Pular para o conteúdo principal

Batalha Contra Relógio- 25 de outubro de 2020


Na Batalha de fevereiro desse ano estávamos num retiro de meditação Vipássana de 10 dias. Dez dias sem falar absolutamente nada, nem olhar pra ninguém, que me custaram reflexões profundas sobre minha vida, meu comportamento e sobre o que importa pra mim. Foram 10 dias olhando pra dentro e conversando com meus botões. Sinceramente, não acredito em mudanças com uma viagem, muito menos em transformação milagrosa, mas posso afirmar que aqueles dias foram tão intensos quanto uma Corrida de Aventura de 5 dias. De lá, saí transformando, mudando o que considero importante pra mim. Talvez essa mudança demore tanto de acontecer que não dê tempo nessa vida, talvez não. O fato é que sou a pessoa mais importante da minha existência, preciso estar equilibrada e cuidar da minha vida. Por tabela, as pessoas que amo profundamente, estarão equilibradas e se sentirão seguras para seguirem suas vidas compreendendo seu tanto de importância em suas próprias vidas. Cada ser é senhor do seu próprio destino. Vixe!! Que profundidade de pensamento! 🧘🏽‍♀️

...

A Pandemia nos obrigou a fazer ginástica em casa, na frente da televisão, tirando os móveis do meio da sala. Nos forçou a cuidar melhor das nossas vidas e uns dos outros. Entre a cozinha, a faxina, a lavagem dos banheiros, das roupas, o mercado, as aulas online, o trabalho em casa e na rua, o confinamento, as máscaras... o tempo foi passando e a gente nem percebeu.  Tem sido um tempo bom pra nossa família! Estamos aproveitando muito bem esse momento de serenidade em grupo.

Tanta saudade de fazer Corrida de Aventura que começamos a fazer grandes planos antes da trégua da Pandemia. Retomamos os treinos com a Tia Fê, nossa treinadora mega power, logo que pudemos, e decidimos continuar vivendo intensamente, enquanto a saúde está em dia e as coisas parecem sob controle. Parecem! 🤩

Sobre a Batalha Contra Relógio...

Arnaldo sempre inovando, ousando. Lançou a Batalha Contra Relógio, trazendo a ideia da Haka (prova tradicional de São Paulo), fomentando a retomada do esporte na Bahia, com a segurança que precisávamos no momento. Graças a isso, a Federação se animou e outros organizadores também. Das inovações, poder escolher a data pra correr e ter categoria Solo me encheram os olhos. A última vez que fiz uma prova Solo foi em 2007. Lembro que meu coração quase saiu pela boca num pega com Sana (Airasana Busato), uma das melhores atletas que já tive oportunidade de ver em ação. Ela é artista plástica, parecia que via o mapa em 3D. Nessa ocasião, largamos todos juntos, não tinha pandemia.

A melhor data? Não pensei duas vezes! Meu aniversário. Ainda inscrevi minha Tiloca em dupla com sua melhor amiga (Duda) para correr de Penélopes. Consegui a bike de Babi pra uma, a bike de Hugo (filho de Arnaldo) pra outra e providenciei dar conta de levar tanta bicicleta pra corrida, já que tinha vendido o carro. Como plano B, reservei 4 vagas na carretinha de João, que tem lugar pra 12 bicicletas. No fim das contas, ainda sem carro, o plano B virou o único plano. Mão de obra retada! Fizemos várias viagens pedalando, dirigindo, revisando bikes, subindo e descendo até resolver tudo. As bicicletas ficaram com Arnaldo em Imbassaí, que deu conta de cuidar pra que estivéssemos com elas na hora da largada. E nós aqui agradecemos!

Embora a logística de uma Corrida de Aventura de 40km seja bem simples pra mim atualmente, precisei considerar que o que organizasse tinha que ser pra 3 pessoas. Até largar, eu não era Solo, era trio.

Minha tranquilidade se esvaiu quando recebi o mapa, dois dias antes da corrida. Ainda sem os PCs plotados (exceto o PC4), tivemos um Briefing bem objetivo com Arnaldo. A preocupação não foi tanto por mim... Passou de tudo nessa minha cabeça de vento doida. Que ideia louca fazer corrida no meu aniversário! E se eu me machucasse bem no meu aniversário? E se as meninas se machucassem? E se ficassem perdidas até de noite? E se...? Que invenção? Onde eu estava com a cabeça? 🤯

Só parei de ficar agoniada quando procurei o que fazer. Como minha avó dizia: “mente vazia é oficina do diabo”. Bastou começar a pensar em tudo que precisava fazer pra deixar as meninas seguras, dentro das incertezas que uma CA oferece, que a coisa fluiu melhor.

Domingo, 25 de outubro de 2020...

Eu podia escolher acordar mais tarde no dia do meu aniversário, blá, blá, blá...

Levantei às 4h pra me embrenhar pelos matos, sem poder receber parabéns de ninguém, sem me pendurar no celular pra ver nada. Uma escolha acertadíssima!

Chegamos em Imbassaí um pouco antes das 7h. Tempo suficiente pros vinte minutos antes da largada, ter acesso ao mapa, plotar os PCs, plastificar e partir. O planejamento ficou pelo caminho mesmo.


Mesmo largando no mesmo horário das meninas, fui embora olhando pra trás. Elas ficaram na esquina, navegando, parecendo tranquilas pra seguir sem que eu interferisse.

Corri muito tempo olhando pra trás. Saí da Vila, alcancei a praia e corri a praia inteira olhando pra trás. Acabei subindo pra o PC1 um pouco antes da hora e isso me custou um perdidão ridículo. Ao cair no lugar errado, subi de volta pra praia, fiz a conta errada e acabei subindo nas dunas 1km depois. Do alto, à minha frente, obviamente, a ponte estava bem longe de mim. Só que dessa vez, voltei pelo coqueiral pra não correr o risco de fazer mais merda. Logo, PC1, ok! 

Atravessar a ponte requeria elegância e leveza. Tudo desmoronando, algumas madeiras escorregadias, outras sequer existiam. Aí a pessoa tem que botar tudo pra cima pra não molhar e torcer pra não cair num buraco. Meu lado feminino aflorava, a menstruação parecia um rio e, claro que a travessia causaria transtornos.

Quando comecei o trekking do outro lado do rio, os meninos que largaram 20 minutos depois de mim me aatropelavam. Bruninho e companhias na brutalidade total! Navegação ok, PC2 na mira. Legal esse negócio de QRcode no celular! Curti muito. Tirei fotos nos primeiros PCs pra garantir, depois vi que era muito seguro.



No caminho pro PC3 tinha um trechinho de riacho com a água no quadril, com uns troncos escorregadios. Nessas horas pensava nas meninas. Fiz o trekking todo pensando nelas. Será que me odiariam por essa aventura?

Escolhi atacar o PC4 por cima, embora já tivesse planejado mentalmente ir por baixo. Nem sei se era mais longe. O fato é que, intuitivamente, segui, desci pela trilha, passei por um charco e subi novamente. Lá em cima, pulei uma porteira, localizei a bifurcação, joguei no azimute e seguir. Aí me deu uma ziguizira meio esquisita porque minha bússola tem uma bolha enorme. Desconfiada por uns instantes, indecisa por segundos, entretanto, bastou olhar pra frente. PC4, super ok!

Eu ia voltar pela estrada logo ali. Não queira pegar mais areia mas segui por mais um trecho até a segunda saída. Correndo pelo asfalto, entrei na Vila novamente até encontrar o PC5, depois a transição.

A primeira coisa que fiz foi perguntar pelas minhas meninas, que ninguém tinha visto. A segunda coisa foi perguntar pelo banheiro pra trocar o absorvente. O banheiro foi interditado por algum tempo, justo enquanto estive na transição. Não tinha banheiro, nem achei o absorvente. Quem disse que lembrava onde tinha colocado? E não sei dizer pra vocês porque não fiquei preocupada com isso. O banco da bicicleta é preto. Vergonha, vergonha mesmo, eu não ia passar.

Pronto! Partiu pedal, plotei o PC6 na esquina errada. Afff! Muita lerdeza num ser humaninho só! Depois de perder uns minutos, achei o PC na esquina seguinte. E também encontrei meus Aventureiros, Gabi e Marcelo, que só chama Gabi de Lu (e o contrário também). Acho uma viagem porque ele conhece a gente demais! Não dá pra entender a razão da troca de nomes.

No caminho pro PC7, ouvi alguém gritar “MÃAAAAE!”. Num misto de emoção e orgulho, parei pra vê-las saindo da trilha, perguntei se estavam bem, joguei vários beijos e fui! Vi também que elas estava perto de Vilminha, uma querida que corre na Papa Trekking. Realmente parecia tudo ótimo!

A primeira coisa que fiz quando entrei na Vila foi procurar um banheiro pra avaliar minha situação. Como não tinha absorvente, liguei o FODA-SE! Tomei até uma coca-cola bem geladinha e fui! Corri o resto da prova toda sem nada pra segurar o rio que saia de mim. Só pensava que, se aparecesse um bicho que sentisse cheiro de sangue, a coisa ficaria feia. 😂😂😂


Arnaldo e Togumi, o fotógrafo mais fofo das galáxias, passaram por mim pela terceira vez, monitorando bem a prova, tanto com fotos, quanto perguntando se estava tudo bem. Sem dificuldade alguma, encontrei o PC7. Chegando lá, Rafa (da Tarzans Adventure) sacudia o braço, dizendo que estava com câimbra. Nem sei se era câimbra no suvaco mas entendi isso. Morri de rir! 😆😆

Uma coisa legal dessa prova, foi que a navegação permitia alternativas de caminho para os PCs. Escolhi entrar para o PC8 sem dar a volta maior, que seria seguir direto e virar à esquerda mais adiante. Talvez eu tivesse subido menos ladeiras e não tivesse entrado num charco. Gente, muita ladeira!! Só sei que encontrei o PC com precisão de um cirurgião. E encontrei várias pessoas também, inclusive meus queridos da Caatinga Trekkers com sobrenomes diversos, exatamente no momento em que procurava uma entrada pra dar um pulo do gato, poupando alguns quilômetros de subidas e descidas. Quanta subida! E que momento providencial pra deixei de ser solo!

Tinha certeza de que precisava entrar naquele sítio pra achar a trilha do outro lado. Chegamos a ir em outra direção, até entrar numa propriedade, cujo dono ficou muitíssimo furioso por estarmos ali. Isso nos custou um tempinho que o GPS Trekking vai dar conta de nos denunciar sobre nossas escolhas. Todavia, voltamos ao "meu" sítio, achando a bendita trilha.

Seguimos juntos e separados. Confesso que ir com outros me deixa meio atrapalhada. Essa sensação de navega não navega é meio esquisita. Acabava dando umas paradas pra conferir meu mapa... O fato é que do PC 8 até o 10, foram tantas puladas de cercas e porteiras que não sei o que seria de mim sem os Caatingueiros. Além do mais, não posso negar que me diverti muito! No caminho pro PC9 rolou um refresco no rio, até protetor solar Débora passou em mim, sem contar com as “tiradas” de Evinho.

A natação do PC10, além de refrescante, foi questão de necessidade mesmo, pra eu não chegar toda “breada” na chegada. Chegando ao PC11, a umidade da natação no meu celular prejudicou a leitura do código. Meus amiguinhos foram embora, acabei tirando uma foto e seguindo agradecida aos Caatingueiros pela companhia, alegria e disposição! Fofos demais!

Acabei chegando solo, assim como saí, depois de 7h de prova. E minhas meninas chegaram poucos minutos depois de mim, para o bem de todos e a felicidade geral da nação. Lindas, felizes, sorridentes e limpinhas! Parecia que nem tinham feito nada.


Além da alegria das meninas, de presente de aniversário, ganhei uma pequena festinha na casa de Jana, que fez um bolo lindo pra gente cantar os parabéns. E estava todo mundo lá.


 Pois é, minha gente! A Corrida de Aventura faz tanto parte da minha vida que até casar numa eu casei. Agora foi um aniversário...

Arnaldinho, parabéns pela prova e pela iniciativa! Esse intercâmbio de ótimas ideias nos favorece demais! Curti a aventura do início ao fim, inclusive o uso da tecnologia! Mapa bem feito, PCs bem posicionados, trechos técnicos nas modalidades, ladeiras pra todos os gostos na bike. Foi uma Corrida de Aventura com um novo normal que espero que não vire habitual, mas que não perdeu seu brilho por causa disso. Dava pra sentir o acolhimento da equipe mesmo sem os abraços e a vibração dos atletas no brilho nos olhos e nas fotos. Proporcionar prova com qualidade técnica e plástica atrativa não é pra qualquer organizador. Parabéns e obrigada por tudo, inclusive e principalmente, pela sua amizade! 

Só pra lembrar, amo meus Aventureiros! Citar nomes é complicado mas preciso agradecer especialmente a Jana, que é aquela pessoa agregadora, que arruma a vida dos dela e dos outros, e chama todo mundo pra correr. Valeu pelo bolo lindo, gostoso e colorido!

Um beijo pra quem é de longe, um beijo pra quem é daqui! Meu desejo é que todos estejam bem, felizes, equilibrados e cuidando de suas vidas, para que logo possamos desfrutar de muitas aventuras, com uma largada cheia de gente, aglomerada, naquela vibe de contagem regressiva e aquela buzina “FOOOOMMMMM”. E que na chegada a resenha seja permitida até qualquer hora... Só alegria!

Até breve!

Luciana

**As fotos identificadas foram tiradas por Togumi do site www.adventuremag.com.br onde tem muito mais de outras equipes. Vão lá nas fotos da Batalha que vocês vão amar!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Desafio dos Sertões 2023- 140km

  Que o Sertão é um dos lugares mais inóspitos à sobrevivência humana, a gente já sabe! Que você precisa ser forte pra enfrentar a caatinga, ter resiliência, coragem, foco, determinação, também. Que o Rio São Francisco é um gigante que impõe, acima de tudo, reverência, sabemos. Querer ir lá pra experimentar tudo isso e ainda gostar, é outra história! E lá estávamos nós, no Desafio dos Sertões, nos 140km de aventura, entre mountain bike, trekking, natação, canoagem, tudo com navegação com mapa e bússola.  Nos últimos tempos, temos alternado bastante os atletas da equipe, menos eu e Mamau, que somos fominhas de prova. Mas, brincadeiras à parte, Vitor e João estão afastados por questões pessoais. Então, Lucas, nosso novinho da Turma 12 da Escola de Aventura, continuou com a gente, depois da Carrasco. Além disso, Arnaldo, da Olhando Aventura, veio fechar o quarteto, reforçando nosso time com sua experiência. Reunimos, alinhamos objetivos, organizamos a tralhas e partimos pra Juazeiro

UTCD 2023- 80km

   Não tenho um pingo de vergonha na cara. Da última vez que fiz a Ultra Trail Chapada Diamantina (UTCD), disse que machucava muito os pés e que preferia fazer Corrida de Aventura… Como se Corrida de Aventura machucasse menos. 😂    Esse ano, eu corri todas as provas do Campeonato Baiano de Corrida de Aventura, menos a Expedição Mandacaru, porque estou envolvida na organização. Então, pra fechar com chave de ouro o meu ano esportivo e comemorar meus 52 anos, decidi correr a UTCD.     Tudo bem! Eu amo correr, mas precisava ser 80km? Aí é que vou contar pra vocês…    Já que eu estava indo e já tinha feito 50km, decidi me desafiar nos 80. Fiz minha inscrição e ainda joguei minha filha no bolo, nos 35km, que depois ela mudou pra 14, por que não estava com tempo pra treinar o suficiente. Eu queria brincar o brinquedo todo!    Depois de um fim de semana de muito movimento na Expedição Mandacaru, lá estávamos nós, na semana seguinte, acampados em Mucugê, de mala e cuia, com boa parte da famíl

Carrasco Histórias- 150km

  Formamos o quarteto com Lucas e Elvis, ex-alunos da Turma 12 da Escola de Aventura do Agreste, pra correr a Carrasco, porque Vitor e João não puderam ir conosco. Eles aceitaram de cara, mas não lembro se, de cara, contei que seria sofrido. Acho que sim! Devo ter contado. 😇 QUARTETO Luciana, Maurício, Elvis e Lucas Fizemos reunião de alinhamento, treinamos as principais modalidades. O treino de canoa caiçara em Ilha de Maré foi uma aventura à parte, nos divertimos horrores, tomamos vários caldos, a canoa encheu de água, foi um fuzuê! Sem contar que dar a volta na Ilha inteira, correndo, foi muito massa! Também fomos pra Itacimirim remar de canoa havaiana com nosso amigo Paulo da @whanaucanoeclub, que deu váaarias dicas valiosésimas pra gente se entender na remada em quarteto. Cachoeira é pertinho de Salvador. A cidade está muito lindinha, bem cuidada, charmosa, valorizada. Teve até tour com os atletas até chegar ao mapa. A prova poderia ser com apoio ou poderíamos deixar os sac