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Do mato vim, para o mato voltei!







Enquanto espero as meninas(Penélopes) escreverem como começaram em Corrida de Aventura, eu conto mais umas estórias pra vocês.
Foi um verdadeiro redescobrimento naquela primeira Corrida de Orientação!! Me senti quase em casa! Nasci, praticamente, na roça. Passava parte das férias na casa da minha avó e outra parte na Fazenda dos meus pais. (Prefiro chamar de roça mesmo!) Não era fazenda. Ambas ficavam em beira de estrada. Plantava-se para comer. O leite da vaca era só pro uso da casa.

Na casa da minha avó tinha dois pés de café, um de maracujá, lima, limão.. Tinha chiqueiro. As galinhas ficavam soltas a perambular. O burro só era usado para as necessidades da roça. E eu participava de tudo que qualquer pessoa pode imaginar que se faz na roça, desde os afazeres domésticos, que eram seguidos quase em forma de ritual, até a plantação de fumo e mandioca.

A casa de farinha funcionava de quarta a sexta. Não perdia nada! Raspava mandioca direitinho, mexia farinha e ficava fuçando onde não me deixavam mexer. Descia um ladeirão enorme pra trazer água da fonte pra casa e ainda voltava toda metida com a lata d’água na cabeça apoiada numa rodilha(aquele pano que enrola e coloca na cabeça pra apoiar a lata.). Pois é! Eu carreguei lata d’água na cabeça! A ladeira era tão íngreme e cheia de pedras que, algumas vezes, pegava no chão pra subir. Também lavava a roupa no rio perto da fonte. E, quando enjoava do trabalho, (Criança enjoa rapidinho de lavar roupa.. RS!) catava jenipapo para comer cortadinho com açúcar na hora do lanche. Também dava pra pescar uns camarões com “jereré” naquele rio raso. Sem contar com o banho, que era imperdível.

Participava também de todos os procedimentos de produção do café e do dendê que serviam apenas para uso dos moradores da casa e poucos amigos. Amava moer o café no pilão! Tem mais! Eu ia pra plantação de fumo e também aparecia no dia que estava marcado para enrolar o fumo pra vender na feira.

Gente! Minha avó era daquelas doceiras que iam até a festa da igreja com o tabuleiro na cabeça pra vender seus kitutes. Ela e mais umas três ajudantes passavam uns dois dias fazendo bolachinha de goma, cocadinha, bolos de todos os tipos. Tudo no forno à lenha. E no domingo acordavam às 4 da manhã pra ir até o vilarejo onde a festa acontecia. Fui uma certa vez a um lugar chamado Panelas. Tenho curiosidade de, um dia, refazer o percurso pra ver quanto andei mesmo. Não sei ao certo quantos quilômetros dava até lá, mas lembro que foi uma caminhada bem árdua para uma menina de 7 anos. E minha avó ainda andava com um tabuleiro enorme na cabeça. Ela era tão braba que me tratava como se eu fosse daquele mundo e aguentasse o tranco. Sei que fazia de tudo, me ocupava horrores, sem ter muito tempo pra sentir saudades. Acho que até uns 10 anos ainda fazia isso... Passava sempre mais de um mês na casa da minha avó. Mas, quando faltava uma semana pra minha mamãezinha me pegar, começava a dor no peito. Passava as tardes debruçada na janela olhando o pedacinho de estrada que dava pra ver lá de cima, na esperança de ver aquele chevete Marajó aparecer pra me resgatar do mato.

O que não falta é estória de mato em minha vida! Acho que é por isso que passo tanto tempo pelo mato afora sem me fazer a velha pergunta : “Que diabos estou fazendo aqui?”

Comentários

Marcio Neri disse…
Ainda me lembro do primeiro dia que saímos pra correr em Vilas e o seu batimento chegou a 190 nos primeiros 500m correndo pianinho... Nem parece essa mulher que se diverte correndo, fala parecendo que não precisa respirar e continua rindo depois de 24 horas correndo no meio do mato!!! Fico feliz em ter contribuído para esse reencontro com vc mesmo! Grande Beijo, Xuxu
Lucy disse…
Lindo post, Lu. A parte de você que postou aqui revela e explica muita coisa. Sua fibra, coragem e determinaçao tem nome e sobrenome: Catu de Abrantes!
Bjs
Anônimo disse…
Lu, além tudo, me encanta a poesia. Você é suave apesar de "Agreste" e eu a admiro por isso. Parabéns e boa sorte! Lu Ribeiro

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