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Vale do Capão- Parte I- Cachoeira da Fumaça


   
   Nunca será demais ir à Chapada Diamantina umas trezentas vezes. Dá para unir treino a passeio, curtir a natureza, andar por aí de bicicleta ou à pé, tomar banho de cachoeira, respirar ar puro, conversar com as pessoas da Vila, conhecer seus costumes. Por tudo isso e muito mais, eu e Vitor decidimos passar uma semana de férias no Vale do Capão. E, como adoro compartilhar aventuras, vou postar três passeios/ treinos que fizemos por lá. Quem sabe, algum leitor não se anima, larga tudo e sai por aí...
   Cachoeira da Fumaça foi a escolhida para o nosso primeiro dia de trilha. Depois de um bom café da manhã, arrumamos umas comidinhas (leia-se barras de cereal, castanhas e coisas de gente doida que faz trilha), compramos água no mercadinho da esquina e partimos para o mato. 
   O tempo estava ótimo para uma caminhada! Poucas nuvens depois de uma noite de chuva que serviu para deixar a paisagem mais verde e baixar a poeira da estrada.
   Para chegar à trilha da Fumaça, a gente tem que subir uma ladeira de uns 2km. Melhor ir andando a pegar o carro naquele paraíso. Em meio aos carros e motos que derrapavam na lama magnética, comentávamos sobre a trilha do dia seguinte. Nossos tênis ficaram com solados grossos de lama, pesados e escorregadios. Ficou difícil de subir até andando, imaginem de bicicleta...
   Todo mundo que vai pra Fumaça tem que escrever o nome no livro da Associação de Condutores da Chapada, que fica na entrada da trilha, para o caso desaparecimento. Registramos nossa passagem e seguimos num ritmo de trekking constante pra ver quanto tempo dava de um ponto ao outro. Animados com a paisagem, a cada olhadinha pra trás (Na verdade a gente fingia que parava para olhar mas, era para tomar fôlego, rs!) o vale ficava mais fundo e longínquo. As casinhas diminuíam de tamanho, os morros apareciam lá longe, inclusive o Morrão, que fazia parte do nosso roteiro do dia seguinte.
   Lindo de viver! Ofegante também... Aquilo tudo é muito alto, bem acima do nível do mar. E a pessoa tem que se acostumar a respirar, convocar as hemácias pra levar oxigênio pro cérebro pra evitar um custipio. Até chegar ao topo a pessoa acaba se acostumando e pegando fôlego. No platô volta tudo ao normal, a natureza devolve o sacrifício com beleza e ar puro da melhor qualidade. É como uma visita ao céu, um silêncio que lhe convida a calar, que amansa o corpo inteiro, até a respiração.
   Optamos por fotografar só na volta. O percurso de ida durou uma hora e quinze minutos. Não tem dificuldade de navegação para chegar à Fumaça! Sobe, sobe, sobe, anda pelo platô, passa por três riachos, depois pelo rio da própria cachoeira e lá está ela... Imponente, suntuosa, elegante, assustadora... Sempre tenho a mesma sensação: Sou tão pequena diante daquilo tudo! A cachoeira estava entre nuvens.
   É preciso ter coragem pra chegar rastejando até a beira para admirar o que tem lá embaixo. São quase 400m até um lago que, visto de cima, parece uma pocinha. A água não tem força para chegar até o lago como água. Vira fumaça. As nuvens saíram de cena um pouquinho, só pra gente admirar o vale, depois voltaram novamente. À propósito, as nuvens deram um charme especial à Cachoeira da Fumaça! Pareceu outro lugar, conseguiu ficar ainda mais linda, como se isso fosse possível. As fotos ficaram lindas demais!
   Lanche, fotos, contemplação... Aquela imensidão insiste em lembrar do quanto somos pequenos. Uma imensidão que nos convida a meditar, a agradecer por estarmos ali. Deu até saudade agora...
   Pena que não dá pra morar na Cachoeira da Fumaça, rs! Fizemos todo o percurso de volta com paradas para fotografar e contemplar. Escrevemos nossos nomes naquele caderninho outra vez, sinalizando que voltamos do passeio no mato e quase rolamos ladeira abaixo pra Vila, rs! Dessa vez a lama estava secando e nenhum veículo automotor escorregava loucamente. Mesmo assim, não dava pra esquecer de que passaríamos por ali de bicicleta no outro dia... Aliás, aquilo nos deu uma ideia melhor: Decidimos pegar as bicicletas e “provar” a ladeira naquela hora mesmo, já pra desmistificar o problema.
   Mas, e a fome?? Tudo bem então! Fizemos o sacrifício de almoçar aquele PF delicioso da Dona Belí, pegamos as bicicletas e voltamos na ladeira íngreme e escorregadia. Que já não estava tão escorregadia mesmo. E nem era essa dificuldade toda, bastava respirar direitinho e ir devagar. Além disso, aproveitamos para ir um pouco mais longe e observar a entrada para a trilha do Morrão...
   Uma voltinha de bicicleta só pra refresco... O dia seguinte nos esperava! Nossos planos estavam traçados. O “A”, o “B” e o “C”, rsrsrs! Porque quem planeja pedalar 80km precisa de planos em vários níveis...

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