Que corrida! 😎
Fazia um bom tempo que não corria com Mauro e Scavuzzi, que fazem parte da minha primeira formação a 20 anos atrás, quando comecei a praticar Corrida de Aventura. Compartilhamos sentimentos de irmandade, de uma raiz profunda, de falar o que pensa, sem máscara. Vimos nossos filhos nascerem e crescerem. Crescemos juntos no esporte. Na verdade, foi com eles que virei atleta amadora de Corrida de Aventura, com os quais aprendi muita coisa do que sei hoje.
A
formação pro DS: eu, Mauro, Scavuzzi e Luqueta, nosso
mascotinho revelação de 24 anos, que sempre traz um tom jovial ao grupo. Na
verdade, eu e Lucas estávamos certos de correr em dupla. Depois que decidimos
aceitar o convite dos meninos.
Enfim,
alugamos uma casa na Ilha do Rodeadouro, com mais Gabi e Carini que foram correr
em dupla de Penélopes, Vitor como representante da FBCA e Fofinho bem “free”,
curtindo a prova de fora, sem se arranhar. Ou seja, estávamos em 8.
Tudo
certo em Juazeiro, chegamos no buzu oferecido pela FBCA/SUDESB, deixamos
bicicletas e equipamentos nos locais indicados e seguimos para a nossa
hospedagem, onde resenhamos horrores, rimos à vontade e curtimos nosso soninho
de beleza para enfrentar as 24 horas de prova do dia seguinte.
Largamos para o Rogaine de 6km, com a nossa sequência definida dos PCs na ordem Arthur, Pedro, Nena, Isis, Diana, Nino e Luiza. A poucos metros da margem do Rio São Francisco, tudo seco! Os espinhos, aquelas pedras e o poeirão já davam os indícios de que o Sertão não daria trégua aos Aventureiros. O PC Isis foi o mais bacana, localizado em cima de um morro de pedra, que parecia um bloco gigante de granito. Lá de cima, uma vista linda, que não deu muito tempo de apreciar. E, depois de correr o tempo inteiro, de um canto pro outro, encontrando gente de todo lado, finalizamos o primeiro trecho da prova.
Na
transição, pegamos os apetrechos para a natação de 450m, fazendo uma
caminhada pela margem rio acima, pra voltar nadando. De pés de pato,
fui deslizando pelo rio com a minha performance de sereia. Ainda voltei pra
ajudar Lucas, passando duas vezes por Jooibison. Uma sozinha e a outra com
Lucas. Fiz uma resenha danada, até confessar que estava com pés de pato. 😂😁
É
possível que o nosso plano de canoagem tenha sido diferente da maioria das
equipes, porque vimos muita gente subindo o rio, logo no início. Nós preferimos descer,
pra depois pegar os PCs que ficavam na parte de cima. Na ida PIAU e PIABA.
Correnteza a favor, vento contra. Nosso barco começou a ficar meio pesado,
esvaziar, mas foi só uma questão de parar, constatar que a tampa não estava bem
fechada, encher com o ar dos pulmões e nunca mais tivemos problema. Na volta,
Mauro sugeriu uma portagem do lado de Petrolina, até a
abordagem ao PC MANDI. Por falta de adesão, continuamos remando pelo
cantinho do rio, nos abrigando da correnteza e aproveitando o vento a favor. Um
tantinho de sofrimento, PC MANDI encontrado, atravessamos pro outro lado até o
PC PACU. Se não fosse por Lucas (arrasou, Lulu!), a gente perdia o PC CARI, mas, dali em diante,
foi só alegria até a transição.
Por
falar em transição, passamos com tudo certinho na checagem de equipamentos,
trabalhamos com objetividade na mudança de modalidade e seguimos para o pedal
de 25 km.
O meu
objetivo de prova era completar no menor tempo possível, fazer transições
objetivas e não perder tempo, como sempre. Lucas certamente vinha com a mesma
proposta. Scavuzzi não contou o que pensava. Mauro, ao propor que nos
juntássemos, já veio dizendo que eu teria que aceitá-lo como ele era, bem no
complexo de Gabriela. E como era isso na minha cabeça? Beeem tranquilo, fazendo
tudo em câmera lenta, com zero treino, sem manutenção na bicicleta, transição
com soninho gostoso.
Até ali,
estávamos seguindo a proposta da objetividade, surpreendendo positivamente.
Pedalamos o melhor possível, chegamos ao PC 1 rapidinho, seguimos para o 2,
passando por uma pingela, onde aconteceu uma coisa curiosa. Malena estava
correndo na Open com umas amigas. Nos encontramos antes da travessia dessa “ponte”
composta por dois troncos bambos de madeira, que balançavam, à medida que íamos
atravessando. Na minha vez, Malena sussurrou: “Essa daí é retada!” Gente, foi
bem na hora em que as minhas pernas começaram a tremer de um jeito, que eu não
conseguia sair do lugar, só na tremedeira. Até hoje eu acho graça da minha
caruara! Só consegui atravessar depois que Scavuzzi pegou a minha bicicleta,
que tirei as sapatilhas e fui. No final, tudo certo, mas passei um pouco de
vergonha com o meu ex-futuro-fã-clube.
Nas imediações do PC 2, também encontramos Gabi e Carini com os pneus furados.
Ajudamos no que pudemos, sentimos por deixá-las se virando na troca da câmera,
mas tivemos que continuar a nossa jornada, que estava apenas começando.
As
linhas de transmissão nos ajudaram bastante na navegação. Os retões também não
deixavam dúvidas sobre os azimutes. Dos PCs 2 até o 4, seguindo para a
transição, com bastante single, estradão, pedra, areia, poeira, espinhos,
cabras, poucas casas e pouca gente. E nem lembro em que momento os pneus começaram
a baixar, porque foi um tal de furar pneu, que só pela misericórdia. Entretanto,
esse não foi o maior dos nossos problemas. A treva foi quando a nossa câmera
acusou capacidade excedida, logo depois da foto do PC 4. O que que faz? Ninguém
acertava excluir as fotos da Expedição Mandacaru, que estavam ali, ocupando
espaço.
Na
transição, bem dispostos, tomamos dois litros de Coca-Cola, comemos e partimos
para o Trekking. A sorte foi que Gaia topou fazermos juntos, tirando as nossas fotos
com sua câmera. E foi num sexteto animado que fizemos o trekking de 8 km,
naquela caatinga miserenta.
Tive
oportunidade de conhecer Cícera, a parceira de Gaia, de Alagoas, que navega
muito bem e conta passos que é uma beleza. Enquanto eu contava até 3 e me
distraía, ela ficava ali bem quietinha, concentrada. Perninhas curtas, passos
rápidos, bichinha retada! Encontramos os PCs Preá, Mocó, Caititu, Tatu e Veado.
Caititu deu um trabalhinho chato pra encontrar, embora tivéssemos certeza da
sua localização, dentro de um triângulo formado por trilhas. Então, o trabalho
foi varrer a área toda pra encontrá-lo, sem tanta demora. Já o Veado foi mais
custoso, passamos um tempo varrendo a área, nos espalhamos mais, mas Mauro
tinha muita certeza da curvatura do rio, dos pontos de referência. Ele e Cícera
acabaram encontrando, no momento em que 10 atletas chegavam. Resultado é que voltamos
à transição em bando, numa resenha danada.
Mais
18 km de Mountain Bike, 2 PCs e um sonho: chegar até a transição seguinte antes do corte,
tendo o PC 6 em nosso caminho, que Daniel já foi avisando que não estava fácil,
mas só Deus sabe que deu mais trabalho pra sair do que pra chegar.
Seguimos
juntos, os 6, numa troca justa! Gaia tirava nossas fotos e nós emprestávamos a
bomba pra encher o pneu dele. Enquanto eu pedalava, admirava Cícera, sendo
puxada naquela cordinha de Gaia. Que menina corajosa! Que confiança, meu Deus!
Tinha horas em que ela dava umas rabiadas, saía pela tangente se ralando pela
vegetação, mantendo um semblante sereno. Eu passava pelas valas e pensava: será
que ela não vai se soltar da cordinha? E ela seguia sem parar! Fiquei fã dessa
menina!
Zero
trabalho para encontrar o PC 5, seguimos por estradão até o ponto de ataque à
trilha do 6. No azimute cravado, com um mundo de
trilhas pra tudo que era lado, seguimos até a distância prevista, nos deparando
com uma vegetação fechada. Aí a pessoa já tenta rasgar mato, imaginar trilha,
achar que dá pra passar, mas as coisas até que se resolveram de uma forma
tranquila. Achamos o rio de azimute paralelo à trilha e subimos de volta, em
sentido perpendicular, marcando distância até encontrarmos a trilha certa e bem
marcada. Daí, foi só seguir que encontramos o PC.
Sair do
6 é que foi coisa!!! Foi o quilômetro e meio mais longo da prova, rasgando mato
pelo leito do rio seco, pulando cerca, subindo barranco, até a vegetação dar
uma trégua e aparecer a estrada.
Foi depois
do 6 que encontramos Sertão, um cachorrinho que fazia parte de um grupo de
filhotes que brincava perto de umas casinhas. Ele nos seguiu por muitos
quilômetros. A cada parada para encher pneus ou fazer troca de câmera, era
uma cachorrada com Scavuzzi e Gaia. Apegados, eles puseram o nome Sertão,
brincaram, deram comida e água. No fim das contas, já com as patinhas
machucadas, Sertão seguiu na mochila de Scavuzzi, todo compenetrado, sem
reclamar de nada, só curtindo. Bem que eu avisei pra não dar nome! Quase que Scavuzzi resolve parar pra fazer a adoção de Sertão! 👀
Quando chegamos à Transição, fomos cortados para o último trekking da prova. Numa pausa estratégica, resgatamos a máquina fotográfica reserva no saco de abastecimento, comemos e nos abastecemos o suficiente para fazermos o trecho de Bike de 40 km até a chegada, passando pelos PCs 7, 8, 9 e 10.
Os meninos ponderaram por seguirmos direto, sem pegar PCs, mas consegui demovê-los da ideia. Afinal, não pegar PC obrigatório e/ou seguir direto pra chegada, só não desclassifica como antes, mas configura desistência no último PC marcado. Desistiu, vai pro fim da fila na classificação, isso é básico! O Regulamento Unificado facilitou a vida dos desistentes e dos puladores de PCs, lembrando que eu também não estou livre de uma situação assim, porque basta fazer Corrida de Aventura para estar sujeito a todos os intempéries, em pé de igualdade com os amiguinhos. Por falar nele, nunca entre no jogo sem ler o Regulamento, porque não dá pra mudar a regra do jogo de acordo com as suas necessidades. O Regulamento de um esporte é a sua Carta Magna. Leia antes de largar!
Na verdade, a diferença de percurso era quase nenhuma, entretanto, pegaríamos mais trilhas até o 8. Ademais, se fôssemos nos emprenhar pelos comentários, parávamos a prova ali
mesmo. O povo tava dizendo que era pura areia e pedra, que dava não sei quantas
horas pra chegar e tudo mais que vocês puderem imaginar. Realmente, o começo
não foi fácil, a gente sofreu um tantinho, mas, depois do PC 7, a coisa foi
melhorando. Depois do 8, virou estradão até a chegada. Sem contar que nenhum
desses PCs teve navegação complicada.
O pneus
ainda furavam. Não sei como conseguimos tantas câmaras de ar. Em algum momento,
lá pelo PC 7, “enxotei” Gaia de perto da gente, tendo em vista que sua dupla
poderia ser prejudicada por extrapolar o tempo de prova, de tanto que nossos
pneus deram problema. Todos os nossos recursos de suporte dos pneus haviam se
esgotado, os meus companheiros questionavam sobre nosso tempo de prova, queriam
saber quantos km faltavam... Eu nem sei porque disse que dava tempo. Também não
sei que milagre aconteceu que os pneus pararam de furar, como se não tivéssemos
mais espinhos.
No PC 8,
a máquina fotográfica de Scavuzzi começou a avisar que a bateria se esvaia, pra
não dizer que chegar até o fim foi fácil. Ai para!!! Por mais golpes de sorte
como os nossos! A Vaiselascar tirou a nossa última foto, no PC 10. Ufaa!
Refletindo sobre a prova e a vida, quero
falar sobre o poder de transformar o limão em limonada. Sobre 30 golpes de
azar, serem sobrepostos por 50 golpes de sorte. Azar é livramento, anote aí! É uma questão
de perspectiva de vida, que a própria vida ensina, com o tempo, com a
experiência. A Corrida de Aventura tem muito disso. Não é positividade tóxica! Espere, tenha calma, observe como tudo se resolve, a verdade aparece, as coisas clareiam, as ideias brotam.
Por fim,
nosso Desafio dos Sertões foi concluído em 24 horas, com a gente dando o gás nas
últimas retas, Scavuzzi puxando o ritmo, Lucas ajudando Mauro, a poeira subindo, os carros passando, o sol escaldando às 8 da
manhã, parecendo que ia dar meio dia. Chegamos felizes com o feito, comemorando as vitórias
do percurso, os livramentos, os golpes de sorte e a nossa amizade.
O
Desafio dos Sertões encerrou a sua edição 2025 com uma grande confraternização,
envolvendo atletas, amigos e familiares. Uma festa de arromba, com duas bandas, bebidas
à vontade, churrasco de bode. A gente se acabou de dançar, curtiu horrores e
voltou pra casa com muita história pra contar.
Parabéns
a todos os envolvidos, especialmente à Waltinho e Daniel, que sabem fazer festa
e prova de Corrida de Aventura, como ninguém!
Obrigada,
meus amigos Aventureiros, pela companhia e pela amizade! Fomos e somos maravilhosos
juntos!
Carini, Gabi, Fófis e Vítor, foi ainda melhor com vocês por perto!
À minha treinadora, Fernanda Piedade, todo o meu respeito e a minha gratidão! Melhor do que fazer bem a prova atual, é estar pronta pra próxima! 😎
Que bom que a gente tem a gente! 😍
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