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Trilha Sankantay- Dia 1- Mollepata a Soraypampa- 20km

   Logo cedo, às 4:20h, seguimos para rua Arcopata. Nas mochilas, o necessário para sobreviver por 3 dias de trilha e a muda de roupa para Machu Picchu. A mala grande ficou no Hostel. Num frio de doer, em meio à escuridão, um táxi apareceu do além, cobrando apenas 7 soles para nos levar até o ponto de vans. Um achado!
   A van saiu exatamente às 5 da manhã de Cusco para Mollepata. Enquanto não estava enxergando, tudo certo, mas o dia amanheceu e tudo mudou em minha vida. O motorista buzinava para avisar a quem estava vindo na direção contrária. Algo do tipo "Tô passando!". Fiz uma breve oração de precaução e mantive os olhos fechados. Quando a pista de asfalto acabou, a coisa ficou feia! A van serpenteava loucamente pela estrada de barro estreita, como se não houvesse amanhã. Ainda bem que o movimento para a Mollepata naquele horário era mais de ida do que de vinda. Dava um certo alívio mas cair daqueles penhascos seria o fim de todos nós.


   Mollepata tem pedágio de 10 soles para gringos. A van parou na entrada do vilarejo, eu e meu querido marido, com cara de pescador norueguês (naquela barba enorme que ele decidiu criar), descemos, pagamos o pedágio e entramos novamente para seguir por 5 minutos a mais.
   O motorista tentou nos convencer a ir até Soraypampa de van. E tivemos que negar ajuda por várias vezes, minha gente! Resistindo ao apoio externo a todo momento. Pessoalzinho estraga prazeres!!
   Na praça de Mollepata, o motô indicou o lugar pra tomarmos um café da manhã. Vale ressaltar que muita coisa por aquelas bandas está arrumada para grupos guiados. Então você precisa, algumas vezes, procurar alguém ou algo que não seja “exclusivo”.  
   Não gostei de ovos “revueltos” com tempero mas comi sem reclamar.
   Começamos a caminhada de Mollepata até Soraypampa às 7:30h, com um dia lindo de céu azul. No frio da manhã, a subida começava imediatamente no primeiro passo e a cada momento a paisagem ficava mais bonita. Não conseguia ficar de boca fechada de tanta ofegância... Pensei que ia morrer umas 5 vezes. Subiríamos mais de 1000m. Na paisagem de tirar o fôlego, as trilhas, sinalizadas com plaquinhas azuis, eram íngremes e sinuosas. A estrada, os penhascos e vales apareciam através da vegetação, que começou a ficar rasteira à medida que avançávamos.
   Com uns 6km de subida, apareceu um desvio para um mirante que dava pra ver o vale e ter noção do quanto tínhamos avançado. Paramos para contemplar, registrar o momento e fazer um xixi.


   No mirante seguinte, km 10 de subida, uma família super simpática conversava animadamente. De lá já dava pra ver o vale até Soraypampa, que ficava lá bem longe, bem pequenininha, com a pontinha do Salkantay ao fundo. Conversamos um pouco com a turma e seguimos por uma trilha que seguia por um canal, aproveitando a dica do guia que acompanhava a família. A água limpíssima descia ao contrário do nosso caminho mas eu tinha a estranha sensação de que nós que estávamos descendo... Uma coisa muito doida!! Olhava pra frente e via descida, mas a água vinha em nossa direção.


   Do lado direito, o vale com a estrada (carretera) serpenteando pra lá e pra cá. Do lado esquerdo o canal e o paredão da montanha.
   Enfim, chegamos em Soraypampa, um lindo vale na Cordilheira dos Andes.
   Por lá tem dois hotéis bem caros que só oferecem hospedagem para pacotes completos. Não atendem ninguém de fora e podem cuspir em você, caso tente aproximação, rs! Melhor não ir perguntar onde fica o camping. O pescador norueguês saiu de lá achando graça da pose do recepcionista.
   O vale tem uns três campings bem próximos. Um deles é um barracão azul grande que aparece em várias postagens que encontrei na internet. Como o dono estava completamente bêbado e sua esposa  super envergonhada, passamos reto até um outro barracão onde ficavam as mesas já prontas para a galera dos pacotes, que estava pra chegar. Tudo bonitinho mas... Passei os olhos de Fiscal de Vigilância Sanitária no lugar onde os cozinheiros estavam preparando o jantar e comecei a rezar para Nossa Senhora da Caganeira Profunda. Ali não dava nem pra Notificar, era Interdição Total em nome da Saúde Pública. Mas li em alguns blogs que a comida é muito gostosa. Deve ser!
   Enfim, um cozinheiro nos orientou a procurar D. Andrea, no fundo do barracão, onde tinha uma vendinha e uma casa. Conseguimos uma Tchoza, lugar que parece uma casinha de índio com chão de madeira, onde se monta a barraca dentro. Fica protegido do vento, da chuva e do frio. Do frio, mais ou menos, rs!
   D. Andrea ficou de preparar um jantar pra nós, enquanto subíamos pra ver a Laguna Humantay, que ficava a 1,2 km do acampamento, perto do céu. Sim! Estávamos tão bem, depois de mais de 7 horas de trekking, que montamos a barraca e iniciamos a subida. Entretanto, faltava fôlego! O coração batia no pescoço, perto da língua e nossas forças se esvaiam a cada passo. As pessoas lá em cima pareciam muito longe, e as de baixo, idem. Devemos ter subido 1/3 do caminho, nem sei ao certo. Um desgaste enorme! Vitor reclamava, falava em descer pra comer e voltar a subir. Eu achava que, se descêssemos não subiríamos mais. Embora insistisse em continuar, já sentia dor de cabeça e tontura. Nós dois estávamos na mesma situação. Batia um sentimento de frustração enorme, como o de desistir de uma corrida. Voltamos arrasados! Queria muito ver a Laguna mas não deu mesmo.
   Pior é que o jantar de Dona Andrea não desceu de jeito nenhum. Sentíamos um desconforto inexplicável. E resolvemos levar o prato pra barraca pra comer depois de descansar um pouco. Como a sensação desagradável aliviava muito lentamente, tomamos apenas um café com leite e fomos dormir para enfrentar o segundo dia de caminhada.
   Mesmo felizes em termos conseguido fazer os 20km do primeiro dia, refletimos muito naquela noite. Vitor falava em usar o serviço de mula para carregar nossas mochilas mas não dei muita atenção porque sabia que mudaria de ideia quando amanhecesse. De vez em quando ele fala umas bobagens dessas nos momentos de aperto... basta descansar um pouco que isso passa. Corrida de Aventura também tem dessas coisas... A gente fala umas bobagens mas nada como um breve descanso pra mudar de ideia e seguir em frente com o objetivo.
 
 



Comentários

Lucy disse…
O mal da montanha é mesmo sinistro. As carreteiras perigosíssimas e os motoristas são mesmo muito loucos. Também não gosto do serviço de mula. Acho que cada cidadão tem que dar conta de sua própria bagagem. Estou curtindo essa aventura, Lulu! Uma delícia.

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