prova.

Na transição, pegamos os apetrechos para a natação de 450m, fazendo uma caminhada pela margem rio acima, pra voltar nadando. De pés de pato, fui deslizando pelo rio com a minha performance de sereia. Ainda voltei pra ajudar Lucas, passando duas vezes por Jooibison. Uma sozinha e a outra com Lucas. Fiz uma resenha danada, até confessar que estava com pés de pato. 😂😁

É possível que o nosso plano de canoagem tenha sido diferente da maioria das equipes, porque vimos muita gente subindo o rio, logo no início. Nós preferimos descer, pra depois pegar os PCs que ficavam na parte de cima. Na ida PIAU e PIABA. Correnteza a favor, vento contra. Nosso barco começou a ficar meio pesado, esvaziar, mas foi só uma questão de parar, constatar que a tampa não estava bem fechada, encher com o ar dos pulmões e nunca mais tivemos problema. Na volta, Mauro sugeriu uma portagem do lado de Petrolina, até a abordagem ao PC MANDI. Por falta de adesão, continuamos remando pelo cantinho do rio, nos abrigando da correnteza e aproveitando o vento a favor. Um tantinho de sofrimento, PC MANDI encontrado, atravessamos pro outro lado até o PC PACU. Se não fosse por Lucas (arrasou, Lulu!), a gente perdia o PC CARI, mas, dali em diante, foi só alegria até a transição.

Por falar em transição, passamos com tudo certinho na checagem de equipamentos, trabalhamos com objetividade na mudança de modalidade e seguimos para o pedal de 25 km.

O meu objetivo de prova era completar no menor tempo possível, fazer transições objetivas e não perder tempo, como sempre. Lucas certamente vinha com a mesma proposta. Scavuzzi não contou o que pensava. Mauro, ao propor que nos juntássemos, já veio dizendo que eu teria que aceitá-lo como ele era, bem no complexo de Gabriela. E como era isso na minha cabeça? Beeem tranquilo, fazendo tudo em câmera lenta, com zero treino, sem manutenção na bicicleta, transição com soninho gostoso.

Até ali, estávamos seguindo a proposta da objetividade, surpreendendo positivamente. Pedalamos o melhor possível, chegamos ao PC 1 rapidinho, seguimos para o 2, passando por uma pingela, onde aconteceu uma coisa curiosa. Malena estava correndo na Open com umas amigas. Nos encontramos antes da travessia dessa “ponte” composta por dois troncos bambos de madeira, que balançavam, à medida que íamos atravessando. Na minha vez, Malena sussurrou: “Essa daí é retada!” Gente, foi bem na hora em que as minhas pernas começaram a tremer de um jeito, que eu não conseguia sair do lugar, só na tremedeira. Até hoje eu acho graça da minha caruara! Só consegui atravessar depois que Scavuzzi pegou a minha bicicleta, que tirei as sapatilhas e fui. No final, tudo certo, mas passei um pouco de vergonha com o meu ex-futuro-fã-clube.

Nas imediações do PC 2, também encontramos Gabi e Carini com os pneus furados. Ajudamos no que pudemos, sentimos por deixá-las se virando na troca da câmera, mas tivemos que continuar a nossa jornada, que estava apenas começando.

As linhas de transmissão nos ajudaram bastante na navegação. Os retões também não deixavam dúvidas sobre os azimutes. Dos PCs 2 até o 4, seguindo para a transição, com bastante single, estradão, pedra, areia, poeira, espinhos, cabras, poucas casas e pouca gente. E nem lembro em que momento os pneus começaram a baixar, porque foi um tal de furar pneu, que só pela misericórdia. Entretanto, esse não foi o maior dos nossos problemas. A treva foi quando a nossa câmera acusou capacidade excedida, logo depois da foto do PC 4. O que que faz? Ninguém acertava excluir as fotos da Expedição Mandacaru, que estavam ali, ocupando espaço.

Na transição, bem dispostos, tomamos dois litros de Coca-Cola, comemos e partimos para o Trekking. A sorte foi que Gaia topou fazermos juntos, tirando as nossas fotos com sua câmera. E foi num sexteto animado que fizemos o trekking de 8 km, naquela caatinga miserenta.

Tive oportunidade de conhecer Cícera, a parceira de Gaia, de Alagoas, que navega muito bem e conta passos que é uma beleza. Enquanto eu contava até 3 e me distraía, ela ficava ali bem quietinha, concentrada. Perninhas curtas, passos rápidos, bichinha retada! Encontramos os PCs Preá, Mocó, Caititu, Tatu e Veado. Caititu deu um trabalhinho chato pra encontrar, embora tivéssemos certeza da sua localização, dentro de um triângulo formado por trilhas. Então, o trabalho foi varrer a área toda pra encontrá-lo, sem tanta demora. Já o Veado foi mais custoso, passamos um tempo varrendo a área, nos espalhamos mais, mas Mauro tinha muita certeza da curvatura do rio, dos pontos de referência. Ele e Cícera acabaram encontrando, no momento em que 10 atletas chegavam. Resultado é que voltamos à transição em bando, numa resenha danada.

Mais 18 km de Mountain Bike, 2 PCs e um sonho: chegar até a transição seguinte antes do corte, tendo o PC 6 em nosso caminho, que Daniel já foi avisando que não estava fácil, mas só Deus sabe que deu mais trabalho pra sair do que pra chegar.

Seguimos juntos, os 6, numa troca justa! Gaia tirava nossas fotos e nós emprestávamos a bomba pra encher o pneu dele. Enquanto eu pedalava, admirava Cícera, sendo puxada naquela cordinha de Gaia. Que menina corajosa! Que confiança, meu Deus! Tinha horas em que ela dava umas rabiadas, saía pela tangente se ralando pela vegetação, mantendo um semblante sereno. Eu passava pelas valas e pensava: será que ela não vai se soltar da cordinha? E ela seguia sem parar! Fiquei fã dessa menina!

Zero trabalho para encontrar o PC 5, seguimos por estradão até o ponto de ataque à trilha do 6. No azimute cravado, com um mundo de trilhas pra tudo que era lado, seguimos até a distância prevista, nos deparando com uma vegetação fechada. Aí a pessoa já tenta rasgar mato, imaginar trilha, achar que dá pra passar, mas as coisas até que se resolveram de uma forma tranquila. Achamos o rio de azimute paralelo à trilha e subimos de volta, em sentido perpendicular, marcando distância até encontrarmos a trilha certa e bem marcada. Daí, foi só seguir que encontramos o PC.

Sair do 6 é que foi coisa!!! Foi o quilômetro e meio mais longo da prova, rasgando mato pelo leito do rio seco, pulando cerca, subindo barranco, até a vegetação dar uma trégua e aparecer a estrada.

Foi depois do 6 que encontramos Sertão, um cachorrinho que fazia parte de um grupo de filhotes que brincava perto de umas casinhas. Ele nos seguiu por muitos quilômetros. A cada parada para encher pneus ou fazer troca de câmera, era uma cachorrada com Scavuzzi e Gaia. Apegados, eles puseram o nome Sertão, brincaram, deram comida e água. No fim das contas, já com as patinhas machucadas, Sertão seguiu na mochila de Scavuzzi, todo compenetrado, sem reclamar de nada, só curtindo. Bem que eu avisei pra não dar nome! Quase que Scavuzzi resolve parar pra fazer a adoção de Sertão! 👀

Quando chegamos à Transição, fomos cortados para o último trekking da prova. Numa pausa estratégica, resgatamos a máquina fotográfica reserva no saco de abastecimento, comemos e nos abastecemos o suficiente para fazermos o trecho de Bike de 40 km até a chegada, passando pelos PCs 7, 8, 9 e 10. 

Os meninos ponderaram por seguirmos direto, sem pegar PCs, mas consegui demovê-los da ideia. Afinal, não pegar PC obrigatório e/ou seguir direto pra chegada, só não desclassifica como antes, mas configura desistência no último PC marcado. Desistiu, vai pro fim da fila na classificação, isso é básico! O Regulamento Unificado facilitou a vida dos desistentes e dos puladores de PCs, lembrando que eu também não estou livre de uma situação assim, porque basta fazer Corrida de Aventura para estar sujeito a todos os intempéries, em pé de igualdade com os amiguinhos. Por falar nele, nunca entre no jogo sem ler o Regulamento, porque não dá pra mudar a regra do jogo de acordo com as suas necessidades. O Regulamento de um esporte é a sua Carta Magna. Leia antes de largar!

Na verdade, a diferença de percurso era quase nenhuma, entretanto, pegaríamos mais trilhas até o 8. Ademais, se fôssemos nos emprenhar pelos comentários, parávamos a prova ali mesmo. O povo tava dizendo que era pura areia e pedra, que dava não sei quantas horas pra chegar e tudo mais que vocês puderem imaginar. Realmente, o começo não foi fácil, a gente sofreu um tantinho, mas, depois do PC 7, a coisa foi melhorando. Depois do 8, virou estradão até a chegada. Sem contar que nenhum desses PCs teve navegação complicada.

O pneus ainda furavam. Não sei como conseguimos tantas câmaras de ar. Em algum momento, lá pelo PC 7, “enxotei” Gaia de perto da gente, tendo em vista que sua dupla poderia ser prejudicada por extrapolar o tempo de prova, de tanto que nossos pneus deram problema. Todos os nossos recursos de suporte dos pneus haviam se esgotado, os meus companheiros questionavam sobre nosso tempo de prova, queriam saber quantos km faltavam... Eu nem sei porque disse que dava tempo. Também não sei que milagre aconteceu que os pneus pararam de furar, como se não tivéssemos mais espinhos.

No PC 8, a máquina fotográfica de Scavuzzi começou a avisar que a bateria se esvaia, pra não dizer que chegar até o fim foi fácil. Ai para!!! Por mais golpes de sorte como os nossos! A Vaiselascar tirou a nossa última foto, no PC 10. Ufaa!

Refletindo sobre a prova e a vida, quero falar sobre o poder de transformar o limão em limonada. Sobre 30 golpes de azar, serem sobrepostos por 50 golpes de sorte. Azar é livramento, anote aí! É uma questão de perspectiva de vida, que a própria vida ensina, com o tempo, com a experiência. A Corrida de Aventura tem muito disso. Não é positividade tóxica! Espere, tenha calma, observe como tudo se resolve, a verdade aparece, as coisas clareiam, as ideias brotam.

Por fim, nosso Desafio dos Sertões foi concluído em 24 horas, com a gente dando o gás nas últimas retas, Scavuzzi puxando o ritmo, Lucas ajudando Mauro, a poeira subindo, os carros passando, o sol escaldando às 8 da manhã, parecendo que ia dar meio dia. Chegamos felizes com o feito, comemorando as vitórias do percurso, os livramentos, os golpes de sorte e a nossa amizade. 

O Desafio dos Sertões encerrou a sua edição 2025 com uma grande confraternização, envolvendo atletas, amigos e familiares. Uma festa de arromba, com duas bandas, bebidas à vontade, churrasco de bode. A gente se acabou de dançar, curtiu horrores e voltou pra casa com muita história pra contar.

Parabéns a todos os envolvidos, especialmente à Waltinho e Daniel, que sabem fazer festa e prova de Corrida de Aventura, como ninguém! O Desafio dos Sertões consegue ficar ainda melhor a cada edição, como se isso fosse possível!

Obrigada, meus amigos Aventureiros, pela companhia e pela amizade! Fomos e somos maravilhosos juntos!

Carini, Gabi, Fófis e Vítor, foi ainda melhor com vocês por perto!

À minha treinadora, Fernanda Piedade, todo o meu respeito e a minha gratidão! Melhor do que fazer bem a prova atual, é estar pronta pra próxima! 😎

Que bom que a gente tem a gente! 😍

Resenha pós prova.




 

 

 

 

 

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